Tropa de elite da Bielorrússia, herdada a antiga União Soviética: repressão, segredos e táticas de guerra (Reuters/Reuters)
Carla Aranha
Publicado em 12 de agosto de 2020 às 17h34.
Última atualização em 12 de agosto de 2020 às 18h06.
Eles dificilmente mostram o rosto ou revelam a identidade. Em geral, saem à rua vestidos de preto, levando cartuchos de munição, facas e armamentos de precisão. Na Bielorrússia, ex-república soviética, o grupo tem reprimido fortemente os protestos contra o governo iniciados há três dias, depois das eleições que deram vitória (mais uma vez) ao presidente Alexander Lukashenko, no poder há 26 anos.
Fora da Rússia e das ex-repúblicas soviéticas, pouca gente ouviu falar nos spetsnaz (“forças de operações especiais”, em russo), a tropa de elite da KGB. Mas na Bielorrússia, onde o passado soviético ainda não morreu, os spetsnaz estão mais ativos que nunca.
As forças especiais, altamente treinadas para lidar com situações que vão desde sequestros a atos de terrorismo, têm perseguido e reprimido fortemente os manifestantes. “Ninguém sabe ao certo quantos são ou quem são”, diz o bielorrusso Dan Polevikov, que participa dos protestos. “Mas todos sabem o que são capazes de fazer”.
A força de elite foi criada na antiga União Soviética, onde estava subordinada à KGB, e atuou na guerra do Afeganistão (1979-1989). Os Alpha Spetsnaz, que ainda estão operantes na Bielorrússia, são a elite da tropa de elite soviética. O grupo foi despachado para Beirute, no Líbano, em 1985, quando quatro diplomatas russos foram sequestrados por um grupo xiita. Parentes dos sequestradores foram encontrados mortos em Beirute, com o corpo severamente machucado.
Os spetsnaz são treinados para mergulhar, saltar de paraquedas e invadir rapidamente prédios públicos e residências sem serem notados. Na Bielorrússia, eles são considerados responsáveis por ao menos parte das 6.000 prisões que aconteceram desde domingo – participar de protestos é um ato de coragem no país.
A União Europeia anunciou nesta quarta, 12, que convocou uma reunião emergencial dos ministros de relações exteriores dos países europeus para discutir a violenta repressão aos manifestantes e o resultado da eleição presidencial. O encontro deve acontecer nesta sexta, 14.
As pesquisas de boca de urna das eleições presidenciais davam vitória à ex-professora de inglês Svetlana Tikhanouskaya, de 36 anos, candidata da oposição. Essa semana, Svetlana fugiu para a Lituânia, onde já estavam seus três filhos.
“E eu sei que muitas pessoas vão me entender, muitas vão me julgar e muitas vão me odiar”, disse ela em um vídeo no YouTube depois de deixar a Bielorrússia, onde estaria sofrendo ameaças de morte. “Então, pessoal, tomem cuidado, por favor — nenhuma vida vale o que está acontecendo agora. As crianças são a coisa mais importante em nossas vidas.”
A população da Bielorrússia sabe bem o quanto Svetlana pode ter razão – a força de elite da antiga KGB está a postos, na rua, junto com a polícia, desde as eleições do último domingo. O perigo está à solta.