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Mandela, o mais emblemático defensor dos direitos humanos

O líder, cuja sua luta contra o apartheid o manteve preso durante 27 anos, morreu nesta quinta-feira aos 95 anos


	Nelson Mandela e sua mulher Winnie levantam seus punhos em 1990: no dia 10 de maio de 1993, em uma histórica cerimônia, ele assumiu como presidente da nova África do Sul
 (Alexander Joe/AFP)

Nelson Mandela e sua mulher Winnie levantam seus punhos em 1990: no dia 10 de maio de 1993, em uma histórica cerimônia, ele assumiu como presidente da nova África do Sul (Alexander Joe/AFP)

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Da Redação

Publicado em 5 de dezembro de 2013 às 21h55.

Johanesburgo - Nelson Rolihlaha Mandela, ex-presidente da África do Sul e ferrenho defensor dos direitos humanos em sua luta contra o apartheid, que o manteve preso durante 27 anos, morreu nesta quinta-feira aos 95 anos.

Mandela nasceu em Mvezo, Umtata, capital de Trasnkei, em 18 de julho de 1918 e foi filho do principal conselheiro do chefe-supremo dos Xhosa, a tribo mais numerosa de Transkei.

Estudou Direito na Universidade de Fort Hare, onde se iniciou na atividade política, e foi expulso em 1940 por participar de uma greve de estudantes.

Esse fato, somado a um casamento arranjado por seu tutor, lhe motivaram a fugir para Johanesburgo, onde trabalhou um tempo como vigilante em uma mina.

Um ano mais tarde, terminou a faculdade Direito e depois fez um doutorado na Universidade de Witwatersrand de Johanesburgo.

Em 1944, ingressou no Congresso Nacional Africano (CNA) e se tornou um dos líderes das campanhas não violentas contra a segregação racial.

Naquele mesmo ano, se casou com sua primeira esposa, Evelyn Ntoko Mase, com quem teve quatro filhos (dois meninos e duas meninas, dos que só uma filha continua viva).

Em 1952 abriu em Johanesburgo, junto com Oliver Tambo, que depois seria presidente do CNA em 1967, o primeiro escritório de advogados negros e nesse ano protagonizou o primeiro ato de desobediência civil, no caso um desacato ao toque de recolher.


Em dezembro de 1956 foi detido acusado de alta traição e quatro anos depois foi absolvido após o julgamento no qual assumiu sua própria defesa e a dos demais processados. Já em 1958, casou-se com Winnie, com quem teve duas filhas.

Após o massacre de Shaperville, em 1960, na qual morreram vários estudantes negros, o governo proibiu o CNA e implantou o estado de exceção. Cerca de 1.800 pessoas foram presas sem julgamento, entre elas Mandela.

Após ser libertado, Mandela passou à clandestinidade e organizou greves contra o segregacionismo.

Em 1961 criou a "Lança da Nação", braço armado do CNA, do qual se tornou comandante-em-chefe e, um ano depois, viajou pela África para receber treinamento e obter fundos.

Em seu retorno à África do Sul foi julgado por abandono ilegal do país e condenado a cinco anos de prisão.

Enquanto estava na prisão, a polícia invadiu uma sede do CNA em Rivonia e deteve vários de seus membros, confiscando um documento denominado "Operação Mayibuye", no qual Mandela projetava uma estratégia de luta guerrilheira.

Durante o julgamento de Rivonia, em novembro de 1963, foi acusado junto com outras oito pessoas de conspiração para derrubar o governo e, em 12 de junho de 1964, foram condenados à prisão perpétua.

No dia seguinte, ingressou na prisão de Robben Island, em frente à Cidade do Cabo, onde permaneceu até 1982, quando foi transferido a Pollsmoor, na mesma cidade.

Nesse ano começou uma campanha internacional em favor de sua libertação, que acarretou primeiro uma reunião em julho de 1986 com altos representantes do governo, e depois em 1989 com o então presidente sul-africano, Pieter Botha.


Posteriormente, se reuniu com o novo presidente do país, Frederik de Klerk, e foi autorizado a receber visitas de dirigentes políticos.

Em 11 de fevereiro de 1990 - após árduas negociações com o governo, que queria que renunciasse à violência - foi libertado após 27 anos preso.

Em março desse mesmo ano foi eleito vice-presidente do CNA e em 1991 nomeado presidente do partido, em substituição de Oliver Tambo.

Após um referendo em março de 1992 sobre a reforma da Constituição e com um grande triunfo do "sim", em fevereiro de 1993 o governo e o CNA estabeleceram a criação de um Executivo de união nacional durante os cinco anos seguintes às eleições.

Em julho de 1993, Mandela e De Klerk fixaram a data das primeiras eleições livres para 26 de abril de 1994, e nesse dia 20 milhões de sul-africanos exerceram seu direito ao voto e terminaram com mais de 300 anos de domínio branco ao outorgar a Mandela 62,6% dos sufrágios.

No dia 10 de maio de 1993, em uma histórica cerimônia, assumiu como presidente da nova África do Sul. Um dia depois formou um governo de coalizão com De Klerk como segundo vice-presidente e Thabo Mbeki como primeiro vice-presidente.

A África do Sul começou a ter relações com 135 países e em junho de 1994 se integrou na ONU como membro de pleno direito após 20 anos de suspensão.

Em 16 de dezembro de 1997 disse adeus à política e no 50º congresso do CNA se despediu da liderança desse movimento.

Em 1998 se casou com a moçambicana Graça Machel, após ter se separado de Winnie anos antes.


Em março de 1999, já afligido por um câncer de próstata, se despediu do Parlamento e abriu passagem a Mbeki como novo presidente da África do Sul.

Mandela obteve o Prêmio Nobel da Paz (1993) e o Príncipe das Astúrias de Cooperação Internacional (1992), ambos partilhados com De Klerk, entre outros muitos prêmios.

Desde que deixou a política ativa recebeu constantes homenagens, uma delas em 2008, quando se celebrou seu 90º aniversário com um grande show no Hyde Park de Londres que recebeu o nome de 46664, o número que lhe identificava na prisão.

Em 11 de novembro de 2009, a ONU declarou o 18 de julho como o Dia Internacional de Nelson Mandela em reconhecimento a sua contribuição à paz e à liberdade.

Em junho de 2010, coincidindo com a abertura da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul, sofreu um duro golpe com a morte de sua bisneta em acidente de trânsito, mas, ainda assim, esteve presente no final entre Espanha e Holanda.

Em 26 de janeiro de 2011 foi internado em um hospital de Johanesburgo para exames rotineiros, o que voltou a repetir-se em fevereiro de 2012.


Menos de um ano depois, em dezembro de 2012, foi operado de cálculos na vesícula e tratou complicações respiratórias durante mais de duas semanas em um hospital de Pretória.

Mandela voltou ao hospital em 9 de março de 2013 para ser submetido, com um resultado satisfatório, a testes médicos de rotina.

A internação seguinte aconteceu em 27 de março, quando foi internado durante dez dias para ser tratado de uma recaída de uma antiga pneumonia.

Em 8 de junho voltou ao hospital "em estado grave mas estável", segundo o governo sul-africano por uma recaída em sua infecção pulmonar.

Na madrugada de hoje na África do Sul, 6 de dezembro, o Executivo anunciou seu falecimento, às 20h50 do dia anterior.

A última aparição pública do ex-presidente foi em 11 de julho de 2010 durante a cerimônia de encerramento do Mundial da África do Sul. 

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