Andres Manuel Lopez Obrador (Hector Vivas/Getty Images)
AFP
Publicado em 11 de abril de 2022 às 08h38.
O presidente Andrés Manuel López Obrador governará o México até 2024, após a vitória em um referendo da opção que defendia sua continuidade no cargo, apesar da baixa participação.
Ao agradecer o apoio, López Obrador descartou a possibilidade de usar a vitória no referendo para estimular uma reforma constitucional que permita sua reeleição.
"Não vou fazer porque sou democrata e não sou a favor da reeleição. Vamos terminar a obra de transformação", disse o presidente de esquerda em uma mensagem divulgada nas redes sociais.
De acordo com a apuração rápida do Instituto Nacional Eleitoral (INE), entre 90,3% e 91,9% dos eleitores votaram a favor de que López Obrador "siga na presidência", contra de 6,4% a 7,8% que apoiaram a revogação do mandato "por perda de confiança".
A taxa de participação foi de entre 17% e 18,2%.
A consulta, inédita no México, não atingiu a barreira para ser considerada vinculante, que era de participação de 40% das pessoas registradas para a votação (37 milhões).
Mesmo em caso de vitória da opção por sua saída do cargo, o presidente não estava obrigado a acatá-la. "Foi uma boa votação", afirmou, ao destacar os 15,6 milhões de votos a seu favor.
AMLO, como é conhecido por suas iniciais, foi eleito para o período 2018-2024 com 30 milhões de votos, mas para o referendo do dia 10 de abril foram instaladas apenas um terço das urnas da última eleição presidencial.
Para o analista político Hernán Gómez Bruera, o referendou demonstrou que a capacidade de mobilização de López Obrador "está forte e tem músculo", apesar da elevada taxa de abstenção.
"O verdadeiro teste de fogo acontecerá em 2024, quando sair, porque ninguém parece capaz de ocupar seu lugar de liderança", disse Gomez à AFP.
Para a sucessão, o presidente demonstra apoio a sua partidária Claudia Sheinbaum, prefeita da Cidade do México.
"Foi uma votação só entre eles, mas López Obrador vai querer utilizá-la para tentar controlar os órgãos eleitorais pensando em 2024", comentou à AFP o historiador José Antonio Crespo.
No México, de 126 milhões de habitantes, o voto não é obrigatório.
AMLO acusa o INE de sabotar o referendo, em cumplicidade com a oposição, razão pela qual anunciou uma reforma para que seus membros e os do tribunal eleitoral sejam eleitos por votação popular e não pela Câmara dos Deputados.
"É categoricamente falso que o INE não tenha cumprido com seu dever de difundir" o referendo, assegurou neste domingo o presidente do organismo, Lorenzo Córdova.
O presidente anulou sua cédula ao escrever as palavras "Viva Zapata!" (referência ao líder revolucionário Emiliano Zapata) para se mostrar imparcial, mas Córdova denunciou o "potencial uso de recursos público" por parte da situação para promover a consulta.
"Não temos um rei no México, não há uma oligarquia, é uma democracia na qual o povo coloca e o povo tira", afirmou no discurso de vitória.
AMLO conseguiu a inclusão da consulta na Constituição em 2019, como um antídoto contra "maus governos".
Aos 68 anos, o primeiro presidente de esquerda do país tem uma aprovação de 58%, de acordo com a média das pesquisas.
"Estou contente com ele, tomara que continue e que repita", disse à AFP Carmen Sobrino, de 64 anos, em sua seção eleitoral, embora no país não haja reeleição, nem extensão do mandato.
O presidente também já disse que se afastará da política quando terminar seu mandato.
Os opositores, que defenderam a abstenção, voltaram a criticar o referendo, que chamaram de ato de "propaganda".
"Ficará marcado pela ilegalidade, mentiras, manipulação e desvio de recursos públicos", disse Marko Cortés, do conservador Partido da Ação Nacional (PAN, segundo maior partido no Congresso).
"Pode ter sido um exercício histórico, mas o governo o transformou em uma zombaria para satisfazer seu próprio ego e continuar enganando os mexicanos", disse Alejandro Moreno, líder do PRI, partido que dominou a política mexicana por décadas.
Nos dois anos e meio restantes de seu mandato, o projeto de "transformação" de López Obrador exige reformas constitucionais para as quais não possui maioria parlamentar.
O presidente fundamenta sua aprovação em programas sociais aos quais destina este ano 23 bilhões de dólares (6,4% do orçamento) e políticas como a melhoria do salário mínimo (265 dólares mensais).
De acordo com dados oficiais, 44% dos mexicanos vivem na pobreza, um dos males que AMLO se comprometeu a combater, juntamente com a corrupção.
Entre os outros desafios do presidente também estão a persistente violência, que deixou cerca de 340.000 mortos desde 2006, e uma economia impactada pela pandemia, que despencou 8,4% em 2020, recuperou-se 5% em 2021 e que este ano cresceria apenas 3,4%.