Salafistas egípcios gritam palavras de ordem durante protesto na Praça Tahrir, em 2 de novembro: "Pão, liberdade e sharia", pediam (AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de novembro de 2012 às 13h04.
Cairo - Cerca de 2.000 islamitas ultraconservadores realizaram nesta sexta-feira uma manifestação na emblemática praça Tahrir, do Cairo, para pedir a aplicação da "sharia" (lei islâmica), um assunto que gera intensos debates na comissão encarregada de redigir a futura Constituição.
"O Alcorão acima da Constituição", "Aplicação da sharia", estava escrito em alguns dos cartazes carregados pelos manifestantes pela praça que se tornou o símbolo da luta popular que derrubou o governo de Hosni Mubarak em fevereiro de 2011, constatou um jornalista da AFP.
"Pão, liberdade e sharia", pedia outro cartaz.
A Irmandade Muçulmana, do presidente Mohamed Mursi, e o principal partido salafista, Al-Nur, anunciaram que não participariam desta manifestação, batizada de "Sexta-feira da Aplicação da Sharia" e lançada por grupos fundamentalistas, como a Frente Salafista e o Gamaa Islamiya.
Os manifestantes pediam nesta sexta-feira o reforço da sharia na futura Constituição egípcia. Os "Princípios da Sharia Islâmica" já haviam sido propostos como a fonte principal da legislação em uma Constituição que foi suspensa pelos militares após a queda de Mubarak.
Os ultraconservadores muçulmanos desejam substituir o termo "princípios" por "preceitos", ou diretamente por "sharia", ideia rejeitada por liberais e laicos.
Liberais, secularistas e a Igreja Copta, comunidade minoritária cada vez mais preocupada com a ascensão dos islamitas ao poder no Egito, rejeitam esta postura.
"Uma constituição que sugere a imposição de um Estado religioso no Egito é absolutamente rejeitada", afirmou o novo Papa da Igreja Ortodoxa Copta do Egito, Tawadros II, na segunda-feira, um dia após ser escolhido, informou o jornal independente Al-Watan.
A Irmandade Muçulmana prometeu que a nova Constituição faria referência à sharia, mas em terminologia sugerindo um compromisso.
Em outubro, um tribunal egípcio que deveria decidir o destino do painel constitucional repassou o caso a um tribunal superior, que já expressou sua oposição ao projeto.