Sudão: mais de 800 mil pessoas podem fugir dos combates para esses países nas próximas semanas, aumentando o risco de uma crise humanitária na região (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 2 de maio de 2023 às 18h28.
Última atualização em 2 de maio de 2023 às 18h42.
Mais de 100 mil pessoas fugiram do Sudão para países vizinhos como Egito, Chade e República Centro-africana em razão dos combates entre o Exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR), informou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) nesta terça-feira, 2.
Segundo o órgão da ONU, mais de 800 mil pessoas podem fugir dos combates para esses países nas próximas semanas, aumentando o risco de uma crise humanitária na região. O aumento do fluxo de refugiados é especialmente preocupante no Chade e na República Centro-africana, afetados por crises políticas internas recentes.
Em Cartum, os habitantes que não conseguiram fugir sobrevivem em meio à falta de comida, água e eletricidade. O encarregado de assuntos humanitários da ONU, Martin Griffiths, alertou no domingo, 30, que a situação humanitária está chegando ao limite. O funcionário da ONU deve viajar ao Sudão nos próximos dias.
Mesmo antes do início da crise, quase 16 milhões de sudaneses não tinham o suficiente para comer e precisavam de ajuda. O Programa Mundial de Alimentos da ONU teria alcançado cerca de 2,2 milhões de pessoas diretamente com assistência alimentar em maio, apontou Shaun Hughes, consultor sênior de emergências regionais do PAM, e planejou alcançar cerca de outros 5 milhões em 2023, inclusive por meio de transferências de dinheiro, apoio a agricultores, refeições escolares ou outros programas.
O PAM anunciou que estava retomando as atividades nas áreas mais seguras do Sudão. A organização havia interrompido a operação por questões de segurança, após a morte de três funcionários. Esta ajuda é vital em um país onde um terço de seus habitantes sofria com a fome antes da guerra.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a situação sanitária do Sudão como catastrófica. Atualmente, apenas 16% dos hospitais de Cartum operam com capacidade máxima e outros foram bombardeados, ocupados por beligerantes ou carecem de pessoal ou suprimentos.
Médicos também descrevem um cenário caótico. Howaida Ahmed Al-Hassan, obstetra e ginecologista, disse que há mais de duas semanas os médicos de alguns hospitais em Cartum não conseguem trocar de roupa e dormem em cadeiras. Eles não podem ir para casa por causa da situação de segurança, disse ela, e estão sobrecarregados com a quantidade de trabalho que precisam fazer. Ela disse que a grave escassez de pessoal médico e o número crescente de feridos e doentes — tanto de conflitos quanto de doenças crônicas — criaram uma situação perigosa.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha conseguiu introduzir, no domingo, a primeira carga de ajuda desde o início do conflito, um total de 8 toneladas de material, que podem ajudar a tratar "1,5 mil feridos".
Desde o início do conflito, frágeis tréguas entre os dois lados do conflito foram sistematicamente violadas. Segundo especialistas, as tréguas são importantes porque asseguram a manutenção de corredores seguros para a evacuação de estrangeiros e que as negociações, que ocorrem no exterior, continuem. Um navio humanitário americano, por exemplo, conseguiu levar mais de 300 pessoas para a Arábia Saudita nesta segunda.
Um novo cessar-fogo de sete dias foi acordado para o período de 4 a 11 de maio, mas não há garantias de que ele deve ser respeitado.
Desde outubro de 2021, quando os militares tomaram o poder durante o processo de transição democrática que teve início em 2019 — após o ditador Omar al-Bashid ser derrubado —, o país é governado pelo general Abdel-Fattah Burhan e Mohammed Hamdan Dagalo (Hemedti), chefe do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR), era tido como seu número dois no comando.
O confronto é protagonizado por Burhan, que controla o Exército sudanês, e Hemedti, que lidera as forças paramilitares FAR. Eles se tornaram inimigos públicos nos últimos meses, mas se estiveram lado a lado durante o golpe que depôs o primeiro-ministro civil Abdallah Hamdok em 2021.
A escalada da violência destruiu as esperanças dos sudaneses de que os militares pudessem ceder o poder a um governo liderado por civis após terem interrompido o processo de transição democrática em 2019.