Mundo

Liz Truss renuncia ao cargo de primeira-ministra do Reino Unido

A premiê do Reino Unido, Liz Truss, ficou menos de dois meses no cargo, tendo assumido após a queda de Boris Johnson

Truss: premiê foi eleita pelos filiados do Partido Conservador em setembro, após renúncia de Boris Johnson (Anna Moneymaker/Getty Images)

Truss: premiê foi eleita pelos filiados do Partido Conservador em setembro, após renúncia de Boris Johnson (Anna Moneymaker/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 20 de outubro de 2022 às 09h41.

Última atualização em 20 de outubro de 2022 às 10h39.

Liz Truss renunciou ao cargo de primeira-ministra do Reino Unido na manhã desta quinta-feira, 20, menos de dois meses após chegar ao poder. Truss, que é do Partido Conservador, assumiu no dia 6 de setembro ao vencer eleições internas da legenda e substituir o então primeiro-ministro Boris Johnson, que renunciou após escândalos.

Receba as notícias mais relevantes do Brasil e do mundo toda manhã no seu e-mail. Cadastre-se na newsletter gratuita EXAME Desperta

A saída de Truss vem diante da rejeição a um pacote econômico de amplo corte de impostos, que tinha fonte incerta de recursos e gerou instabilidade na economia. Embora tenha sido revertido logo após o anúncio, o plano foi mal recebido nos mercados e entre os membros do próprio partido de Truss.

VEJA TAMBÉM: Biden diz que plano econômico de Liz Truss 'era um erro'

Nos últimos dias, membros de sua equipe econômica também haviam renunciado, e a pressão para que a premiê deixasse o cargo cresceu.

Em discurso nesta manhã, Truss afirmou que já ofereceu a renúncia ao rei Charles III e continuará como premiê até que um novo mandatário seja eleito.

"Assumi o cargo em um momento de grande instabilidade econômica e internacional", disse. "Definimos uma visão para uma economia com impostos baixos e alto crescimento que tiraria vantagem das liberdades do Brexit. Mas reconheço que, dada a situação, não posso cumprir o mandato para o qual fui eleita pelo Partido Conservador."

Liz Truss: premiê foi eleita por votação interna do Partido Conservador, que tem maioria no Parlamento (Dan Kitwood/Getty Images)

A premiê afirmou que um novo nome para líder do Partido Conservador deve ser escolhido já na próxima semana.

Parlamentar desde 2010 e ex-ministra nos governos conservadores, Truss foi eleita na votação interna do Partido Conservador prometendo uma economia com menos impostos e alto crescimento.

Na campanha, se disse inspirada por medidas liberais da ex-premiê britânica Margaret Thatcher (1979-90), que também foi do Partido Conservador. Truss, tal como o antecessor Boris Johnson, é descrita como da ala "linha dura" do partido, tendo sido favorável ao Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia, e prometendo políticas mais severas contra imigrantes.

Quem será o novo premiê britânico

O Reino Unido terá agora seu terceiro primeiro ministro em menos de três meses.

Em agosto, o então premiê Boris Johnson, que estava no cargo desde 2019, renunciou em meio a escândalos envolvendo aliados e a insatisfação popular com a presença do governante em festas durante o lockdown na pandemia. A inflação britânica, que é a maior em 40 anos e segue pressionada com a guerra na Ucrânia, também tem ajudado a minar a popularidade dos governos.

VEJA TAMBÉM: Inflação acelera no Reino Unido e alcança 10,1% em setembro, a maior desde 1982

A renúncia de Johnson, na ocasião, levou a eleições internas no Partido Conservador, em que Truss obteve a maioria dos votos entre os filiados e bateu o concorrente, o ex-ministro das Finanças Rishi Sunak.

Sunak e Truss durante debate na campanha: Partido Conservador terá de escolher internamente novo premiê (Jonathan Hordle / ITV/Getty Images)

Agora, novamente com a renúncia de Truss, cabe ao Partido Conservador promover nova disputa interna para escolher o próximo ou próxima premiê. 

Como o Partido Conservador tem maioria no Parlamento, o nome escolhido internamente para liderar o partido no lugar de Truss se torna automaticamente o primeiro-ministro.

Pela fala de Truss, que prometeu um novo premiê já na próxima semana, a expectativa é que o alto escalão do partido consiga unanimidade em torno de algum nome sem que ocorram novas eleições, que podem levar mais de um mês e envolver milhares de filiados em todo o país. Porém, a legenda terá o desafio de garantir apoio ao escolhido, diante da insatisfação popular com o governo.

Como funcionam as eleições no Reino Unido

O espectro político no Reino Unido tem, no geral, o Partido Conservador à direita e o Partido Trabalhista à esquerda. Por ser um sistema parlamentarista, o partido que ganha o maior número de cadeiras nas eleições gerais escolhe o primeiro-ministro.

A última eleição geral foi em 2019, quando os conservadores, liderados por Boris Johnson, ganharam maioria das cadeiras.

Assim, mesmo que ocorram trocas internas, como no caso de Truss e Johnson, o Partido Conservador têm direito a seguir escolhendo internamente o premiê britânico até 2025, quando acaba o atual mandato no Parlamento e ocorrem novas eleições gerais.

Boris Johnson: antecessor de Liz Truss renunciou ao cargo após escândalos envolvendo aliados e o "Partygate", com festas durante o lockdown (Henry Nicholls - Pool/Getty Images)

Nas eleições internas do partido, que foram usadas para escolher Liz Truss como premiê, não participam toda a população britânica: votam somente os filiados do Partido Conservador, pouco menos de 200 mil partidários.

Os conservadores estão no poder desde 2010, primeiro com David Cameron (até 2016) - que renunciou após a vitória do Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia -, depois com Theresa May (até 2019) e por fim com o próprio Johnson.

O último premiê trabalhista foi Gordon Brown (2007-10), que sucedeu o também trabalhista Tony Blair, que ficou no cargo por uma década (1997-2007).

Quando Boris Johnson renunciou, o Partido Trabalhista (de oposição) tentou forçar a antecipação de novas eleições gerais, antes de 2025. Na época, a pressão não foi suficiente e o Partido Conservador terminou escolhendo internamente a nova premiê. A tendência é que a pressão por novas eleições gerais, e não só internas dos conservadores, ganhe nova tração com a saída de Truss.

O Reino Unido é composto por Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales, e a premiê eleita terá de governar regiões que somam mais de 67 milhões de pessoas. Os britânicos terminaram 2021 como a quinta maior economia do mundo, com produto interno bruto (PIB) de mais de US$ 3 trilhões. O sistema de governo é uma monarquia parlamentarista, com o rei Charles III sendo somente chefe de Estado e o premiê, chefe de Governo, tomando as decisões políticas e econômicas na prática.

Acompanhe tudo sobre:Boris JohnsonRei-Charles-IIIReino Unido

Mais de Mundo

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia