Emmanuel Macron: presidente, cuja popularidade despencou após escândalo, chegando a 32%, quis deixar claro que não tinha a intenção de se esquivar do caso (Julien De Rosa/Reuters)
AFP
Publicado em 25 de julho de 2018 às 19h27.
O presidente francês, Emmanuel Macron, assumiu a responsabilidade pelo caso envolvendo um de seus chefes de segurança, que agrediu dois manifestantes durante um protesto, mas não conseguiu calar as críticas que seguiam denunciando a maneira como tem lidado com o chamado "Benallagate".
"O responsável sou eu. Quem confiou em Alexandre Benalla fui eu, o presidente da República", declarou Macron na terça-feira à noite para deputados aliados e membros do governo em Paris, rompendo o silêncio mantido desde a quarta-feira passada quando veio à tona o caso envolvendo Alexandre Benalla, um de seus homens de confiança.
Nesta quarta, Macron também acusou os meios de comunicação de publicarem "muitas besteiras". "Vocês disseram nos últimos dias muitas besteiras sobre supostos salários, vantagens. Tudo isso é falso", lançou a jornalistas da BFMTV e CNEWS.
Benalla, de 26 anos, agrediu dois manifestantes para dispersar um protesto em uma praça de Paris em 1º de maio, usando capacete e braçadeira da Polícia. O caso veio à tona na quarta-feira passada, depois que o jornal Le Mende divulgou um vídeo filmado por testemunhas da agressão.
O assessor de segurança de Macron, que inicialmente havia sido punido com suspensão de 15 dias sem vencimentos, foi demitido e acusado de violência em concentração e usurpação de funções, depois que a imprensa revelou o caso, quase três meses após os fatos.
"O que aconteceu em 1º de maio [...] foi grave, sério e uma decepção para mim, uma traição", revelou o chefe de Estado.
O presidente centrista de 40 anos, cuja popularidade despencou após o escândalo, chegando a 32%, quis deixar claro que não tinha a intenção de se esquivar do caso, como afirmam seus críticos.
"Não se pode ser chefe apenas quando as coisas saem bem para você (...) Respondo perante o povo francês".
Mas sua contra-ofensiva para tentar acabar com o escândalo não convenceu a oposição, que criticava nesta quarta-feira o fato de o chefe de Estado falar diante de seus partidários e não perante todos os franceses.
"Eu gostaria que ele se dirigisse à França e aos franceses. O presidente não deve falar aos deputados do LREM, mas aos franceses, que são os que deram a sua legitimidade", declarou o presidente do Senado, Gérard Larcher.
O presidente do partido conservador Os Republicanos no Senado, Bruno Retailleau, denunciou por sua parte o que considerou "um corte de mangas à oposição, à imprensa e aos franceses". "Que reserve o furo (de suas declarações) apenas aos seus é algo muito desconcertante", opinou.
O porta-voz do governo, Benjamin Griveaux, assegurou nesta quarta-feira que o governo "aprenderá todas as lições" deste caso, mas negou que seja um "escândalo de Estado", como a oposição afirma.
"Construir uma República exemplar", como Macron prometeu quando assumiu o cargo, "não significa ter prometido uma República infalível", acrescentou.
Esta crise política é a mais grave que Emmanuel Macron enfrenta desde que foi eleito, em 2017.
"Um colaborador do chefe de Estado agredir manifestantes é a verticalidade do poder em sua manifestação mais crua, especialmente quando, inicialmente, o macronismo defendia uma horizontalidade da sociedade civil", apontou o historiador Christophe de Voogd em uma entrevista ao jornal Le Figaro.
"Pensávamos que o Eliseu com Macron era um modelo de organização eficaz e descobrimos de súbito enormes problemas de funcionamento", explicou o cientista político Bruno Cautrès.
Este caso "marcará um antes e um depois para Emmanuel Macron", acrescentou o especialista do Centro de Pesquisa Política do centro universitário Science Po.