Mundo

Lula critica intervenção de países na Venezuela: 'nenhum presidente tem que dar palpite'

Em discurso no congresso do PCdoB, Lula afirma que a Venezuela é responsável pelo seu destino e critica políticas de intervenção externa

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 17 de outubro de 2025 às 08h13.

Sem citar o líder americano, Donald Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou eventuais tentativas de intervenção na Venezuela de Maduro. A declaração ocorre em meio a uma escalada de hostilidades do governo americano contra o regime venezuelano.

"Porque todo mundo diz que a gente vai transformar o Brasil na Venezuela. E o Brasil nunca vai ser a Venezuela e a Venezuela nunca vai ser o Brasil. Cada um será ele. O que nós defendemos é que o povo venezuelano é dono do seu destino e não é nenhum presidente de outro país que tem que dar palpite de como vai ser a Venezuela ou vai ser Cuba", afirmou Lula.

Críticas à intervenção externa e defesa da soberania da Venezuela

A fala ocorreu durante a abertura do congresso do PCdoB, em Brasília. Instantes antes, o presidente do PT, Edinho Silva, classificou como "inaceitável" a ofensiva de Trump contra Maduro no mesmo dia em que chanceleres do Brasil e dos EUA se encontraram em Washington para negociar sobre o tarifaço americano a produtos brasileiros.

O governo de Donald Trump autorizou a Agência Central de Inteligência (CIA) a conduzir ações na Venezuela.

A autorização é o passo mais recente na intensificação da campanha de pressão contra a Venezuela pelo governo Trump, que desde agosto envia navios de guerra ao Caribe para operações de combate ao tráfico de drogas, segundo Washington, enquanto acusa Maduro de liderar redes de narcotráfico.

Pelo menos cinco pequenas embarcações foram bombardeadas desde então, deixando 27 mortos, o que Caracas chama de "execuções extrajudiciais".

A análise de Lula sobre a ascensão da extrema-direita

disse também que a eleição de figuras da extrema direita como Jair Bolsonaro no Brasil e no mundo deve ser compreendida também a partir dos erros da esquerda.

Em discurso na abertura do congresso do PCdoB, Lula elogiou os ex-presidentes de esquerda da América do Sul com os quais conviveu e citou o líder venezuelano Hugo Chávez, morto em 2012 e sucedido pelo autoritário Nicolás Maduro, que permanece no poder até hoje.

"Muitas vezes, a gente costuma jogar culpa nos outros e não pensa se a gente errou. Como é que isso explica uma figura politicamente chucra como Bolsonaro virar presidente da República desse país? (...) Tive o prazer de viver na presidência do Brasil entre 2003 e 2010, no melhor momento político, ideológico e social da América do Sul, a minha convivência com Cristina Kirchner (da Argentina), a minha convivência com Michele Bachelet, do Chile, com Tabaré Vázquez no Uruguai, com Fernando Lugo no Paraguai, com tanta gente, com Chávez na Venezuela, com Evo Morales na Bíblia, isso tudo acabou", disse Lula.

Críticas à direita e o desafio da comunicação com a sociedade

Lula lembrou a criação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) como símbolo da cooperação regional durante seu primeiro governo e disse que as eleições mais recentes mostram que "a direita está voltando".

"Nós tínhamos criado a Unasul, que era o melhor momento político da América do Sul em 500 anos de história. E não é fácil reconstruir, porque a eleição está mostrando que a extrema direita tá voltando", disse.

Lula repetiu que deve ser candidato à reeleição: — Se eu decidisse ser candidato, não é para disputar só, é para a gente ganhar essas eleições. Porque nós não temos direito de permitir que a extrema-direita volte a sonhar e governar esse país.

O discurso de Lula à militância de esquerda

O presidente também pediu à militância de esquerda que adequasse seu discurso ao grande público. A fala foi feita diante de ministros e de uma plateia composta por militantes e dirigentes do PCdoB, partido da base do governo e tradicional aliado de esquerda do PT.

"A gente tem que calibrar o discurso para falar com a sociedade brasileira. A gente não tem que dar muita importância à Faria Lima, não. O nosso discurso é para o povo brasileiro, para aqueles que trabalham", afirmou Lula, em alusão à avenida paulistana que é sede de bancos e corretoras de investimento.

O presidente, que tem feito movimentos de aproximação aos evangélicos, público majoritariamente conservador, disse que é preciso saber como falar com o segmento.

"Qual é o projeto que vamos apresentar a esse país? Quando é que vamos deixar de dizer que os evangélicos são contra nós? Evangélicos não são contra nós nada. Nós é que não sabemos falar com eles. O erro está na gente, o erro não está neles", criticou Lula, que recebeu nesta quinta-feira o bispo Samuel Ferreira, presidente da Convenção Nacional das Assembleias de Deus. Ferreira apoiou Bolsonaro na eleição de 2022.

Acompanhe tudo sobre:Luiz Inácio Lula da SilvaVenezuelaNicolás MaduroDonald Trump

Mais de Mundo

Governo declara estado de emergência no Peru após protesto da Geração Z

Venezuela cresce 8,7% no PIB, mas população ainda sofre com inflação

Trump diz que Índia concordou em parar de importar petróleo russo; Nova Deli nega

Brasil e EUA trabalharão por encontro de Lula e Trump 'o mais breve possível', diz nota dos governos