Nicolás Maduro: presidente da Venezuela alega contar com a força da milícia chavista contra potenciais invasores (Manaure Quintero/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de dezembro de 2018 às 11h53.
Última atualização em 19 de dezembro de 2018 às 12h27.
Caracas - Menos de uma semana depois de ter denunciado um suposto plano para derrubá-lo e assassiná-lo, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fez novas declarações agressivas contra os Estados Unidos e os vizinhos Brasil e Colômbia.
Alegando a defesa do território venezuelano, Maduro disse que a milícia do país agora tem 1,6 milhão de integrantes e vai "armá-los até os dentes".
Maduro ainda afirmou que, no caso de uma invasão do inimigo "imperialista", as tropas agressoras "não sairiam vivas" do território venezuelano.
"Vamos defender nossa pátria dos imperialistas, oligarcas e traidores, estejam em Bogotá ou em Brasília", insistiu Maduro, na noite de segunda-feira, 17, ao falar para voluntários integrantes de milícias em Caracas.
O número é três vezes maior do que os "400 mil" membros que o regime havia informado em abril. Um dos mais polêmicos projetos de Chávez na área de segurança foi a criação de milícias encarregadas de proteger o governo. Elas contam com homens e mulheres, civis, que portam armas de uso exclusivo das Forças Armadas.
Uma parcela minoritária dessas milícias está organizada de forma semelhante às brasileiras, alimentadas por "contribuições" de moradores, regulação de serviços e captura de armas obtidas em confrontos com o narcotráfico.
Pesam contra esses grupos denúncias de extorsão - a oposição as considera grupos paramilitares. Algumas, conhecidas como "colectivos", têm treinamento militar avançado, recebem apoio do governo e fazem campanha pelo chavismo.
Maduro não deixou claro como teria conseguido quadruplicar o número de integrantes das milícias em oito meses, mas analistas acreditam que se trata de um número inflado.
"Maduro está usando o contingente de pessoas dispostas a pegar em armas para defender o chavismo e os tratando como soldados treinados, o que não é o caso", disse Benigno Alarcón, analista de segurança e especialista em Defesa e conflitos na Universidade Católica Andrés Bello, em Caracas. "Ao menos 60% dessas pessoas não têm treinamento militar."
Segundo o jornal venezuelano "El Nacional", Maduro pediu aos militares venezuelanos para desenvolver planos preventivos ante "qualquer movimento estranho de grupos paramilitares ou infiltrados" e esforços para "defender cada centímetro do território dos inimigos do país".
Com a posse do presidente eleito brasileiro, Jair Bolsonaro, se aproximando, a tensão entre Brasil e Venezuela aumenta. Na semana passada, Maduro disse que o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, passou instruções a Bolsonaro sobre um plano para derrubá-lo quando os dois se encontraram no Rio de Janeiro, em 29 de novembro.
"O povo deve aprender, como fez o povo do Vietnã, a defender sua terra com uma faca, com uma pedra, com um porrete, com um bastão, com o próprio corpo, com o que for necessário", afirmou Maduro.
No último fim de semana, foram publicados na internet vídeos de treinamento de civis sem uniformes e de milicianos. Eles são vistos fazendo exercícios físicos e de tiro, incluindo idosos em idade avançada. Nas redes sociais, muitos ridicularizaram e compararam a imagem com a dos soldados dos EUA, a força militar mais poderosa do mundo.
Os milicianos ganham do governo apenas as roupas: um chapéu, botas pretas e um uniforme militar verde com muitos bolsos. Todos os sábados, recebem instrução militar, prática e teórica por cinco ou seis horas.
Cada batalhão pode ser composto por até 300 voluntários. Os que trabalham há mais tempo na milícia recebem seguro-saúde e um salário mínimo do governo chavista.