Ucrânia: Denis Pushilin alcançou 60,9% em Donetsk e Leonid Pasechnik 68,4% em Lugansk (Mikhail Tereshchenko/TASS/Getty Images)
AFP
Publicado em 12 de novembro de 2018 às 10h53.
Os líderes separatistas pró-Rússia venceram, como estava previsto, as eleições locais no leste da Ucrânia, segundo resultados quase definitivos publicados nesta segunda-feira, em uma votação considerada ilegítima por Kiev e pelos países ocidentais.
Protegidos por militares armados com kalashnikov e recompensados com bilhetes de loteria, os habitantes dos territórios separatistas foram às urnas no domingo para eleger "presidentes" e "deputados" para as duas "repúblicas populares" autoproclamadas pelos rebeldes em Donetsk (DNR) e em Lugansk (LNR), que há quatro anos escapou do poder de Kiev.
De acordo com as comissões eleitorais de ambos os territórios, com 95% dos votos contados, os atuais chefes interinos ganharam a votação: Denis Pushilin alcançou 60,9% em Donetsk e Leonid Pasechnik 68,4% em Lugansk.
A votação reforçará a separação desses territórios do resto do país e legitimará seus novos dirigentes, enquanto que o processo de paz se encontra em ponto morto e os confrontos esporádicos continuam aumentando o balanço do conflito, que deixou 10.000 mortos, segundo a ONU.
"Demonstramos a todo o mundo que podemos não só travar uma guerra (...), mas também construir um Estado", disse Pushilin, que é o governador interino da DNR desde o assassinato de seu antecessor, diante de um grupo de pessoas em Donetsk, uma das "capitais" separatistas.
"Combates ainda nos esperam contra um inimigo traiçoeiro e cruel", disse ele em referência ao governo de Kiev.
A participação ultrapassou 80% na "república de Donetsk" e 77% na "república de Lugansk", disseram as respectivas autoridades.
A realização dessas eleições provocou protestos furiosos de Kiev e de países ocidentais, que veem a interferência de Moscou e as consideram contrárias aos acordos de paz de Minsk.
"As eleições estão organizadas sob a ameaça de metralhadoras russas em um território ocupado", disse o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, na noite de sábado.
No domingo, a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, denunciou eleições "ilegais e ilegítimas" e assegurou que não serão "reconhecidas" pelos 28.
"Estas eleições são uma piada", acrescentou o enviado especial americano para a Ucrânia, Kurt Volker.
Oito países europeus - Alemanha, Bélgica, França, Grã-Bretanha, Itália, Holanda, Polônia e Suécia - pediram à Rússia que usasse sua "influência" para impedir a realização das eleições.
Rússia e Ucrânia têm relações ruins desde a chegada ao poder em Kiev, em 2014, do pró-Ocidente, após a revolta da Maidan, seguida pela anexação da península ucraniana da Crimeia pelos russos e o conflito com os separatistas no leste.
Ucrânia e os ocidentais acusam Moscou de apoiar militarmente os separatistas, algo que a Rússia desmente.
Os acordos de paz de Minsk, assinados em fevereiro de 2015, tornaram possível reduzir significativamente os confrontos, mas mesmo assim houve episódios de violência periodicamente na linha de frente, onde quatro soldados ucranianos foram mortos no sábado.
As duas repúblicas autoproclamadas são dirigidas há meses por chefes interinos que tiveram sua autoridade referendada pelos votos.
Em Donetsk, Denis Pushilin, de 37 anos, um ex-negociador político com Kiev, foi nomeado para suceder a Alexander Zakharchenko, ex-combatente falecido em agosto em um atentado.
Em Lugansk, Leonid Pasechink, de 48 anos, ex-autoridade regional dos serviços de segurança ucranianos, substituiu Igor Plotnitski, destituído em novembro de 2017.
Para atrair os eleitores às urnas, cada pessoa que votava recebeu um ingresso gratuito para uma loteria organizada no mesmo local, cujo prêmio era um ingresso para o teatro ou um concerto.
Além disso, os organizadores da votação ofereceram comida e degustação gratuita para os eleitores.
Em Lugansk foram prometidos aos primeiros 300.000 eleitores um cupom da operadora separatista para seus celulares, por 100 rublos (1,3 euro).