A região do acidente é o principal ponto de saída de embarcações com imigrantes que tentam atravessar o Mediterrâneo para chegar à Itália (Yara Nardi/Italian Red Cross/Handout/Reuters)
AFP
Publicado em 3 de julho de 2018 às 15h29.
Pelo menos 63 pessoas desapareceram em um novo naufrágio frente à costa líbia, no último drama da migração clandestina no mar Mediterrâneo, que eleva para quase 170 o número de desaparecidos desde sexta-feira (29).
Os 63 imigrantes desapareceram após o naufrágio de sua embarcação no domingo (1º), diante da Líbia, disse nesta terça-feira (3) à AFP o porta-voz da Marinha líbia, citando testemunhos dos resgatados.
Segundo o general Ayub Kacem, foram resgatados 41 migrantes que usavam coletes salva-vidas.
"A Guarda Costeira não encontrou corpos no local", afirmou.
Os resgatados contaram que havia 104 pessoas na embarcação, até naufragar próximo a Garabulli, cerca de 50 quilômetros ao leste de Trípoli.
Há meses, essa região é o principal ponto de saída de embarcações lotadas de imigrantes que se arriscam a tentar a perigosa travessia do Mediterrâneo para chegar à Itália.
Além dos 41 resgatados, um navio da Guarda Costeira líbia atracou na segunda-feira em Trípoli com outros 235 imigrantes a bordo - incluindo 54 crianças e 29 mulheres-, resgatados em outras duas operações na mesma zona.
O barco chegou com quase 24 horas de atraso por causa de uma avaria, explicou Kacem.
Na sexta-feira, foram recuperados os corpos de três bebês, e mais de 100 pessoas foram declaradas desaparecidas no naufrágio de sua embarcação, também frente a Garabulli.
Ao todo, 16 imigrantes, todos homens jovens, foram resgatados.
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), desde o início do ano cerca de mil pessoas morreram, tentando cruzar o Mediterrâneo.
"O número de mortos no mar frente à costa líbia aumenta de forma alarmante", advertiu na segunda-feira o chefe da missão da OIM na Líbia, Othman Belbeisi.
"Os traficantes exploram o desespero dos migrantes antes de a Europa reprimir as travessias do Mediterrâneo", explicou, em um comunicado.
Na semana passada, o general Kacem advertiu que os traficantes de pessoas haviam acelerado as saídas pelo temor de um fechamento das fronteiras europeias, depois de Roma proibir o acesso a seus portos a vários barcos de ONGs com pessoas resgatadas a bordo.
Desde sexta-feira, a Guarda Costeira líbia resgatou, ou interceptou, mais de mil imigrantes.
Uma vez em terra, as autoridades líbias levam esses imigrantes para centros de detenção.
Segundo o comunicado da OIM, o diretor-geral da organização, William Lacy Swing, viajará para Trípoli esta semana "para ver em que condições se encontram os imigrantes trasladados para terra firme pela Guarda Costeira líbia".
A OIM tem um programa de "retorno voluntário" que permitiu a repatriação de 9.000 migrantes da Líbia nos seis primeiros meses de 2018, indicou o coordenador desse programa em Trípoli, Yomaa ben Hasan, na segunda-feira.
A OIM repatriou quase 20.000 imigrantes em 2017 no âmbito desse programa.
Desde os tempos do ditador Muamar Khadafi, derrubado e executado em 2011, milhares de imigrantes atravessam as fronteiras do sul da Líbia, sobretudo, para tentar cruzar o Mediterrâneo rumo à Europa.
A situação piorou com a queda do ditador, em meio ao caos que reina na Líbia.