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Madagascar: Entenda a crise que fez presidente fugir do país e terminou em golpe militar

Fúria da Geração Z desencadeou uma série de protestos que culminou na fuga do presidente e na ascensão das forças armadas no poder

Coronel das forças armadas de Madagascar,  Michael Randrianirina, com soldados em frente ao palácio presidencial, em 14 de outubro (Luis Tato/AFP)

Coronel das forças armadas de Madagascar, Michael Randrianirina, com soldados em frente ao palácio presidencial, em 14 de outubro (Luis Tato/AFP)

Publicado em 14 de outubro de 2025 às 15h26.

As forças armadas do Madagascar anunciaram nesta terça, 14 de outubro, que tomaram o poder do país.

O presidente Andry Rajoelina está foragido no exterior, mas ainda contesta a tomada de poder pelos militares e defende sua liderança.

No momento, Madagascar passa por intensas manifestações de jovens da Geração Z, que recentemente receberam o apoio das forças armadas e da polícia.

Dentre as demandas dos jovens, estava a renúncia de Rajoelina e uma reforma drástica do governo da ilha.

Os esforços recentes do presidente para se manter no poder, como a dissolução da assembleia para evitar um processo de impeachment, apenas agravaram a crise política.

Rajoelina está foragido no exterior desde domingo após ter perdido o apoio do CAPSAT, a unidade de elite do exército do país.

O presidente diz temer pela sua vida, e que um golpe inconstitucional e não democrático para tomar o poder está acontecendo.

No entanto, Rajoelina tomou o poder em 2009 com um golpe próprio, auxiliado pelo CAPSAT que agora o opõe.

Protesto de estudantes contra o governo em Antananarivo, Madagascar, em 14 de outubro (Luis Tato/AFP)

Fúria da Gen Z em Madagascar

As manifestações tiveram início devido a frequentes falhas no sistema de água e eletricidade, em meados de setembro, mas evoluíram devido a uma grande insatisfação com o governo.

Os protestos escalaram em intensidade, e, de acordo com Volker Türk, presidente da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, 22 manifestantes foram mortos, e mais de 100 seguem feridos após confrontos com a polícia.

Inicialmente protestando contra a infraestrutura do país, as manifestações se intensificaram e incluíram mais reivindicações.

No centro da ira da juventude está o presidente Andry Rajoelina, que faz altos investimentos em projetos considerados irrelevantes para a vida dos cidadãos, como um teleférico sobre a capital, Antananarivo, que custaria US$ 152 milhões.

Além disso, seus filhos são vistos com frequência utilizando roupas caras e aproveitando uma vida de privilégios, como a educação de alto nível no exterior.

Enquanto isso, a população geral do país vive sem oportunidades. De acordo com dados do banco mundial, da população de 30 milhões na ilha, 80% vivem abaixo da linha da pobreza, ganhando menos de US$ 2.15 por dia.

A ilha também apresenta uma das menores médias de idade do mundo, com uma média de 19.2 anos, o que torna sua população composta majoritariamente de membros da Geração Z.

Os jovens em Madagascar foram inspirados por manifestações semelhantes de jovens no Nepal e na Indonésia, ao longo dos últimos meses, formando uma tendência global de resistência da juventude.

Em alguns casos, essas manifestações derrubaram governos. Madagascar acaba de se tornar o mais novo desses casos.

Fuga do presidente

No domingo, 12, Rajoelina fugiu do país para uma localização não identificada.

De acordo com fontes anônimas citadas pela agência Reuters, incluindo diplomatas e membros do governo, sua fuga foi auxiliada pela França, que o evacuou utilizando um de seus aviões militares.

A rádio francesa RFI disse que ele teria feito um acordo com o presidente francês Emmanuel Macron.

Em seguida, o presidente fez um discurso virtual pelo Facebook, onde continuou desafiante e se negou a renunciar.

Também foi em seu exílio que deu a ordem de dissolver a Assembleia, impossibilitando efetivamente o seu impeachment de maneira constitucional e agravando a raiva dos jovens no processo.

A sua fuga vem como medida defensiva para si próprio, após ter perdido o apoio das forças armadas do país, especialmente da unidade de elite do Exército CAPSAT e da polícia. Ambos os grupos tiveram suas lideranças repassadas a membros rebeldes que apoiam a causa.

Assim, esses grupos se aliaram aos manifestantes e os escoltaram em suas marchas pela capital.

Por mais que a maioria no parlamento ainda seja da coalizão no poder, Rajoelina não conta mais com o apoio de nenhum grupo político do país.

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