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Máfia mais poderosa da Itália compra bairros inteiros em Bruxelas

Comissão Parlamentar Antimáfia concluiu que a 'Ndrangheta "exerce um papel absolutamente dominante em quase todas as regiões"

Bruxelas: essa máfia, mitificada pelo cinema e a literatura, atualmente passa por "graves dificuldades" (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

Bruxelas: essa máfia, mitificada pelo cinema e a literatura, atualmente passa por "graves dificuldades" (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

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EFE

Publicado em 9 de junho de 2018 às 10h24.

Roma - A 'Ndrangheta é, além da organização criminosa mais potente da Itália, a que mais cresce no exterior do país, até o ponto de comprar bairros inteiros de Bruxelas, segundo afirmou o chefe antimáfia do país, o general Giuseppe Governale.

No relatório sobre suas atividades na última legislatura, a Comissão Parlamentar Antimáfia concluiu que a 'Ndrangheta não só opera na região da Calábria, de onde é originária, mas "exerce um papel absolutamente dominante em quase todas as regiões".

"A estrutura transnacional da máfia calabresa que, graças à liderança no tráfico mundial de entorpecentes, exporta ao exterior práticas de assentamento e introduções cada vez mais incisivas", afirmava nesse documento.

O general Governale, de 59 anos e com uma ampla experiência à frente do corpo de Carabineiros e que assumiu este cargo em outubro, é um dos encarregados de enfrentar a organização criminosa por meio da Direção de Investigação Antimáfia (DIA).

Em um encontro na sede da Imprensa Estrangeira em Roma, Governale afirmou que embora tenha progredido muito na luta contra a máfia, com a chegada da globalização "o problema é malditamente sério" pois os criminosos estendem seus tentáculos por todo o planeta.

"Em Bruxelas, a 'Ndrangheta não está comprando edifícios, está comprando bairros inteiros", alertou.

Governale indicou que o crescimento desta organização criminosa ocorreu enquanto a atenção se fixava na muita mais midiática Cosa Nostra, a máfia siciliana, e ressaltou que agora este grupo é "extraordinariamente potente" graças à coesão dos seus comandantes.

Essa máfia, mitificada pelo cinema e a literatura, atualmente passa por "graves dificuldades" e carece de unidade após a detenção e morte de seus históricos líderes como Salvatore "Totò" Riina e Bernardo Provenzano.

Além disso, o sangrento Matteo Messina Denaro, foragido desde 1993, é continuamente perseguido com operações contra seus colaboradores, a última delas na terça-feira, e Governale apontou que, embora seja uma figura importante, já não é considerado o chefe da "Cosa Nostra" pela DIA.

Atualmente, no seio da máfia siciliana, "há chefes de clãs que fazem negócios, mas não há uma direção unitária".

Pelo contrário, a 'Ndrangheta não para de crescer e a cada ano, em setembro, chefes de todo o mundo peregrinam até a Calábria para se reunir no santuário mariano de Polsi, o povoado de San Luca, reduto tradicional da organização criminosa.

É a surpreendente imagem de uma máfia praticamente global que cresce nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Europa e Balcãs e que se nutre do tráfico de drogas procedente da América Latina e da lavagem de dinheiro, "o esporte mais praticado" pelos criminosos.

Governale destacou que uma de suas particularidades é que tenta aplicar o sistema praticado na Calábria em todas e cada uma de suas filiais no exterior, com estruturas estabelecidas, mas sempre obedecendo à organização central calabresa.

A força que movimenta as máfias é sua "sede extraordinária de poder e de dinheiro" e por isso buscam se expandir a países pobres com um crescimento de PIB alto, com uma legislação que lhes favoreça e com uma elevada corrupção pública, como Bulgária e Romênia, segundo Governale.

Na Espanha, por exemplo, "a influência da máfia é particularmente relevante" nas ilhas Baleares, onde destaca-se a Brigada Napolitana, mas também pela sua posição geográfica, entre a Itália e a América do Sul exportadora de droga, de acordo com o general.

Para combater as máfias, Governale defende a colaboração entre países, a troca de informação em matéria de segurança, algo que na sua opinião "está melhorando lentamente", assim como a criação de um sistema comum contra este fenômeno na União Europeia (UE).

Por sua vez, a DIA, idealizada pelo juiz Giovanni Falcone, assassinado em 1992 pela Cosa Nostra, seguirá com sua estratégia de "atacar o patrimônio" dos clãs por meio da ferramenta legal de "confisco preventivo" de seus bens.

No caso da Cosa Nostra, com seus dirigentes encarcerados, enterrados ou perseguidos, o general italiano aposta em perseguir as novas gerações.

Mas também é preciso acabar com "as condições ambientais" que subsistem nas frequentemente esquecidas regiões do sul italiano, onde muitos habitantes vivem em um autêntico "ordenamento jurídico" mafioso.

Por isso, o general da DIA, parafraseando o escritor Gesualdo Bufalino, ressaltou que "a máfia será derrotada por um exército de professores de educação elementar".

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