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Londres: um imigrante para prefeito

Capital da Inglaterra deve eleger o muçulmano filho de paquistaneses Sadiq Khan para a prefeitura da cidade

SADIK KHAN: o novo prefeito de Londres vai aos Estados Unidos e ao Canadá mostrar que a cidade continua aberta aos investidores  / Rob Stothard/ GettyImages

SADIK KHAN: o novo prefeito de Londres vai aos Estados Unidos e ao Canadá mostrar que a cidade continua aberta aos investidores / Rob Stothard/ GettyImages

GK

Gian Kojikovski

Publicado em 5 de maio de 2016 às 12h55.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h20.

Londres está mudando. Pela primeira vez na história, nesta quinta-feira a cidade deve eleger um prefeito filho de imigrantes – e muçulmano. O candidato do Partido Trabalhista, Sadiq Khan lidera com folga as pesquisas de intenção de voto, à frente do conservador Zac Goldsmith. A possível vitória de Sadiq ganha importância em meio ao contexto em que o Reino Unido vive, na expectativa pelo referendo que decide se a região permanece ou sai da União Europeia, que acontece no dia 23 de junho. As pesquisas indicam uma pequena margem a favor da permanência no bloco.

Sadiq nasceu em Londres, mas é filho de imigrantes paquistaneses. Seu pai era motorista de ônibus. Sadiq fez carreira como advogado especialista em direitos humanos e foi o primeiro muçulmano a se tornar ministro no Reino Unido, durante o mandato de Gordon Brown. Faz parte da ala socialdemocrata do Partido Trabalhista, comandada pelo ex-líder do partido e candidato a primeiro ministro Ed Miliband.

Tanto Sadiq como Miliband fazem parte de uma corrente trabalhista vista mais à esquerda no espectro político do que os ex-primeiros ministros eleitos pelo partido, Gordon Brown e Tony Blair, que eram considerados reformistas. Entre suas propostas estão políticas para ajuste nos altíssimos preços dos imóveis e dos aluguéis em Londres, que causam problemas para a cidade há anos, cotas para minorias étnicas em alguns órgãos da cidade, como a polícia metropolitana, e a implantação de um salário mínimo municipal.

Como acontece com cidades do porte de Londres, a eleição extrapola em muito os limites municipais. O atual prefeito, Boris Johnson, é um dos principais articuladores na campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia (chamada de brexit), se opondo ao líder do Partido Conservador e primeiro ministro, David Cameron. Ao se contrapor a Cameron, Johnson viu a oportunidade de se tornar líder do partido no caso da vitória do voto pela saída no referendo e, como consequência, assumir como primeiro-ministro no futuro. Cameron já declarou que renunciaria ao cargo em caso de derrota. Em uma pesquisa feita pelo jornal The Financial Times, nenhum dos 108 economistas de centros de estudo britânicos consultados disseram que haveria ganho econômico com a saída da União Europeia no curto prazo e somente 8% afirmaram que isso pode ser bom no futuro. Mas pesquisas de opinião indicam que a disputa está apertada, com leve vantagem pela permanência.

Mas a maior parte dos votos pela saída está no interior. Em Londres, defender tal proposta, como tem feito Johnson, é arriscado. O atual prefeito abriu mão de tentar se reeleger novamente – ele ocupa o cargo desde 2008 e venceu também as eleições de 2012. Historicamente, ele nunca foi apoiador do brexit, mas viu no referendo um atalho para o poder.

O candidato apoiado por Johnson, Zac Goldsmith, também é favorável ao brexit. O problema, para ele, é que a região de Londres é majoritariamente contra a saída da União Europeia. A cidade é um hub de serviços financeiros para toda a Europa e seria muito prejudicada com a mudança, já que com a saída da união econômica e a criação de barreiras tarifárias, os bancos levariam uma grande parte de sua operação para outros países do continente.

Outro ponto que pode pesar contra Zac é o alto número de imigrantes aptos a votar nessas eleições. Além do argumento pela soberania nacional – a União Europeia traz muita burocracia é não é totalmente liberal – o outro pretexto dos postulantes pela saída é o risco que a onda de imigrantes traz para o Reino Unido. Eles são majoritariamente muçulmanos e vêm principalmente da Síria, entrando pelo Sul da Europa. Com a saída da União Europeia, não teriam mais deslocamento livre até o Reino Unido. Para muitos, esse argumento é visto como xenófobo.

Quase 560.000 europeus de outros países – que têm interesse direto em que o Reino Unido permaneça na União Europeia – estão aptos a votar para prefeito. Eles podem ser decisivos. De acordo com as pesquisas, a diferença entre Sadiq e Zac seria de algo em torno de 140.000 votos. Numa eleição que pode consagrar um imigrante, nada mais natural que os imigrantes sejam decisivos.

 

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