Agência de notícias
Publicado em 8 de agosto de 2025 às 19h09.
Última atualização em 8 de agosto de 2025 às 19h50.
Mais de 1 milhão de migrantes em situação irregular deixaram os Estados Unidos por conta própria desde que o presidente Donald Trump voltou ao poder, afirmou nesta sexta-feira a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem. Desde janeiro, o republicano praticamente fechou a fronteira com o México, anunciou o envio de pelo menos 1,5 mil militares para a região e aplicou uma política migratória linha dura — que incluiu a criação de um aplicativo de incentivo à "autodeportação" em meio aos desafios logísticos para o governo implementar sua prometida campanha de deportação em massa.
— Acreditamos que mais de 1 milhão de pessoas voltaram para casa por conta própria desde que começamos este governo — declarou Noem em entrevista coletiva em Chicago, acrescentando que "sabemos que milhares e milhares de pessoas utilizaram o aplicativo” móvel CBP Home, usado para deportação voluntária.
Em junho, a Casa Branca anunciou o primeiro voo com migrantes que manifestaram interesse na "autodeportação" por meio do aplicativo. O programa oferece assistência para a viagem e US$ 1 mil (R$ 5,44 mil, na cotação atual) para os voluntários, que também teriam a possibilidade de retornar aos EUA no futuro. Mais de US$ 200 mil (R$ 1 bilhão) foram investidos em propaganda do CBP Home.
Na prática, as instituições americanas consideram duas modalidades de deportação: as remoções, quando o imigrante recebe uma ordem para deixar o país após terem se esgotado todos os seus recursos na Justiça, o que pode levar anos; e os retornos, quando alguém em situação irregular deixa os EUA voluntariamente antes de o processo chegar ao fim. A vantagem da segunda opção, viabilizada pelo CBP Home, é que o tempo de espera para conseguir pedir um visto americano novamente é de cinco anos após a deportação. Deportados pela via legal podem ter de aguardar ao menos dez anos para voltar ao país.
O aplicativo CBP Home é uma atualização do CBP One, criado anteriormente pelo governo do ex-presidente democrata Joe Biden, que tinha o objetivo de facilitar o agendamento de entrada legal no país para solicitantes de asilo. Com o aplicativo de Biden, em dois anos, mais de 900 mil pessoas foram autorizadas a entrar nos EUA, em liberdade condicional de imigração. Assim que Trump assumiu, porém, o recurso foi inabilitado e, em pouco tempo, substituído pelo CBP Home.
Noem também exaltou que o governo prendeu "centenas de milhares desses criminosos ilegais". Segundo ela, “mais de 70% [dos imigrantes] têm acusações pendentes ou condenações criminais, o restante tem ordens de deportação definitivas.”
— Realizamos operações policiais específicas em todo o país e usamos nossos arquivos de casos e informações para saber quem é um criminoso neste país que precisa ser deportado e quem tem uma ordem de deportação definitiva. Eles não cumprem a lei se estão aqui ilegalmente — reiterou, e insistiu que, se forem por conta própria, poderão retornar com um visto.
Nos últimos meses, as detenções de migrantes se multiplicaram no país, com batidas em tribunais, residências e locais de trabalho. Tamanha ofensiva levou a uma onda de protestos contra os agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês) em Los Angeles e outras cidades da Califórnia, uma das regiões com maior número de imigrantes dos EUA, especialmente latinos.
A secretária de Segurança Interna considera que a política migratória de Trump, que prometeu um recorde de deportações, é um sucesso total:
— Tivemos durante três meses consecutivos zero migrantes ilegais entrando nos Estados Unidos, o que constitui a primeira vez na história desta nação que vimos esse tipo de segurança na fronteira [com o México].
Para tentar alcançar seu objetivo, Trump decidiu reforçar o ICE. Em um pacote aprovado no mês passado, foi destinado um orçamento recorde para a agência, superando o do FBI.
— O presidente Trump nos designou recursos para contratar 10 mil novos oficiais do ICE. Temos mais de 80 mil candidatos para esses cargos — acrescentou Noem na coletiva de imprensa, na qual acusou governadores democratas de estados e cidades “santuário” de “obstruir” os esforços federais para expulsar migrantes.
As chamadas “cidades santuário” permitem que a polícia se recuse a cooperar com os agentes de imigração se não houver um mandado judicial e a compartilhar informações sobre migrantes em situação irregular se eles correm o risco de serem deportados.
Algumas ONGs também denunciam as condições degradantes nos centros de detenção de migrantes. Em um relatório, a Human Rights Watch (HRW) descreve celas superlotadas e migrantes dormindo no chão sob luzes neon acesas dia e noite, privados de higiene básica.