Agência de notícias
Publicado em 4 de fevereiro de 2025 às 10h28.
Última atualização em 4 de fevereiro de 2025 às 10h32.
Em uma iniciativa sem precedentes, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, ofereceu-se para receber presos condenados nos Estados Unidos, incluindo cidadãos americanos, no sistema prisional salvadorenho. A proposta, classificada pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, como "uma oferta de amizade", não foi apresentada em detalhes, mas o destino final dos detentos foi mencionado por Bukele: o Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot).
O Cecot foi inaugurado com pompa em julho de 2022, durante o primeiro mandato de Bukele. A prisão de segurança máxima, conhecida como a Alcatraz da América Central — uma referência àquela que foi considerada a mais segura do mundo por anos — transformou-se em um símbolo da guerra contra as organizações criminosas lançada pelo presidente. A política diminuiu vertiginosamente o número de crimes violentos no país, fulminou as gangues a Mara Salvatrucha (MS-13) e Barrio 18 (que dominavam porções do país), ao custo de um regime de exceção que deteve cerca de 83 mil pessoas sem ordem judicial.
O regime prisional no Cecot é extremamente rígido. Luzes artificiais iluminam as celas e o pátio interno 24 horas por dia. Os prisioneiros dormem em camas de ferro com chapas de metal que chegam até o teto. Um circuito de segurança fechado observa cada movimento. Uma reportagem publicada pelo jornal El País, no ano passado, constatou que os presos naquela unidade comem feijão e arroz com as mãos, porque garfos e facas podem se tornar armas mortais. Banho e higiene dental, apenas em bacias de pedra. Banheiro, nos fundos, à vista de todos.
Os detentos têm permissão de no máximo 30 minutos por dia para sair para um enorme corredor interno, sempre com algemas nas mãos e nos pés — sempre observados por policiais encapuzados e armados com rifles, posicionados no telhado.
Na maior parte do tempo, os presos ficam sozinhos. Duas bíblias ficam disponíveis em cada quarto, embora eles não recebam nenhuma assistência espiritual. Esse é o sistema que Bukele pretende oferecer ao governo Trump.
"Oferecemos aos Estados Unidos da América a oportunidade de terceirizar parte de seu sistema prisional", escreveu Bukele no X, dizendo que seu governo estava disposto a aceitar criminosos condenados, incluindo cidadãos americanos, por uma taxa. "A taxa seria relativamente baixa para os EUA, mas significativa para nós, tornando todo o nosso sistema prisional sustentável."
We have offered the United States of America the opportunity to outsource part of its prison system.
We are willing to take in only convicted criminals (including convicted U.S. citizens) into our mega-prison (CECOT) in exchange for a fee.
The fee would be relatively low for… pic.twitter.com/HTNwtp35Aq
— Nayib Bukele (@nayibbukele) February 4, 2025
Nenhuma pessoa que entrou algemada no Cecot jamais conseguiu escapar. Para fugir da prisão, teriam de passar por quatro muros de 60 centímetros de espessura e três metros de altura, cobertos por arame farpado. O chão de cascalho denunciaria seus passos.
Apenas um fluxo de ar escapa por uma abertura no teto, que é impossível de escalar através das paredes lisas. Atrás das grades estão os prisioneiros mais perigosos do país. Pessoas com dezenas de assassinatos nas costas, cumprindo penas de 700 anos. Há oito módulos com um número indeterminado de prisioneiros.
Ao comentar sobre a proposta de Bukele na segunda, Rubio disse que ele teria aceito manter sob custódia migrantes sem documentos que foram condenados por crimes e deportados dos EUA, e também criminosos condenados que estão atualmente cumprindo suas penas nos Estados Unidos, "mesmo que sejam cidadãos americanos ou residentes legais". Ele disse ter tratado sobre o tema com Donald Trump.
O secretário também sugeriu que a transferência de presos se concentraria em membros de gangues como a MS-13 (de El Salvador, Honduras e Guatemala) e o Trem de Aragua, da Venezuela, que adquiriram a cidadania americana. Embora os detalhes do plano ainda não sejam conhecidos, deportar cidadãos americanos é contrário a proteções legais, sendo vedada em quase todos os casos, exceto nos mais raros.