Meninos brincam em um tanque estacionado na Praça da Revolução, em Benghazi (Saeed Khan/AFP)
Da Redação
Publicado em 12 de maio de 2011 às 18h03.
Benghazi, Líbia - De uniforme azul marinho, boné e gravata, um menino faz uso do apito com habilidade: Abu Selim tem apenas 10 anos e, como os colégios estão fechados há quase três meses, participa da rebelião organizando o tráfego em um cruzamento de Benghazi.
"É mais divertido que o colégio", afirma o pequeno, durante uma pausa em sua missão como guarda municipal.
No mesmo cruzamento no centro de Benghazi, reduto da insurgência Líbia, dois irmãos de 14 e 15 anos fazem parte, junto com ele, de um pequeno grupo de meninos recrutados para ajudar a polícia, cujo efetivo é escasso.
De fato, muitos policiais partiram para lutar na zona de combate, distante cerca de 200 km da cidade, contra as forças governamentais do dirigente Muamar Kadafi.
Todos os dias, entre as 17h e as 21h, esses meninos ocupam seus postos como policiais, organizando o tráfego com movimentos de braços e apitos, frente aos olhares compreensivos dos motoristas.
Organização do tráfego, limpeza das ruas, preparação do rancho para os combatentes que estão na zona de conflito: os meninos de Benghazi participam como podem do esforço de guerra.
Na "capital" rebelde, situada quase mil quilômetros ao leste da capital oficial Trípoli, as autoridades informam que as escolas não serão reabertas até a saída de Kadafi do poder. Deste modo, muitas crianças tentam ocupar o tempo e seer úteis a sua cidade de 700 mil habitantes.
Um batalhão de meninos e meninas foi recrutado para limpar as ruas e recolher o lixo.
"Fazemos esse trabalho voluntário porque nós temos muito tempo livre", disse um dos pequenos.
Muitos meninos foram recrutados como combatentes depois de um breve treinamento. Os que são muito jovens para lutar foram alocados em uma enorme cantina que prepara a comida dos guerrilheiros e das famílias desalojadas pelos ataques.
Outros ajudam no acampamento de refugiados onde vivem os imigrantes africanos e líbios evacuados de Misrata, cidade sitiada pelas forças governamentais.
Mas apesar de tanto trabalho, muitas crianças ainda não sabem o que fazer com seu tempo livre.
"Quando me levanto pela manhã, fico em casa algumas poucas horas e logo saio para ver meus amigos na rua", disse um garoto que estava sentado em uma calçada.
Nos colégios foram instalados centros de lazer para ocupar os jovens e ajudá-los a superar o trauma de tanta violência presenciada. Esses locais também recebem adolescentes voluntários.
O colégio Al Majd, situado em frente a uma mesquita, recebe cerca de 500 meninos por dia.
Lá, um grupo de meninas gritavam slogans da rebelião, como "liberdade para a Líbia" e "fora, Kadafi".
"Gosto muito de vir aqui porque posso fazer de tudo durante o dia: cantar, dançar, desenhar e jogar", disse Aya Al Abar, de 10 anos.
De acordo com Hana Al Gallal, principal responsável pela educação em Benghazi, os cursos serão retomados quando os programas escolares - e o país - ficarem livres da propaganda de Khadafi.
Até lá, Hanna acredita que os mais velhos terão muito o que aprender com os mais jovens, que estão à frente dos movimentos revolucionários tanto na Líbia quanto na Tunísia e no Egito.
"Eles irão ensinar a eles a verdadeira revolução. São eles que saem às ruas por um futuro melhor", completou.