Imperador Naruhito proclama ascensão ao trono japonês (Cabinet Office of Japan/Reuters)
Editor de Macroeconomia
Publicado em 24 de março de 2025 às 18h25.
Última atualização em 24 de março de 2025 às 19h40.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está em viagem oficial ao Japão e o primeiro item de sua agenda é um encontro com o imperador Naruhito, que assumiu o trono em 2019. O encontro será reservado, no Palácio Imperial japonês, na noite desta segunda-feira — manhã de terça-feira, 25, em Tóquio.
Segundo a agenda oficial de Lula, será um encontro reservado do presidente e a primeira-dama, Janja da Silva, com Naruhito e sua esposa, a imperatriz Masako, previsto para as 21h35 no horário de Brasília, às 9h35 de terça no Japão.
O Japão recebe somente um líder de Estado por ano, que em 2025 será Lula. Desde 2019, nenhum líder foi recebido no país; o último foi o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em nota, o governo brasileiro informou que, desde 2023, com o fim da pandemia, os contatos de alto nível entre as autoridades dos países se intensificaram.
"Em 2023, o presidente Lula participou da Cúpula do G7, em Hiroshima. Em maio de 2024, o então primeiro-ministro Fumio Kishida realizou visita oficial ao Brasil, e em novembro, o primeiro-ministro Shigeru Ishiba participou da Cúpula do G20, no Rio de Janeiro, quando teve um encontro bilateral com o presidente Lula", diz nota do governo federal.
Segundo a equipe do presidente, no Japão ele faz uma visita de "primeira categoria", a mais alta da diplomacia local, realizada apenas uma por ano, o que prevê a audiência com o imperador.
"O Japão realiza apenas uma visita de Estado por ano. A última aconteceu em 2019 com o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Desde então, em função da pandemia, não houve nenhuma. A relação entre Brasil e Japão foi elevada à Parceria Estratégica e Global em 2014, durante a visita do então primeiro-ministro Shinzo Abe ao Brasil", informou o governo brasileiro.
O Japão mantém um imperador não como chefe de governo, mas como símbolo do Estado e da unidade do povo japonês, como definiu a Constituição de 1947. Esse papel é puramente cerimonial e não envolve poder político ou decisão de governo, segundo informa a embaixada do Japão.
A presença do imperador está profundamente enraizada na história e na cultura japonesa, mas foi redefinida no pós-guerra para se alinhar aos princípios democráticos e à separação dos poderes.
Segundo a constituição, o imperador:
- Indica o primeiro-ministro e o presidente da Suprema Corte, mas apenas conforme designado pelo parlamento japonês;
- Realiza atos estatais formais, como a promulgação de leis ou a convocação do parlamento, sempre com aprovação do gabinete;
- Não exerce funções de governo nem tem autoridade sobre os três poderes: legislativo, executivo e judiciário.
Esse modelo coloca o Japão entre as democracias parlamentares com monarquias constitucionais, como o Reino Unido, em que o chefe de Estado é simbólico e o poder político é exercido por representantes eleitos. O imperador, portanto, reforça a identidade e continuidade nacional, mas sem interferir nas decisões políticas.
Cada imperador designa "eras" para marcar seu reinado. Naruhito escolheu chamar a sua de "Reiwa", uma combinação de dois caráteres inspirados em um clássico da poesia japonesa Waka.
O termo é inspirado em um dos principais cânticos da coleção "Manyoshu", de Waka, a mais antiga poesia japonesa, compilada por volta do século VIII, e foi escolhida entre cinco candidatos, anunciou em uma entrevista coletiva o ministro porta-voz do governo japonês, Yoshihide Suga.
O reinado do imperador Akihito, pai de Naruhito que assumiu o trono em 1989 e renunciou em 2019, era chamado de era "Heisei", termo formado por dois caráteres que juntos poderiam ser traduzidos como "alcançar a paz".
Os nomes das eras japonesas anteriores eram "Meiji" (governo esclarecido) de 1867, quando o imperador Mutsuhito ocupava o trono; "Taisho" (grande legitimidade), de 1912, a era do Imperador Yoshihito; e "Showa" (paz e harmonia) de 1926, a era do Imperador Hirohito.
Naruhito assumiu o trono após a renúncia de Akihito, em 2019, por questões de saúde e idade avançada.
Nascido em 1960, ele tem perfil acadêmico e trajetória familiar fora dos padrões imperiais. Formado em História pela Universidade Gakushuin e com passagem pela Universidade de Oxford, onde estudou o transporte fluvial no rio Tâmisa, Naruhito simboliza um perfil mais acadêmico e cosmopolita para a família imperial japonesa.
Ao longo da carreira pública, manteve vínculos com temas ligados à água e saneamento, inclusive como presidente honorário da ONU na área.
Sua trajetória também se distancia da tradição ao priorizar vínculos familiares: defendeu a esposa, a ex-diplomata Masako, durante uma crise de saúde ligada ao ambiente da corte, e participou ativamente da criação da filha, Aiko.Esse comportamento contrasta com a prática histórica de afastamento entre herdeiros e seus pais no ambiente imperial.
Naruhito foi o primeiro herdeiro do trono japonês a estudar no exterior e, além de se dedicar aos estudos, teve contato com atividades cotidianas, como lavar a própria roupa e usar cartão de crédito.
"Ao retornar ao Japão, concluiu parte de um doutorado em História Japonesa na Universidade Gakushuin, em 1988. Manteve vínculos com a instituição, tornando-se pesquisador visitante em 1992 e ministrando aulas esporádicas no local", diz trecho de sua biografia na enciclopédia Britannica.
A família imperial do Japão enfrenta o perigo de ficar sem herdeiros, devido à escassez de imperadores elegíveis, enquanto alguns especialistas observam que as ideias apresentadas por um painel recente para aumentar o número de membros da realeza estão desatualizadas.
As mulheres são excluídas do trono pelas regras de sucessão, razão pela qual o imperador Naruhito, de 61 anos, um dia será substituído por seu sobrinho, o príncipe Hisahito, e não por sua única filha, a princesa Aiko.
Mas, se Hisahito, de 15 anos, não tiver um filho, a família real - de 2.600 anos - ficará sem herdeiros homens para manter a linhagem.
As pesquisas de opinião mostram que o público defende a ideia de uma mulher como imperatriz. Esta posição não tem poder na atual Constituição japonesa, mas ostenta grande peso simbólico.