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Lugo, o primeiro presidente do Paraguai cassado

Apenas quatro senadores apoiaram Lugo, que, com 39 votos contra, perdeu um ''julgamento político''

Apesar do apoio das outras nações sul-americanas, Lugo pagou muito caro pela morte de seis policiais e 11 sem-terra durante uma operação de reintegração de posse (Norberto Duarte/AFP)

Apesar do apoio das outras nações sul-americanas, Lugo pagou muito caro pela morte de seis policiais e 11 sem-terra durante uma operação de reintegração de posse (Norberto Duarte/AFP)

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Da Redação

Publicado em 4 de julho de 2012 às 17h14.

Assunção - Fernando Lugo teve uma Presidência amarga: o ex-bispo que pôs fim a 61 anos de governo ''colorado'' no Paraguai padeceu e combateu o câncer, se viu envolvido em sucessivos escândalos de paternidade e foi cassado nesta sexta-feira após ser considerado ''culpado'' de mau desempenho de seu cargo.

Apenas quatro senadores apoiaram Lugo, que, com 39 votos contra, perdeu um ''julgamento político'' promovido na véspera pela Câmara dos Deputados e desenvolvido hoje em um Senado constituído como tribunal.

Outros líderes paraguaios passaram antes por este processo constitucional, mas Lugo foi o primeiro formalmente destituído. Raúl Cubas preferiu renunciar, em 1999, antes de sofrer um impeachment durante os protestos conhecidos como o ''março paraguaio''.

Apesar do apoio das outras nações sul-americanas, Lugo pagou muito caro pela morte de seis policiais e 11 sem-terra durante uma operação de reintegração de posse no último dia 15 na fazenda do político e empresário ''colorado'' Blas N. Riquelme em Curuguaty, no nordeste do país, perto da fronteira com o Brasil.

Como ele mesmo disse nesta semana, a luta pela terra no Paraguai ''foi historicamente não violenta''; mas se tingiu de sangue em Curuguaty.

Esse episódio sangrento foi uma das cinco acusações que o levaram à cassação: ele também foi considerado responsável por instigar as ocupações de terras na região produtora de soja de Ñacunday e pela onda de violência no Paraguai.

As outras duas acusações estão ligadas a seu apoio a um ato político de jovens esquerdistas realizado em um quartel em maio de 2009 e ao protocolo de Ushuaia II do Mercosul, que atualizou a ''cláusula democrática'' do bloco.


As mudanças à frente da cúpula policial e sua promessa de encomendar a investigação do ocorrido em Curuguaty a uma comissão especial com apoio da OEA não acalmaram os ânimos no país: somente uma deputada esquerdista votou ontem a seu favor, enquanto os outros 75 pediram o ''julgamento político'' depois que o Partido Liberal Radical Autêntico, principal aliado de Lugo na coalizão de governo, ter retirado seu apoio ao presidente.

Nascido em 30 de maio de 1951 em San Pedro del Paraná, no centro do país, Lugo foi criado no sul, na cidade da Encarnación, em uma família humilde.

Seus pais, Guillermo Lugo e Maximina Méndez, sofreram com a repressão e foram presos durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989).

Em março de 1970, Lugo ingressou no Noviciado dos Missionários do Verbo Divino; professou em setembro de 1972 em Assunção, e em 1975 fez os votos perpétuos.

Ordenado sacerdote no dia 15 de agosto de 1977, curiosamente a mesma data na qual assumiu como presidente, em 2008, ele imediatamente se transferiu ao Equador como missionário, para retornar ao Paraguai em 1982.

Lugo foi ordenado bispo em 17 de abril de 1994 e passou a trabalhar na diocese de San Pedro, onde se identificou com os mais pobres e chegou a liderar, em março de 2006, um protesto de 30 mil pessoas contra o então presidente, Nicanor Duarte (2003-2008).

Em San Pedro, ele se projetou como figura política, o que o levou a renunciar ao estado clerical em 18 de dezembro de 2006, decisão rejeitada pelo Vaticano, que decidiu por outro lado suspendê-lo.


Com o respaldo do Partido Liberal, Lugo concorreu como candidato presidencial às eleições gerais de 20 de abril de 2008, nas quais venceu com 40,82% dos votos, embora os ''colorados'' tenham obtido a maioria no Legislativo.

Pouco antes de assumir o cargo, a Santa Sé lhe concedeu a dispensa papal e redução ao estado laico, exortando-o a ''ser fiel à fé católica e a levar uma vida coerente com o Evangelho''.

No dia 6 de agosto de 2010, os médicos, depois de lhe retirarem um gânglio na virilha, confirmaram que ele sofria de um ''linfoma cancerígeno maligno'' que o obrigou a um longo tratamento oncológico no Paraguai e no Brasil.

Os médicos que o atenderam confirmaram ''o desaparecimento completo'' do câncer no dia 27 de janeiro, mas a tranquilidade de Lugo durou pouco.

No último dia 5, seu advogado anunciou que Lugo reconhecerá um segundo filho, nascido há dez anos de uma relação com Narcisa Delacruz, uma enfermeira de 42 anos. Além disso, outras mulheres o processam para pedir exames de paternidade. O primeiro filho de Lugo foi reconhecido no dia 13 de abril de 2009.

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