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Manifestações no Oriente Médio contra Charlie Hebdo

Milhares de muçulmanos protestaram após a tradicional oração de sexta-feira contra a publicação de caricatura do profeta Maomé, feita pelo jornal francês

Manifestantes protestam contra o jornal Charlie Hebdo em Peshawar, Paquistão (Fayaz Aziz/Reuters)

Manifestantes protestam contra o jornal Charlie Hebdo em Peshawar, Paquistão (Fayaz Aziz/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 16 de janeiro de 2015 às 19h56.

Amã - Milhares de muçulmanos protestaram no Oriente Médio, na África e no Paquistão nesta sexta-feira - após as orações - contra a publicação pelo jornal satírico francês Charlie Hebdo de uma caricatura do profeta Maomé.

As manifestações mais violentas ocorreram em Zinder, segunda cidade do Níger, onde quatro pessoas morreram e 45 ficaram feridas.

Os mortos são três civis e um guarda, todos baleados, informaram uma fonte médica e o ministro do Interior, Massaudu Hassumi.

Segundo a Rádio Nacional, 22 agentes das forças da ordem e 23 manifestantes ficaram feridos.

Os protestos, convocados em Zinder via SMS, degeneraram em violência, especialmente com o incêndio do Centro Cultural franco-nigeriano (CCFN) e o ataque a três igrejas, uma católica e duas evangélicas.

No Paquistão, a manifestação realizada em frente ao consulado da França em Karachi terminou em confrontos em que um fotógrafo da AFP ficou gravemente ferido.

Em Amã, 2.500 manifestantes, membros da Irmandade Muçulmana e outras organizações, realizaram uma passeata sob forte esquema de segurança. Os manifestantes carregavam bandeiras, numa das quais era possível ler "ataques ao grande profeta provocam o terrorismo mundial".

A Frente de Ação Islâmica, principal partido da oposição e vitrine política da Irmandade Muçulmana na Jordânia, afirmou na quarta-feira que "o ataque à pessoas do profeta (...) é um ataque a todos os muçulmanos em todo o mundo".

Charlie Hebdo publicou na quarta-feira em sua capa uma nova caricatura do profeta Maomé com uma lágrima no olho segurando um cartaz "Je suis Charlie" e sob os dizeres "Tudo está perdoado", em referência aos atentado que fizeram 17 mortos na semana passada em Paris, incluindo 12 durante o ataque à revista.

O rei Abdullah II da Jordânia, que participou no domingo da passeata em Paris contra o "terrorismo", chamou na quinta-feira a revista de "irresponsável e inconsciente".

Na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém Oriental, parte palestina anexada e ocupada por Israel da Cidade Santa, centenas de muçulmanos palestinos protestaram nesta sexta.

"O Islã é uma religião de paz" e "Maomé será sempre o nosso guia", podia ser lido nas faixas carregadas pelos manifestantes.

O grande mufti Mohammad Hussein, que conduz a oração que contou com cerca de 35.000 participantes, não citou Charlie Hebdo. Na quarta, ele denunciou um "insulto" aos muçulmanos e condenou "o terrorismo sobre todas as formas".

Confrontos no Paquistão

O Paquistão, segundo país muçulmano mais populoso do mundo, condenou oficialmente o atentado na semana passada contra a revista. Mas, nos últimos dias, uma manifestação em Peshawar (noroeste) rendeu homenagem aos irmãos Cherif e a Said Kouachi, autores dos atentados.

Após a nova publicação da revista, os partidos islamitas paquistaneses convocaram manifestações para denunciá-la.

Em Karachi, violentos confrontos entre a polícia e manifestantes causaram vários feridos.

A polícia efetuou disparos de advertência e utilizou canhões de água para dispersar os manifestantes.

Um fotógrafo da France-Presse foi gravemente ferido por um tiro durante os confrontos. Asif Hassan foi atingido por uma bala em um pulmão e levado ai hospital de Khinnah, onde foi operado.

"A bala atravessou um pulmão e saiu pelo tórax", declarou à AFP Seemi Khamali, porta-voz do hospital.

Segundo a polícia e várias testemunhas, a bala partiu do local onde estavam os manifestantes, mas não há confirmação desta informação.

Outras manifestações foram realizadas em Islamabad, Lahore (leste), Peshawar (noroeste) e Multão (centro).

Religião de paz

Em Cartum, centenas de fiéis manifestaram após a grande oração. "Expulsem o embaixador da França, vitória ao profeta e Deus", gritavam.

Em Túnis, fiéis deixaram a mesquita al-Fath quando o imã Nureddine Khadmi, ex-ministro dos Assuntos Religiosos, ainda nem havia terminado sua oração consagrada ao profete e ao atentado contra a Charlie Hebdo.

"Somos contra todo ataque a nosso profeta, mas isso não é uma desculpa para matarmos pessoas. O que aconteceu (o atentado) é contra o Islã, que é uma religião de tolerância", declarou o imã.

No Catar, a União Mundial dos Ulemás, dirigida pelo pregador Yussef al-Qaradaui, convocou "manifestações pacíficas" e criticou o "silêncio odioso" da comunidade internacional sobre este "insulto às religiões".

As autoridades desse país, que denunciaram fortemente o ataque contra Charlie Hebdo, "condenaram a republicação de caricaturas ofensivas do profeta Maomé", e afirmaram que a publicação de novas caricaturas alimentam o "ódio e raiva".

No Irã, onde as autoridades também denunciaram esta semana a capa da Charlie Hebdo, uma manifestação prevista para sábado por estudantes islâmicos foi cancelada sem explicação oficial.

De acordo com a agência de notícias Fars, os organizadores anunciaram que o protesto será realizado na segunda-feira em frente à embaixada da França em Teerã.

No Bahrein, o Ministério das Relações Exteriores condenou o "vergonhoso de republicar caricaturas insultantes" do profeta, dizendo que tal atitude "cria condições favoráveis para a propagação do ódio e do terrorismo".

*Atualizada às 20h55 do dia 16/01/2014

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