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Macron corre contra o tempo para garantir maioria contra esquerda no Parlamento

A coalizão de esquerda liderada por Jean-Luc Mélenchon apresenta as legislativas na França como um "terceiro turno" da eleição presidencial e pode roubar cadeiras de Macron

O presidente da França, Emmanuel Macron, vota nas eleições parlamentares francesas: risco de perder maioria no segundo mandato (AFP/AFP)

O presidente da França, Emmanuel Macron, vota nas eleições parlamentares francesas: risco de perder maioria no segundo mandato (AFP/AFP)

Drc

Da redação, com agências

Publicado em 14 de junho de 2022 às 02h00.

Última atualização em 14 de junho de 2022 às 02h00.

A aliança centrista do presidente francês, Emmanuel Macron, tenta virar o jogo nesta semana para preservar sua maioria absoluta no Parlamento, após um primeiro turno ruim nas eleições legislativas do país, que ocorrem em duas etapas.

O primeiro turno no domingo traçou um panorama incerto para Macron. Sua coalizão Juntos e a Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes) empataram em torno de 25,7% dos votos. O segundo turno acontece neste domingo, 19 de junho.

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Manter a maioria é visto como fundamental para aplicar as promessas liberalizantes de Macron, reeleito em 24 de abril para um segundo mandato como presidente.

Os institutos de pesquisa projetam que, após o segundo turno em 19 de junho, as forças de Macron poderiam obter entre 255 e 295 assentos, seguidas pela frente de esquerda (150 a 210). A maioria absoluta está em 289 deputados.

Liderada por Jean-Luc Mélenchon, a Nupes se tornou o principal rival do partido da situação, que agora recorre à mesma estratégia usada contra a extrema-direita na eleição presidencial de abril: apresentar seus adversários como extremistas perigosos.

"Nossas instituições estão em perigo, porque, no fundo, Jean-Luc Mélenchon e a Nupes não buscam o poder, mas enfraquecê-lo, a anarquia", disse a ministra da Transição Ecológica, Amélie de Montchalin, próxima de Macron, à televisão CNews.

Mélenchon, que com quase 22% dos votos ficou de fora por pouco do segundo turno presidencial em abril, conseguiu formar uma frente unida de sua esquerda radical com ambientalistas, comunistas e socialistas pela primeira vez em 25 anos.

A coalizão de esquerda apresenta as legislativas como um "terceiro turno" da eleição presidencial, estimando que os franceses votaram em Macron para impedir que sua rival de extrema-direita Marine Le Pen chegasse ao poder, e não por seu programa.

"Se não querem mais cinco anos de Macron, há centenas e centenas de círculos eleitorais onde a Nupes está no segundo turno, ainda podemos governar", pediu a deputada Clémentine Autin à rádio France Inter.

Suas críticas se concentram no programa reformista do presidente liberal, como o adiamento na idade de aposentadoria de 62 para 65 anos, e promete gastos públicos adicionais de 250 bilhões de euros, compensados por impostos e contribuições sociais.

"Muitos poucos casos"

A semana será fundamental para o partido no poder, que busca mobilizar e convencer os eleitores a votarem nos candidatos da aliança centrista que foi ao segundo turno em 577 distritos do país.

Tudo isto em um contexto de forte abstenção, que atingiu um novo recorde - 52,49% - e superando o registrado em 2017 (51,3%), o que mostra o desinteresse dos franceses após a eleição presidencial.

"Juntos" também se viu imerso em uma polêmica sobre se pediria voto para a Nupes nos 62 círculos eleitorais onde enfrenta a extrema-direita no segundo turno. O slogan oficial é "nem um voto" para a extrema-direita.

Mas, "em muito poucos casos" não haverá recomendação, disse a porta-voz do governo, Olivia Grégoire. Entre a líder da extrema-direita e a Nupes, a candidata oficialista no distrito eleitoral de Marine Le Pen pediu no domingo "voto em branco", após ser eliminada.

Embora a possibilidade de uma "coabitação" ainda esteja presente, os analistas apostam mais em uma maioria relativa do Juntos, o que o obrigaria a forjar alianças.

Isso complicaria o impulso reformista do presidente liberal que, além da reforma previdenciária, busca promover a energia nuclear para a produção de eletricidade, ou condicionar uma renda mínima vital, entre outras medidas.

O tradicional partido de direita Os Republicanos (LR), que obteve 11,3% dos votos junto com seu aliado UDI no primeiro turno, é visto como crucial para aprovar leis, apesar de a eleição de Macron em 2017 ter causado um terremoto dentro do partido.

"Nosso grupo pode desempenhar um papel muito importante na promoção das reformas de que o país necessita" em matéria de aposentadoria, segurança, ou poder de compra, disse a deputada Agnès Evren.

O LR ainda não tem uma posição oficial a esse respeito.

(Com informações da AFP)

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