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Mais cara da história, campanha eleitoral nos EUA deve custar mais de US$ 16 bilhões

Valor é próximo ao faturamento anual de multinacionais americanas, como Adobe e Kellog, e ajuda a reduzir o número de candidatos na disputa

Cartazes de campanha de Trump em Rochester, New Hampshire (Chip Somodevilla//AFP)

Cartazes de campanha de Trump em Rochester, New Hampshire (Chip Somodevilla//AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 26 de janeiro de 2024 às 16h36.

As campanhas eleitorais nos EUA se tornaram um negócio bilionário, e a arrecadação de doações vai se tornando um item ainda mais importante para dar fôlego, ou afogar, campanhas presidenciais.

Em um exemplo recente disso, Donald Trump, que venceu as duas primeiras rodadas das primárias nos EUA, passou a ameaçar quem fizer doações de campanha para sua rival no partido, Nikki Haley.

"Qualquer pessoa que faça uma 'contribuição' para a 'cabeça-oca', a partir deste momento em diante, será permanentemente barrada do campo Maga," escreveu Trump em uma postagem em sua rede social Truth Social. Maga é um lema de campanha, Make America Great Again (Faça a América grande de novo), que virou sinônimo do grupo de apoiadores do ex-presidente.

Haley já gastou 112,6 milhões de dólares na campanha presidencial deste ano, segundo dados do site OpenSecrets, que analisa contas eleitorais. Trump desembolsou 42 milhões na campanha deste ano, e ainda faltam 10 meses até a votação.

Uma projeção do GroupM, uma das maiores agências de compra de mídia, estima que o mercado de anúncios políticos nos EUA deve alcançar 15,9 bilhões de dólares em 2024. As campanhas têm ainda vários outros gastos, como organizar eventos e fazer pesquisas de opinião.

De acordo com o OpenSecrets, os gastos na campanha presidencial até meados de janeiro superam 307 milhões de dólares. Em 2020, no mesmo período da corrida, haviam sido gastos apenas 21,3 milhões.

Há quatro anos, a última campanha eleitoral americana teve ao todo 14,4 bilhões de dólares em gastos, sendo 8,7 bilhões nas disputas para Câmara e Senado e 5,7 bilhões para a corrida presidencial. Foi o maior valor na história, que poderá ser superado no pleito de 2024.

Assim, o gasto somado nas campanhas se aproxima do montante que algumas multinacionais faturam em um ano, como a Adobe (19 bilhões de dólares no ano fiscal de 2023) e Kellog (15 bilhões de dólares).

O valor dispendido em 2020 foi mais que o dobro da corrida anterior, de 2016, que movimentou 6,5 bilhões de dólares, sendo 2,3 bilhões para a disputa presidencial. Vale lembrar que em 2020 o mundo vivia um cenário de pandemia e houve menos viagens e eventos com os candidatos.

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Nos EUA, os candidatos dependem de doações para custear as ações de campanha, como comícios, anúncios de TV e internet, além de contratar e pagar funcionários e financiar pesquisas e sondagens eleitorais.

"Vemos o dinheiro na política crescer a cada ano. Há novos métodos de tecnologia e as campanhas querem ser capazes de gastar muito dinheiro para alcançar eleitores e micro-direcionar as pessoas com suas mensagens", disse Shanna Ports, conselheira sênio na ONG Campaign Legal Center, em entrevista à NPR. Um dos avanços é o uso de inteligência artificial.

Para pagar por tudo isso, os postulantes podem receber doações diretas de pessoas físicas e empresas, mas há limites de valores. No entanto, há nos EUA o modelo chamado de Super PAC (Comitê de Ação Política), que pode receber doações ilimitadas e usar o dinheiro em ações para promover candidatos. Com isso, os PACs acabam custeando a maior parte das campanhas.

No primeiro semestre de 2023, por exemplo, as campanhas para a Presidência relataram à FEC (Comissão Federal Eleitoral) terem recebido 167,9 milhões em doações. Já os PACs levantaram 1,6 bilhão de dólares no mesmo período. Dez vezes mais.

Alto custo afasta candidatos

O alto custo de manter as campanhas é uma das razões para o baixo número de candidatos nas primárias de 2024. Em um cenário em que há dois nomes favoritos para obter as nomeações partidárias, Donald Trump e Joe Biden, outros nomes menos conhecidos enfrentam dificuldade para obter doações de campanha, pois precisam disputá-las com um ex-presidente e o presidente em exercício.

Assim, o governador da Flórida, Ron DeSantis, desistiu da campanha após perder apenas uma rodada de votação, em Iowa, mesmo tendo ficado em segundo lugar na disputa. O comando do partido republicano também colocou como critério para participar de debates nas primárias a obtenção de determinados volumes de arrecadação de doações.

Trump e Biden também recorrem a várias estratégias para apelar por doações. O republicano diz que seus processos na Justiça são uma tentativa do sistema de calá-lo, e pede dinheiro para ajudar a se defender e seguir sua luta.

Já Biden usa as vitórias do rival para pedir dinheiro. "Parece que Donald Trump acabou de ganhar em Iowa. Ele é claramente o líder no outro lado. Se você está conosco, colabore agora", postou o presidente na rede social X.

As pesquisas apontam uma disputa acirrada entre Trump e Biden em novembro, o que deve estimular ainda mais os gastos das campanhas e segmentar ações nos estados mais disputados. Um estudo da consultaria AdImpact aponta que os gastos com propaganda eleitoral no Arizona, onde vivem 7 milhões de eleitores, devem chegar a 821 milhões de dólares. Em uma conta simples, significaria gastar mais de 100 dólares para atingir cada morador do estado.

Apontada por diversos analistas como o principal risco geopolítico de 2024, as eleições americanas baterão recordes de custos — uma tendência que não deve se reverter nas próximas disputas.

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