Ex-braço direito de Jean-Claude Trichet no BCE, Papademos tem o desafio de ajustar as contas públicas para tirar a Grécia da crise (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de novembro de 2011 às 14h08.
Atenas - Lucas Papademos, de 64 anos, encarregado nesta quinta-feira de formar um governo de coalizão na Grécia, é considerado um banqueiro experiente - já ocupou o cargo de vice-presidente do Banco Central Europeu (2002-2010), tendo ajudado o país a se aproximar do euro.
Sua passagem pelo Banco permitiu a ele ganhar a estima dos meios políticos e financeiros internacionais, figurando entre os conselheiros econômicos do então primeiro-ministro grego Georges Papandreou.
Foi braço direito de Jean-Claude Trichet, que presidiu o BCE até outubro.
Mas sempre privilegiou a discrição, preferindo permanecer na sombra, deixando os refletores para seus chefes, mesmo participando regularmente das entrevistas à imprensa mensais concedidas pelo presidente do Banco Central Europeu.
Este perfil de administrador discreto e rigoroso poderia apaziguar uma Grécia dilacerada por uma crise política acompanhada de recessão e que toma ares de depressão, ao final de quatro anos de marasmo econômico.
É também um europeu determinado, a par de todas as voltas e reviravoltas que levaram a Grécia à Zona do Euro, pelo que batalhou enquanto governador do Banco Central da Grécia (1994-2002), em parceria com o primeiro-ministro socialista Costas Simitis.
Designado à chefia de uma equipe encarregada de confirmar a opção europeia, ante interlocutores que evocam abertamente, agora, a saída da Grécia da moeda comum, Papademos deverá supervisionar a colocação em prática do acordo europeu que cortou a dívida grega em 50%, concluído nos dias 26 e 27 de outubro, em Bruxelas.
O acordo, que deve permitir um alívio de cerca de 100 bilhões de euros na dívida pública do país de 350 bilhões de euros, correspondendo a 165% do PIB, conta com o consentimento de credores privados - bancos e fundos de investimentos, que aceitaram perder 50% do montante inicial.
Comentando um primeiro esboço do plano, elaborado em julho mas bem menos favorável à Grécia, Papademos havia expressado ceticismo com a possibilidade de um corte: "O benefício econômico de uma reestruturação da dívida será muito menos importante do que se diz e esta tentativa comporta riscos significativos para a Grécia e a Zona do Euro", havia declarado ao jornal grego To Vima.
Um corte de 50% do débito deve, logicamente, conduzir à nacionalização dos bancos gregos, o que não está a gosto do sistema bancário na Grécia, constituindo um paradoxo num Estado quase em quebra. Já no começo da crise, um pequeno banco, o Proton, já foi nacionalizado através dos recursos injetados.
Papademos parece, em todo o caso, gozar da confiança da Alemanha, parceira importante de Atenas na tempestade atual. Segundo a mídia alemã, Berlim teria desejado logo no início da crise da dívida grega, no inverno de 2010, encarregá-lo de supervisionar e pôr em prática o plano de resgate europeu.
Como numerosos membros da elite grega, este ex-professor da Universidade de Atenas fez uma parte dos estudos de economia nos Estados Unidos, onde obteve um doutorado em filosofia no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Após deixar o BCE, deu aulas na Universidade de Harvard. Até aí, não parecia apressado em reencontrar a política grega efervescente, pelo que declinou, em junho, um primeiro apelo de ajuda encaminhado por Papandreou que queria que dirigisse o ministério das Finanças.
A disciplina que ministrou em Harvard? "A crise econômica mundial: respostas e desafios".