Equipes de resgate navegam pelas águas do rio Volga, no local onde ocorreu o naufrágio, em busca de mais corpos (AFP)
Da Redação
Publicado em 11 de julho de 2011 às 11h38.
Kamskoie-Oustie - Mais de 100 pessoas morreram no naufrágio de um navio de cruzeiro no rio Volga, na república russa de Tartaristan, em consequência de negligências duramente criticadas pelo presidente Dmitri Medvedev.
Nesta segunda-feira, os mergulhadores conseguiram recuperar os corpos de 41 pessoas.
"Depois da análise do navio pelos mergulhadores, infelizmente foi constatado que não há nenhuma possibilidade de encontrar sobreviventes", declarou o ministro para Situações de Emergências, Serguei Choigu.
O ministro informou que 208 pessoas estavam a bordo do "Bulgária" que, em tese, não poderia transportar mais de 120 pessoas.
O balanço mais recente, divulgado na manhã desta segunda-feira, registrava 80 sobreviventes.
O presidente Dmitri Medvedev considerou o estado da embarcação "não satisfatório" e ordenou a verificação de todos os transportes de passageiros na Rússia.
"O número de banheiras velhas que navegam superam os limites", disse em linguagem popular.
O "Bulgaria" que transportava quase 60 crianças, naufragou na manhã de domingo em Tartaristan, 800 quilômetros ao leste de Moscou, em meio a uma violenta tempestade.
"Isto não teria acontecido, inclusive com condições meteorológicas difíceis, se as regras de segurança e os controles técnicos tivessem sido respeitados", destacou Medvedev.
Segundo os primeiros elementos da investigação, o navio iniciou o cruzeiro apesar de uma falha no motor principal esquerdo e quando inclinava para estibordo, afirma um comunicado oficial.
"Os buracos abertos podem ter contribuído para que a água entrasse rapidamente na embarcação", completa a nota.
"O barco, que afundou em poucos minutos a três quilômetros da margem, está a 20 metros de profundidade, depois de ter se partido em quatro pedaços", afirmou Igor Panchin, funcionário do ministério regional para Situações de Emergência.
Alguns sobreviventes, entrevistados pelo canal Rossia24, denunciaram a ausência no navio de qualquer informação sobre as medidas de segurança.
"Não havia nenhuma indicação sobre o local onde estavam os coletes salva-vidas", declarou Natalia Makarova, que disse ter escapado por uma janela no momento do naufrágio.
Outro sobrevivente, Nikolai Chernov, disse que dois barcos passaram pelo navio e não pararam, apesar dos gritos de socorro.
Segundo as informações divulgadas pelas autoridades, quase todos os passageiros eram russos, com exceção de dois cidadãos de Belarus.
O "Bulgaria", construído em 1955 na então Tchecoslováquia, havia sido submetido a um controle técnico em junho, que confirmou que estava apto para a navegação, informou o ministério russo dos Transportes.
"O 'Bulgaria' não foi modernizado como a maioria dos barcos que navegam no Volga. As embarcações de 50 anos são um fenômeno comum na Rússia, o que não é normal", declarou à AFP Irina Tiurina, porta-voz da União Russa de Turismo.
Analistas entrevistados pela imprensa russa também afirmaram que este tipo de embarcação tem um design obsoleto e sua construção não permite resistir a mais que poucos minutos de uma entrada de água considerável.
Este navio de duas cobertas e 80 metros de comprimento fazia cruzeiros no Volga, região de férias muito popular.
A Rússia registra acidentes de barcos com frequência.
Em setembro de 2010, sete pessoas morreram no naufrágio de um barco em um lago situado a 80 quilômetros de Norilsk (Grande norte russo).
O acidente mais famoso aconteceu em 1986, quando o cruzeiro soviético "Almirante Najimov" naufragou em poucos minutos no Mar Negro, pouco depois de bater em um mercante diante do porto Novorosisk. Pelo menos 423 das 1.259 pessoas a bordo faleceram na tragédia.