Mundo

Líder de Mianmar critica "desinformação" sobre crise de rohingyas

Suu Kyi tem sido muito criticada no exterior por seu silêncio sobre o destino da minoria muçulmana

Aung San Suu Kyi: este foi o primeiro comentário oficial da vencedora do Nobel da Paz desde o início da crise (Soe Zeya Tun/Reuters)

Aung San Suu Kyi: este foi o primeiro comentário oficial da vencedora do Nobel da Paz desde o início da crise (Soe Zeya Tun/Reuters)

A

AFP

Publicado em 6 de setembro de 2017 às 08h44.

A líder de fato de Mianmar, Aung San Suu Kyi, denunciou nesta quarta-feira (6) um "grande iceberg de desinformação" que, segundo ela, dá uma visão equivocada da crise dos muçulmanos rohingyas, situação que deixa a ONU em alerta.

Este foi o primeiro comentário oficial da vencedora do Nobel da Paz desde o início da crise, no fim de agosto. Suu Kyi tem sido muito criticada no exterior por seu silêncio sobre o destino da minoria rohingya. Milhares de pessoas fugiram para o vizinho Bangladesh.

A compaixão internacional em relação aos muçulmanos rohingyas é resultado de um "enorme iceberg de desinformação criado para gerar problemas entre as diferentes comunidades e promover os interesses dos terroristas", afirmou Suu Kyi durante uma conversa por telefone com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, segundo uma transcrição divulgada por sua assessoria de comunicação.

Em várias ocasiões, Erdogan condenou a resposta do governo birmanês à crise e chegou a mencionar um "genocídio no estado de Rakhine", na região noroeste de Mianmar.

Aung San Suu Kyi, que sempre defendeu a ação do Exército, rebateu a acusação e afirmou que seu país faz "o necessário para proteger os direitos de todos os habitantes".

"Sabemos muito melhor do que terceiros o que significa estarmos privados de direitos e de proteção democrática", completou, em uma referência a seus anos de luta contra a junta militar birmanesa, que a deixou por muitos anos em prisão domiciliar.

Milhares de refugiados

A violência explodiu em 25 de agosto, quando os rebeldes do Exército de Salvação Rohingya de Arakan (ARSA, na sigla em inglês), que afirmam defender a minoria muçulmana, atacaram dezenas de delegacias de polícia.

O Exército birmanês reagiu com uma grande operação em Rakhine, uma área pobre e remota do país, o que obrigou a fuga de dezenas de milhares de pessoas.

De acordo com o Exército de Mianmar, o balanço é de 400 mortos, quase todos muçulmanos.

Até o ano passado os rohingyas não haviam recorrido à luta armada, uma situação que mudou em outubro com os primeiros ataques do ARSA.

Segundo as organizações humanitárias, 125.000 refugiados entraram em Bangladesh desde 25 de agosto, e milhares de pessoas estariam a caminho do país vizinho, algumas delas bloqueadas na fronteira.

Nesta quarta-feira, ao menos cinco crianças morreram no naufrágio de uma embarcação de rohingyas que fugiam de Mianmar, segundo a Guarda Costeira de Bangladesh.

De acordo com o guarda de fronteira Aloysius Sangma, pelo menos três barcos repletos de refugiados rohingyas afundaram no rio Naf, que estabelece a fronteira entre Bangladesh e o extremo sudeste de Mianmar.

Considerados estrangeiros em Mianmar, onde mais de 90% da população é budista, os rohingyas - quase um milhão de pessoas - são considerados apátridas, apesar da presença de algumas famílias há várias gerações no país.

Eles não têm acesso ao mercado de trabalho, às escolas, nem aos hospitais. O avanço do nacionalismo budista nos últimos anos aumentou a hostilidade.

A situação torna o silêncio de Aung San Suu Kyi inaceitável no exterior.

Alguns analistas consideram que ela é impotente diante do auge dos budistas extremistas e de um Exército que continua muito forte, inclusive politicamente, em um país que durante 50 anos foi uma ditadura militar.

Depois de investigar uma crise de violência anterior, a ONU denunciou uma grande operação de repressão "generalizada e sistemática", realizada essencialmente pelo Exército contra os rohingyas.

A ONU considerou que a repressão teve como consequência uma "limpeza étnica" e, "muito provavelmente", crimes contra a humanidade.

Acompanhe tudo sobre:MianmarMuçulmanosViolência política

Mais de Mundo

O que é o Projeto Manhattan, citado por Trump ao anunciar Musk

Donald Trump anuncia Elon Musk para departamento de eficiência

Trump nomeia apresentador da Fox News como secretário de defesa

Milei conversa com Trump pela 1ª vez após eleição nos EUA