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Lula nega volta da inflação e critica 'profetas do caos'

Ex-presidente fez discurso para empresários e investidores

Lula: "Presidenta Dilma Rousseff já tomou medidas e assumiu o compromisso de controlar a inflação, mas sem tirar a força do mercado interno" (Sean Gallup/Getty Images)

Lula: "Presidenta Dilma Rousseff já tomou medidas e assumiu o compromisso de controlar a inflação, mas sem tirar a força do mercado interno" (Sean Gallup/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 6 de maio de 2011 às 11h17.

São Paulo - Numa palestra para investidores e empresários na noite de ontem, em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva minimizou o retorno da inflação. Preocupado em acalmar a sociedade, Lula falou, pela segunda vez em uma semana, que o País não terá dificuldades "para debelar essa elevação conjuntural da inflação", porque enfrentou circunstâncias piores em 2008 e 2009. Segundo ele, a volta da inflação é especulação dos "profetas do caos".

"Muitos profetas do caos acham que o sucesso brasileiro, que conseguiu equilibrar desenvolvimento econômico com inclusão social, está ameaçado pela volta da inflação. O mesmo ocorreu em 2003, quando muita gente apostava no fracasso do Brasil e previa que a inflação, que alcançou 12,5% em 2002, continuaria a crescer", disse.

Há uma semana, ele discursou para uma plateia de sindicalistas da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, entidade vinculada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), e destacou que o governo da presidente Dilma Rousseff não permitiria o retorno da inflação. Ontem, na palestra paga pelo Bank of America Merrill Lynch, Lula abriu o discurso de uma hora e cinco minutos ressaltando o compromisso de Dilma em controlar a alta dos preços. "A alta da inflação não tem causas estruturais, é um fenômeno passageiro, com causas externas, e será revertido graças à ação decidida do governo e da sociedade", disse.

"A presidenta Dilma Rousseff já tomou medidas e assumiu o compromisso de controlar a inflação, mas sem tirar a força do mercado interno, pois sabe que os maiores prejudicados pela alta do custo de vida são os milhões de brasileiros pobres, cuja vida melhorou muito nos últimos oito anos e não podem pagar a conta do aumento dos preços internacionais. Não podemos sacrificar o crescimento econômico e a mobilidade social, que fez renascer a esperança para milhões de brasileiros", completou.

Os jornalistas não tiveram acesso ao evento para que o ex-presidente pudesse circular, livremente, entre os quase 800 convidados do banco, entre clientes, banqueiros, empresários e investidores brasileiros e estrangeiros. Os convidados receberam um convite individual para o jantar na Casa Fasano, buffet badalado da zona sul da capital paulista, mas alguns fizeram questão de trazer as esposas, "ávidas" para ver Lula de perto.

Fotos

Assim como nos eventos para plateias menos endinheiradas, no fim Lula ainda parou para tirar fotos com investidores e empresários. Acompanhado do ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles e do ex-ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Luiz Fernando Furlan, Lula fez o tradicional balanço dos oito anos de gestão e ressaltou que o Brasil é, atualmente, "uma das economias mais dinâmicas do mundo".

Lula chegou com um pronunciamento preparado e acrescentou comentários de improviso, para a "alegria" dos investidores. "Ele é um bom vendedor de Brasil, né?", comentou um convidado. A imprensa só teve acesso ao texto previamente pronto, sem os "adendos" de Lula. Nos bastidores, comentava-se que os assessores do ex-presidente haviam encaminhado a fala, antecipadamente, ao banco, o que a assessoria dele negou.

"Ele está superprofissional", elogiou outro convidado. Durante o evento, Lula se dirigiu algumas vezes a Meirelles e a Furlan. "Ele citou principalmente os momentos mais difíceis", resumiu o ex-presidente do BC, no fim da palestra. Lula mencionou a crise do subprime como exemplo de superação da economia brasileira. "Também soubemos combater um processo inflacionário importado do exterior, quando os preços dos alimentos subiram em todo o mundo em meados de 2008, pressionando a inflação e prejudicando os mais pobres", afirmou Lula. "Não vacilamos na hora de combater a inflação", disse.

Debandada

A plateia vip ouviu citações aos "feitos" do mandato, como o Bolsa Família, o Programa Luz para Todos, o Minha Casa Minha Vida, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a descoberta do pré-sal e a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. "O momento é de confiança no Brasil, um país que caminha para ser a quinta maior economia do mundo, que vai brilhar na organização e realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas", disse Lula.

Nos primeiros 15 minutos da apresentação, muitos convidados deixaram o evento, como o ex-presidente do BC no governo Fernando Henrique Cardoso, o economista Pérsio Arida. "Ele (Lula) falou muito que nunca se trabalhou para a população pobre (antes) e que algumas pessoas da classe mais abastada não gostam dos programas que ele fez. Alguns não gostaram, mas ele foi bastante aplaudido", comentou Furlan.


Na saída, Henrique Meirelles disse que Lula fez um discurso "adequado" para a condição de ex-mandatário e que os comentários dele demonstraram a "grande fé" na administração Dilma. "Ele disse que o futuro pertence à Dilma", contou. Questionado sobre o controle da inflação em sua gestão no BC, Meirelles disse que a política monetária da época foi bem-sucedida. "A política executada naquele período trouxe resultados concretos, não só com a inflação orbitando em torno do centro da meta, mas principalmente pelo resultado do crescimento do País e do aumento do padrão de vida. Eu tenho a sensação de dever cumprido", afirmou.

Para Furlan, a tônica do discurso de Lula foi voltada para a evolução do País nos últimos anos e a inflação foi mencionada porque o compromisso de Dilma em controlá-la permaneceu. "Acho que esse compromisso será mantido", avaliou. Furlan acredita que o País não deve viver este ano a mesma alta de preços de 2010 e que o problema não é uma exclusividade brasileira. "Uma boa parte da inflação é episódica. Está afetando o mundo inteiro", concluiu.

Um dia após o fim do prazo para a devolução dos passaportes diplomáticos concedidos aos seus filhos e netos, Lula evitou os jornalistas. A assessoria de imprensa do ex-presidente disse que ele não se pronunciaria sobre o assunto.

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