Burundi: O Conselho de Segurança da ONU condenou os ataques e exigiu que grupos armados cessem qualquer atividade (REUTERS/Jean Pierre Aime Harerimana)
Da Redação
Publicado em 12 de dezembro de 2015 às 16h24.
O Burundi registrou nas últimas 48h mais de 130 mortes nos ataques e confrontos mais violentos nesse país mergulhado em profunda crise política.
Oitenta e sete pessoas, sendo 79 rebeldes e oito soldados, morreram na sexta-feira, durante e depois dos ataques coordenados contra três campos militares em Burundi, segundo informou o exército, que havia fornecido um balanço inicial de 12 mortos.
Os combates começaram às quatro da manhã, quando homens fortemente armados atacaram o campo de Ngagara e o ISCAM (Instituto Superior de Comandantes Militares), respectivamente ao norte e ao sul de Bujumbura.
O Conselho de Segurança da ONU condenou os ataques e "exigiu de todos os grupos armados que deponham as armas e cessem qualquer atividade desestabilizadora para acabar com o ciclo de violência e represálias".
Por outro lado, neste sábado, os habitantes de Bujumbura, capital de Burundi, ficaram horrorizados com a descoberta de dezenas de cadáveres espalhados pelas ruas dos bairros contrários ao terceiro mandato do presidente, enquanto que, do outro lado da cidade, partidários do regime comemoravam o massacre.
Foram encontrados os corpos de ao menos quarenta jovens, segundo informaram à AFP testemunhas entrevistadas por telefone. Algumas fontes falam que o número de mortos é muito maior.
Em vários bairros, os moradores acusavam a polícia de ter prendido na sexta-feira todos os jovens encontrados hoje e de tê-los executado deliberadamente, várias horas após um ataque na noite de quinta-feira por insurgentes de três acampamentos militares na capital do Burundi.
Em Nyakabiga, no centro de Bujumbura, jornalistas e várias testemunhas relataram ter visto 20 corpos de pessoas mortas a tiros, alguns a curta distância.
"Algumas dessas crianças tiveram seus rostos completamente desfigurados, enquanto em outros, o tiro entrou pela parte superior do crânio, (...), é um horror absoluto, aqueles que fizeram isso são criminosos de guerra", criticou uma jornalista do Burundi, sob condição de anonimato.
No distrito vizinho de Rohero II, cinco corpos de jovens jaziam em uma de suas principais vias da localidade.
Em Musaga, "contei 14 cadáveres executados esta noite por soldados e policiais", disse à AFP um funcionário público local sob condição de anonimato, acusando a polícia de continuar a disparar para o ar para impedi-lo de se aproximar de um local onde haveria "muitos corpos".
"A maioria dos mortos é de jovens pais de família que estavam em casa, foi uma carnificina, não há outra palavra", declarou indignado um morador da Nyakabiga.
Todos asseguram que a maioria das pessoas foram mortas no final da tarde de sexta-feira e na madrugada deste sábado, muito tempo depois dos ataques aos acampamentos militares.
O porta-voz do exército, o coronel Gaspard Bratuza, explicou no Twitter que um "balanço definitivo" das operações em Bujumbura seria comunicado "no decorrer do dia".
Um porta-voz do exército evocou sexta-feira à tarde um registro de pelo menos 12 agressores mortos e outros 20 capturados, e cinco soldados feridos durante os ataques simultâneos a três acampamentos militares.
Uma fonte policial, que pediu anonimato, assegurou à AFP que as vítimas eram insurgentes que dispararam contra a polícia e o exército, que responderam para se defender. E acrescentou que o balanço de mortos é muito superior a 40 pessoas.
"Há dezenas de corpos em outros bairros dissidentes, como Mutakura e Cibitoke (norte de la capital), mas as autoridades estão sumindo com eles", segundo um diplomata europeu, que também não quis se identificar.
A Cruz Vermelha não recebeu autorização para se dirigir aos locais.
Enquanto os bairros dissidentes choravam os mortos, milhares de simpatizantes do regime celebravam "a vitória dos corajosos soldados e policiais contra o inimigo", durante uma "passeata pela paz" promovida pelo ministério do Interior.
No Twitter, partidários do presidente Pierre Nkurunziza afirmaram que "os terroristas foram tratados como tais".
Burundi está mergulhado numa grave crise desde o anúncio, em abril, da candidatura do presidente Nkurunziza a um terceiro mandato, considerada por parte da população algo contrário à Constituição e ao Acordo de Arusha que pôs fim à guerra civil (1993-2006).