Celac 2024: Lula tenta unificar a América Latina em meio a tensões políticas (Ricardo Stuckert / PR/Flickr)
Agência de notícias
Publicado em 7 de abril de 2025 às 10h44.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará um discurso nesta quarta-feira, 10, durante a cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) em Honduras. O objetivo será promover a integração regional e superar a fragmentação crescente na América Latina, sem fazer menções diretas ao presidente americano Donald Trump ou aos efeitos de suas políticas na região. Fontes diplomáticas brasileiras confirmaram que Lula apresentará um diagnóstico do cenário atual e convocará os países para uma ação coletiva.
Uma das principais propostas do Brasil será articular o nome de um candidato latino-americano para disputar a Secretaria-Geral da ONU em 2026, posto que não é ocupado por um representante da América Latina desde o peruano Javier Pérez de Cuéllar (1982-1991). Além disso, o governo brasileiro buscará garantir um equilíbrio na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), onde tem crescido a preocupação com uma possível predominância de membros conservadores, alguns com vínculos com o bolsonarismo.
Outro ponto em debate será o fortalecimento da Aliança Global contra a Fome e o papel da América Latina na COP30, evento ambiental que ocorrerá em 2025. O Brasil espera que os países da região, especialmente os amazônicos, se unam para influenciar as discussões globais.
Apesar do esforço de Lula, a principal dificuldade para promover a unidade na Celac é a presença de obstáculos como o governo argentino de Javier Milei, que tem se alinhado com os Estados Unidos. Milei tem sido apontado como o principal bloqueador de qualquer ação conjunta na organização. Segundo o professor de Relações Internacionais Juan Tokatlián, da Universidade Di Tella, a postura de obstrução de Milei tem prejudicado as tentativas de consenso na Celac.
Outro fator complicador é a presença do presidente Nicolás Maduro, da Venezuela. Sua participação no encontro ainda não foi confirmada, e analistas acreditam que, se comparecer, o governo brasileiro dificilmente poderá recusá-lo, dado o contexto político da região.
Apesar dos esforços de Lula, fontes brasileiras admitem que a cúpula da Celac pode não resultar em uma declaração final devido às divergências internas. Além da resistência de Milei, há também desacordos sobre temas sensíveis como igualdade de gênero e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O Brasil, por exemplo, propôs uma declaração sobre mulheres, paz e segurança, mas a aprovação tem se mostrado complicada.
Lula ainda aposta em sua capacidade de liderança para avançar com um discurso unificador, mas os desafios no campo diplomático são consideráveis, com diferentes alinhamentos políticos dificultando o alcance de um consenso.