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Maduro presta contas sobre crise na Venezuela

Presidente da Venezuela prestará contas sobra sua gestão da grave crise econômica que asfixia o país


	Nicolás Maduro: o presidente venezuelano entrará na Câmara para se dirigir pela 1ª vez a uma bancada opositora com o controle do Parlamento
 (Reuters/Denis Balibouse)

Nicolás Maduro: o presidente venezuelano entrará na Câmara para se dirigir pela 1ª vez a uma bancada opositora com o controle do Parlamento (Reuters/Denis Balibouse)

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Da Redação

Publicado em 15 de janeiro de 2016 às 14h01.

Caracas - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, presta nesta sexta-feira contas sobre sua gestão da grave crise econômica que asfixia o país e ante um parlamento de maioria opositora, que tenta tirá-lo do poder.

Seu esperado discurso, programado para as 17H00 local (19H30 de Brasília) e que, segundo a Constituição, deve ser feito no mais tardar no dia 15 de janeiro, acontece em plena crise institucional desatada após a tomada de posse há dez dias da nova Assembleia Nacional, dominada pela oposição.

O calor do debate nas últimas duas semanas chegou ao ponto de o presidente do Parlamento, o radical antichavista Henry Ramos Allup, ter precisado enviar a Maduro uma mensagem através de sua esposa Cilia Flores.

"Nós o receberemos com serenidade e respeito", prometeu.

Maduro entrará na Câmara para se dirigir pela primeira vez a uma bancada opositora que desde o dia em que tomou o controle do Parlamento anunciou que buscará uma via legal para "mudar o governo", e à qual Maduro acusa de planejar dar um "golpe de Estado" contra seu governo.

Seu comparecimento se tornou incerto depois que o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) declarou na segunda-feira o Parlamento em desacato e anulou suas decisões por ter juramentado três deputados opositores que, acusados pelo governismo, estão suspensos enquanto são investigados por suposta fraude eleitoral.

Mas a oposição precisou retroceder na quarta-feira, acatando a decisão do TSJ de desvincular os legisladores questionados, e o Tribunal, acusado pela oposição de servir ao chavismo, levantou na quinta-feira o desacato e a decisão de nulidade, tornando possível ao presidente prestar contas ante a Assembleia.

Este primeiro capítulo da série de confrontos de poderes deixa os venezuelanos preocupados. "Eu de verdade já não sei o que vai acontecer aqui", declarou à AFP Juan Molina, um vigia de 44 anos.

No olho da tempestade econômica

A expectativa está concentrada nas informações que o presidente dará sobre o que admitiu chamar de "emergência econômica", devido à qual anunciará em breve um plano com medidas de impulso à produção diante da dependência quase total do petróleo - fonte de 96% de divisas - num momento em que o preço está no chão.

De antemão, Ramos Allup desacreditou o "decreto de emergência econômica", ao afirmar que "a crise não é superável com este governo".

"É um modelo fracassado", disse o legislador, que coloca entre as prioridades da agenda opositora uma anistia para presos políticos e reformas econômicas.

O país com as maiores reservas do mundo também tem, segundo consultoras privadas, a inflação mais alta do mundo, superior a 200%, e sofre uma escassez aguda de alimentos e remédios, que geram longas filas que irritam os venezuelanos.

"Aos que estão nas filas, aos que têm problemas para ter acesso às coisas, estamos trabalhando para eles. Para isso temos diferentes planos que estamos desenvolvendo, já estamos trabalhando", disse na véspera o sociólogo Luis Salas, novo ministro da Economia, considerado da ala radical de esquerda.

Maduro sustenta que o país está em uma tempestade econômica da qual só é possível sair com mais socialismo, diante de um Parlamento burguês aliado com os Estados Unidos que busca impor seu modelo neoliberal de privatizações e acabar com as conquistas sociais da revolução.

"Se o discurso é o mesmo (guerra econômica, imperialismo, controles, ameaças), a única diferença nos resultados... é que sejam piores", advertiu o economista Luis Vicente León, presidente do Datanálisis.

Analistas independentes recomendam a unificação das três taxas de câmbio - mais a do mercado negro, 125 vezes maior que a taxa mais baixa oficial -, a eliminação do controle de preços, aumentar o preço da gasolina, que é quase gratuita neste país, estímulo ao investimento privado e redução dos gastos públicos.

"Este é um governo imprevisível. O presidente tem que fazer ajustes, mas não isolados, tomar decisões sobre como vai resolver o déficit de 22%. Neste ano a contração econômica deve estar em 6,8% e pode ser pior", afirmou o economista José Casique.

Os analistas temem que o confrontos dos poderes adie a atenção para a crise, prioridade dos venezuelanos.

Símbolo do confronto é o Parlamento, agora sem os retratos de Hugo Chávez, que Ramos Allup mandou retirar.

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