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Mães de Srebrenica recebem com aplausos a condenação de Mladic

Mais de 8.000 foram assassinados pelas forças sérvias de Mladic durante em julho de 1995, enquanto tentavam fugir do enclave muçulmano de Srebrenica

Mulher reage à sentença do ex-general Ratko Mladic: "Mladic morrerá em Haia! Estou feliz, feliz por esta Justiça" (Dado Ruvic/Reuters)

Mulher reage à sentença do ex-general Ratko Mladic: "Mladic morrerá em Haia! Estou feliz, feliz por esta Justiça" (Dado Ruvic/Reuters)

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AFP

Publicado em 22 de novembro de 2017 às 17h17.

As mães de Srebrenica aplaudiram, choraram e se abraçaram quando o juiz de Haia anunciou a condenação de Ratko Mladic à prisão perpétua por genocídio.

"Dou graças a Deus, em nome de nossos filhos!", exclamou Nedziba Salhovic, uma das mulheres reunidas nesta quarta-feira (22) em frente a uma das televisões instaladas no memorial de Potocari.

Se em Haia as responsáveis de associações se disseram "parcialmente satisfeitas", as que ficaram em Srebrenica expressaram alívio.

Nesse local foram instalados milhares de monumentos em homenagem a seus filhos, irmãos e maridos. Mais de 8.000 foram assassinados pelas forças sérvias de Mladic durante vários dias de julho de 1995, enquanto tentavam fugir do enclave muçulmano de Srebrenica.

Um ato de genocídio, repetiu a Justiça internacional nesta quarta-feira. O único cometido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Mladic, de 74 anos, foi considerado culpado, assim como o fanático Radovan Karadzic, de 72 anos, em 2016.

"Mladic morrerá em Haia! Estou feliz, feliz por esta Justiça", afirmou Nedziba Salhovic.

"O chetnik se borrou!"

Desde o início da leitura do veredito caíram as primeiras lágrimas. E eram ouvidos gritos de raiva quando Mladic se aborrecia. "Não é um homem, é um lixo!", gritou uma das mulheres.

Quando o criminoso pediu a interrupção da leitura para ir ao banheiro, exclamaram com desprezo: "o chetnik se borrou!".

Essas mulheres não esperavam menos do que a prisão perpétua. "Minhas fotos são provas irrefutáveis", afirmou uma delas, mostrando as imagens.

Todas foram ouvir que o "açougueiro dos Bálcãs" vai morrer na prisão. "Mas não faria Justiça nem que vivesse mil vezes e fosse condenado à prisão perpétua outras tantas", lamentou Ajsa Umirovic, de 65 anos, que perdeu 42 membros de sua família.

"Olhem eles ali", disse, mostrando as lápides, "teria que receber prisão perpétua nem que fosse uma por família".

Em Sarajevo, outra cidade mártir, Safet Kolic, vendedor de roupa, acredita que essa "sentença chega muito tarde". Para ele, Mladic "destruiu um povo por fazê-lo cometer genocídio, e outro teve que sofrer o genocídio".

Na capital bósnia ainda se pode ver em muitas fachadas os impactos de morteiros, evidências de um cerco que durou 44 meses, um dos mais longos da História.

Mais de 10.000 habitantes, entre eles 1.500 crianças, morreram vítimas de atiradores de elite e da artilharia que disparava das montanhas controladas pelas tropas de Mladic ao redor da localidade.

No mercado de Markale tudo funcionava como sempre nesta quarta-feira. Foi ali que ocorreram dois massacres: um que deixou 68 mortos em fevereiro de 1994; e outro em agosto de 1995, que deixou 37. Os nomes das vítimas estão escritos em uma parede vermelha. "Se dependesse de mim, eu o teria enforcado, porque sofri muito como pessoa, não consigo nem falar", diz uma mulher idosa, vendedora de verduras, que não quis dar seu nome.

A 5 km de Srebrenica, imagens de Mladic

Os sérvios da Bósnia, que são pouco mais de um terço dos 3,5 milhões de bósnios, não tinham nenhuma ilusão sobre o veredito. Mas isso não quer dizer que se arrependam.

A cinco quilômetros do memorial de Srebrenica eram vistas imagens de Mladic de uniforme nas ruas da cidade sérvia de Bratunac. "É o nosso herói", pode-se ler.

Em Sokolac, militantes da associação Honra à Pátria, alguns deles usando camisas com a imagem de Ratko Mladic, escutaram o veredito em silêncio.

"Talvez um dia a história mostre que a verdade é a que nós acreditamos", disse Zeljko Dacic, um ex-combatente de 51 anos.

Na véspera, seu chefe político, Milorad Dodik, líder da Republika Srpska (República Sérvia), a entidade sérvia na Bósnia, já havia deixado claro: "Ratko Mladic continua sendo uma lenda do povo sérvio".

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