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Limitar aquecimento a 2ºC está fora de alcance

Compromisso tomado em Copenhague é impossível segundo ex-chefe climático da ONU

De Boer disse esperar que o quinto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) sirva de incentivo para uma retomada do 'deadline' de 2015 (©AFP/Arquivo / Olivier Morin)

De Boer disse esperar que o quinto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) sirva de incentivo para uma retomada do 'deadline' de 2015 (©AFP/Arquivo / Olivier Morin)

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Da Redação

Publicado em 27 de março de 2012 às 16h39.

Londres - O ex-chefe climático da ONU disse nesta terça-feira que o compromisso de restringir o aquecimento do planeta a 2ºC, que ele ajudou a costurar na Cúpula de Copenhague pouco mais de dois anos atrás, hoje é inatingível.

"Penso que [a meta de] dois graus está fora de alcance", disse Yvo de Boer, ex-secretário-executivo da Convenção-quadro sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês), durante uma conferência realizada em Londres sobre a saúde do planeta, a poucos meses da cúpula Rio+20, que será celebrada em junho no Rio de Janeiro.

As 195 partes da Convenção-quadro se comprometeram a limitar a elevação das temperaturas globais em dois graus Celsius.

A meta foi estabelecida por um grupo central de países nas horas finais da turbulenta Conferência de Copenhague, em dezembro de 2009, e foi formalizada na cúpula de Cancún, um ano depois.

Mas um número cada vez maior de cientistas alerta que o objetivo está se esvaindo sem a realização de cortes radicais nas emissões de gases causadores do efeito estufa, responsáveis pelas mudanças climáticas. Alguns consideram que a meta é uma ilusão política perigosa, uma vez que a Terra se encaminha para uma elevação da temperatura de 3ºC ou mais.

"A meta de dois graus está perdida, mas não significa para mim que devamos esquecê-la", disse de Boer em entrevista à AFP.

"É uma meta muito significativa, não se trata de um simples alvo que foi tirado do nada, tem a ver com tentar limitar a quantidade de impactos", acrescentou.


"Não se deve esquecer disso, no sentido de que está se ignorando o fato de que se passou pela dificuldade de formular uma meta que não é alcançada por falta de ação política", continuou.

"Consequentemente, o processo deveria se tratar de como conseguir aproximar o máximo possível dos 2ºC e não dizer 'comecem tudo de novo e formulem uma nova meta', esquecendo que passamos por isto muito recentemente", alertou.

Copenhague representou um limite nas discussões globais sobre o clima. Suas frustrações, juntamente com as crises financeira e fiscal que atingiram em cheio os países ocidentais, fizeram muitos governos marcar passo e até restringir seus planos de ação contra as emissões de carbono.

Enquanto isso, o alto preço do petróleo e do gás levaram os grandes emergentes a queimar cada vez mais carvão, a mais suja das fontes de energia fósseis, aumentando as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono (CO2).

No ano passado, durante a reunião anual da UNFCCC em Durban, na África do Sul, os países concordaram em estabelecer um novo acordo climático em 2015 com entrada em vigor em 2020, colocando tanto os países ricos quanto os pobres pela primeira vez sob restrições legais comuns.

De Boer disse esperar que o quinto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) sirva de incentivo para uma retomada do 'deadline' de 2015.

"Felizmente, teremos outro grande relatório do IPCC em 2014 e então, quando os governos se reunirem em 2015 para negociar algo significativo, a ciência disponibilizará as informações para este processo político", afirmou.

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