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Líderes britânicos tentam ganhar tempo após Brexit

Enquanto os europeus exigem um divórcio rápido, Londres anunciou a criação de um departamento especial dentro do governo para lidar com a questão do Brexit


	Brexit: uma petição exigindo a organização de um segundo referendo ultrapassava nesta segunda-feira os 3,7 milhões de signatários
 (Neil Hall / Reuters)

Brexit: uma petição exigindo a organização de um segundo referendo ultrapassava nesta segunda-feira os 3,7 milhões de signatários (Neil Hall / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 27 de junho de 2016 às 14h07.

Quatro dias após a votação em favor do Brexit, os líderes britânicos buscavam nesta segunda-feira ganhar tempo contra o surgimento de conflitos internos, e com as autoridades europeias procurando encontrar uma estratégia comum para a crise em curso.

O Reino Unido não deve dar as costas à Europa nem ao resto do mundo, apesar de sua decisão de abandonar a União Europeia, declarou nesta segunda-feira o primeiro-ministro David Cameron em seu primeiro pronunciamento ante o Parlamento desde o histórico referendo do Brexit.

"O Reino Unido está disposto a abandonar a União Europeia, mas não devemos dar as costas à Europa nem ao resto do mundo", declarou Cameron.

Segundo ele, é necessário "determinar que tipo de relação queremos com a UE".

"Não retiro nada que tenha dito há dias. Vai ser difícil", explicou Cameron, que convocou o referendo e fez campanha pela permanência na UE, o que o levou a pedir demissão ante a derrota.

Enquanto os europeus exigem um divórcio rápido, Londres anunciou a criação de um departamento especial dentro do governo para lidar com a questão do Brexit.

O sucessor do primeiro-ministro David Cameron será nomeado em 2 de setembro, segundo indicou o partido conservador.

O ministro das Finanças, George Osborne, tentou tranquilizar os mercados, antes mesmo da abertura do pregão. O processo de saída da União Europeia só será iniciado "quando tivermos uma visão clara das novas disposições que buscamos com nossos vizinhos europeus", prometeu.

Ele acrescentou que a economia do Reino Unido estava "pronta para enfrentar o que o futuro nos reserva".

A Bolsa de Londres permanecia muito nervosa, com um mergulho dos valores bancários e imobiliários ou das companhias aéreas. A libra britânica continuava a despencar e atingiu esta manhã seu nível mais baixo em 30 anos em relação ao dólar.

E uma pesquisa publicada nesta segunda-feira revelava que um quinto das empresas britânicas analisavam a possibilidade de transferir parte de seus negócios.

O líder dos partidários do Brexit, o conservador Boris Johnson, adotou um tom excepcionalmente conciliador com seus inimigos de ontem, garantindo que o Reino Unido faz "parte da Europa" e que a cooperação com os seus vizinhos do continente vai se "intensificar".

Em um artigo publicado no Daily Telegraph, ele reiterou que a saída da UE "não vai acontecer com precipitação". Candidato à sucessão de David Cameron, ele pediu aos apoiantes do Brexit para "construir pontes" com aqueles que votaram pela permanência na UE.

A imprensa britânica assegurou que, face ao ex-prefeito de Londres, a ministra do Interior Theresa May deverá incarnar a candidatura "anti-Boris" dentro do partido conservador para o cargo de primeira-ministra.

Merkel compreende

Sinal de um Brexit que está sendo mal digerido por parte dos britânicos, especialmente entre os jovens, uma petição exigindo a organização de um segundo referendo ultrapassava nesta segunda-feira os 3,7 milhões de signatários.

"Eu queria estudar na Espanha, mas eu não sei se poderei ser candidato ao Programa Erasmus se não somos mais cidadãos da UE", declarou, preocupado, Jamie McAteer, um estudante de 18 anos da Irlanda do Norte.

A embaixada da Polônia em Londres se disse "chocada e profundamente preocupada com os recentes incidentes xenófobos contra a comunidade polonesa", incidentes que David Cameron condenou.

Por sua vez, os europeus tentam se organizar para encontrar uma posição comum e fazer valer as suas condições.

Os ministros das Relações Exteriores alemão e francês, Frank-Walter Steinmeier e Jean-Marc Ayrault, anunciaram planos para "avançar no sentido de uma união política na Europa", chamando "outros Estados europeus (a) juntar-se a eles nesta empreitada".

Adotando uma linha flexível desde o referendo, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse nesta segunda-feira que compreende que o governo britânico necessita de tempo neste momento.

"Primeiro de tudo, não podemos permitir um longo período de incerteza (...), mas que a Grã-Bretanha precisa de um certo tempo para analisar as coisas, eu compreendo", declarou perante a imprensa.

Merkel deve receber durante o dia o presidente do Conselho Europeu Donald Tusk e depois o presidente francês, François Hollande, e o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi.

É neste contexto sensível que o secretário de Estado americano, John Kerry, viajou para Londres, depois de lançar um apelo e pedir aos europeus "para não perder a cabeça".

Jeremy Corbyn vira réu

A turbulência política no Reino Unido é ainda agravada pelo retorno da ameaça de uma secessão da Escócia, onde o voto a favor da manutenção da UE foi majoritário, contabilizando 62%.

No domingo, a primeira-ministra escocesa Nicola Sturgeon considerou que era "muito provável" um novo referendo sobre a independência depois da consulta realizada em 2014, onde o "não" tinha prevalecido.

Mas o governo britânico declarou nesta segunda-feira que um novo referendo é a "última coisa que a Escócia precisa".

Quanto aos partidos políticos, o líder trabalhista Jeremy Corbyn, que se tornou réu por não ter feito campanha suficiente para a manutenção na UE, anunciou que não vai renunciar, apesar de mais de metade de seu gabinete já ter desertado em sinal de protesto.

Uma reunião tempestuosa é aguardada nesta segunda-feira à tarde, enquanto uma moção de confiança pode ser examinada contra ele.

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