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Brasil planejou invadir o Uruguai, segundo livro

Livro do escritor uruguaio Federico Leicht 'Ordem e Progresso' propõe que Brasil esteve a ponto de invadir o Uruguai por medo de uma revolução comunista


	Presidente João Goulart se exilou no Uruguai
 (Dick DeMarsico/Wikimedia Commons)

Presidente João Goulart se exilou no Uruguai (Dick DeMarsico/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 6 de julho de 2013 às 15h44.

Montevidéu.- O Brasil planejou e esteve a ponto de invadir o Uruguai na segunda metade do século XX por medo de uma revolução comunista, afirma o escritor uruguaio Federico Leicht em seu novo livro 'Ordem e Progresso', que fala sobre o turbulento período pelo qual o país passou entre as décadas de 1960 e 70.

Em 'Orden y Progreso - El influjo de Brasil en el camino al golpe de Estado' (Ediciones de La Plaza), Leicht se baseia para defender sua teoria em uma série de documentos disponíveis do departamento de Estado de EUA, da CIA e do governo brasileiro, além das censuras à imprensa do mesmo período.

Mas por que o Brasil, que ocupa mais de 20% do continente americano, iria querer invadir um país de proporções pequenas como o Uruguai? 'Porque via com preocupação a ascensão da esquerda (no país) e temia que ela chegasse ao poder nas eleições gerais de 1971 e influenciasse o Brasil', afirmou Leicht à Agência Efe.

'No Uruguai a esquerda vinha de um crescimento amplo, desde meados da década de 1920, e os EUA o viam como um risco. Brasil, que era o soldado dos EUA na América Latina, também', detalhou.

O escritor define a fase como 'muito conturbada': no Uruguai, o Movimiento de Libertação Nacional (MLN-Tupamaros) tinha 'muita força'. Em 1971, ano eleitoral, foi criado o bloco esquerdista Frente Ampla e tanto ele como o tradicionalista Partido Nacional, com o político Wilson Ferreira à cabeça, de 'ideias progressistas', podiam tomar o poder.

De acordo com o livro, em 1964 o governo militar do Brasil elaborou o plano '30 horas' para invadir o Uruguai nesse intervalo de tempo, por terra, 'com o objetivo de que os organismos internacionais não tivessem tempo para reagir'.

No mesmo ano aconteceu o golpe militar no Brasil contra o presidente João Goulart, que se exilou no Uruguai, e que deu passagem a uma ditadura militar que durou até 1985.

Após 1964, houve dois momentos históricos em que, segundo o autor, a intervenção esteve 'muito perto' de acontecer: em 1970, quando a guerrilha dos tupamaros sequestrou o cônsul brasileiro no Uruguai, Aloysio Dias Gomides, e nas eleições de 1971, diante do medo de que a esquerda chegasse ao poder.

Em 1970 houve tensões políticas que o autor definiu como 'brutais': o Brasil pressionou fortemente ao governo do então presidente do Uruguai Jorge Pacheco Areco (1967-1972) e tomou a decisão de invadir o país se a guerrilha tupamara não libertasse o cônsul ou chegasse a executá-lo.

Segundo os documentos analisados por Leicht, finalmente os tupamaros negociaram com a esposa do cônsul sua libertação em troca de US$ 300 mil, atalhando essa crise política.

No entanto, o levou ao cancelamento dos planos do Brasil teriam sido as eleições de 1971 no Uruguai, em que finalmente venceu Juan María Bordaberry, do conservador Partido Colorado - que, dois anos depois, com o apoio dos militares, deu um golpe de Estado e dissolveu o Parlamento iniciando uma ditadura que duraria 13 anos.

Mas o escritor vai além e afirma categoricamente que nessas eleições houve uma 'flagrante fraude eleitoral'.

'Não sou eu que digo, são os documentos expostos em meu livro: nessas eleições votaram pessoas que haviam falecido há anos', afirmou.

Leicht também não hesitou em apontar como 'culpado' o Partido Colorado, tradicionalmente governante no país, afirmando que organizou a fraude 'com o apoio do Brasil e, por tabela, dos Estados Unidos'.

Nos dias anteriores às eleições, 'as tropas brasileiras foram dispostas na fronteira fazendo exercícios militares, se preparando para uma hipotética invasão ao Uruguai', afirmou.

Por sua vez, diante do risco de invasão, 'a esquerda revolucionária do Uruguai se uniu em uma frente, junto com militares de esquerda, para contra-atacar e resistir em caso de um eventual golpe de Estado', e viveram-se momentos de 'grande tensão'.

Questionado se teme algum tipo de polêmica por suas afirmações, Leicht respondeu que 'não se pode negar a história', que a suposta fraude eleitoral de 1971 'não é um segredo para ninguém' e que 'tudo está absolutamente provado e documentado'.

'Meu único objetivo é que a história comece a ser conhecida no Uruguai', concluiu. EFE

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