Monrovia, Libéria - Autoridades da Libéria enfrentam uma decisão difícil: quais pacientes com ebola vão receber uma droga experimental que pode salvar vidas, se mostrar ineficaz ou mesmo piorar as condições de saúde dos doentes.
O medicamento ZMapp, ainda não testado em humanos, chegou ao país do Oeste africano no final da quarta-feira.
O ministro assistente da Saúde, Tolbert Nyenswah, afirmou que três ou quatro pacientes começariam receberiam a droga ainda nesta quinta-feira, embora outra autoridade tenha dito que só haveria a quantidade necessária para três pessoas.
O governo da Libéria informou que o tratamento seria administrado em dois médicos doentes, mas não ficou claro quem mais seria beneficiado.
Essas são as últimas doses conhecidas do Zmapp e a empresa que desenvolve o medicamento afirmou que levaria meses para produzir mesmo um estoque pequeno da droga.
Enquanto isso, uma fabricante de remédios de Iowa afirmou estar se preparando para testar uma possível vacina contra o vírus mortal.
A NewLink Genetics planeja uma primeira fase de testes com cerca de 100 voluntários e já negocia com reguladores para permitir o andamento do estudo, informou o vice-presidente da companhia para o desenvolvimento de negócios, Brian Wiley.
Além do estudo, a NewLink também planeja produzir entre 800 e mil doses da vacina para o governo do Canadá doar à Organização Mundial da Saúde (OMS), que coordena a resposta internacional contra a doença.
O diretor financeiro da empresa, Gordon Link, afirmou, porém, que o tempo necessário para os testes é incerto.
A epidemia de ebola já sobrecarregou os sistemas de saúde dos países do Oeste da África e levantou questões quanto à capacidade das autoridades do continente de responderem adequadamente à crise.
Nesta quinta-feira, manifestantes ocuparam as ruas de Monrovia, a capital da Libéria, para protestar contra trabalhadores da Saúde que não levaram o corpo de uma vítima da doença.
Policiais vestidos com armaduras antiprotesto dispersaram a multidão.
O surto também desencadeou um debate internacional sobre as questões éticas de dar drogas experimentais a pacientes doentes e decidir quem vai receber os medicamentos.
Até agora, apenas dois norte-americanos e um espanhol receberam doses do ZMapp.
Os norte-americanos estão melhorando, mas ainda não se sabe quanto dessa melhora se deve ao medicamento. O espanhol morreu dias depois.
A organização dos Médicos sem Fronteiras, que cuida de grande parte dos centros para tratamento de ebola, chegou a dizer que esse tipo de questão representa "um dilema impossível".
Agora, as autoridades da Libéria enfrentam essas mesmas dúvidas.
"O critério de seleção é difícil, mas será feito', prometeu o doutor Moses Massaquoi, que ajudou o país a obter a droga da Mapp Biopharmaceutical.
"Nós vamos examinar a gravidade da situação das pessoas. Nós definitivamente vamos focar na equipe médica."
Ele disse que o tratamento será feito em etapas, assim os médicos podem observar os efeitos do medicamento em um paciente antes de oferecerem doses ao próximo.
Atualizado às 16h25.
-
1. O que é ebola?
zoom_out_map
1/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
São Paulo -
Ebola é uma
doença viral aguda que causa febre hemorrágica. É causada por três das cinco espécies dentro do gênero. Duas espécies são capazes de infectar seres humanos, mas não parecem causar a doença. Os outros três podem causar graus variáveis de doença. O vírus Ebola Zaire é a estirpe mais mortal, e tem sido identificada como a causa do surto atual. Em epidemias anteriores, esta estirpe teve uma taxa de mortalidade de 90%.
-
2. A origem
zoom_out_map
2/13 (Frederick Murphy/CDC/Handout via Reuters)
A origem do vírus é incerta. Mas alguns especialistas acreditam que os morcegos podem abrigar o vírus em seu trato intestinal. Os primeiros seres humanos infectados e que espalharam a doença provavelmente caçaram e comeram um animal infectado.
-
3. A epidemia atual
zoom_out_map
3/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
Este já é considerado o maior surto desde que o vírus ebola foi descoberto há quase 40 anos. O surto foi declarado em março, na Guiné. Desde então, a doença se espalhou para a Libéria, Serra Leoa e Nigéria e matou 60% dos infectados. São 1323 pessoas infectadas e 887 mortes, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 60 mortes foram de trabalhadores de saúde que procuravam controlar a doença.
-
4. Os sintomas
zoom_out_map
4/13 (AFP)
Após o contágio, o paciente pode demorar até 21 dias antes de manifestar a doença. Os sinais são semelhantes aos da gripe, incluindo dores abdominais, febre, vômitos e diarreia. O quadro se agrava com a desidratação, insuficiência do fígado e dos rins, e hemorragia.
-
5. Transmissão
zoom_out_map
5/13 (Ahmed Jallanzo/Agência Lusa/Agência Brasil)
O vírus é transmitido diretamente pelo contato direto com sangue ou fluidos corporais dos infectados, inclusive dos mortos. O contágio é maior quando os pacientes já estão em estágios terminais, com hemorragia interna e externa, vômitos e diarreia, que contêm altas concentrações do vírus.
-
6. O tratamento
zoom_out_map
6/13 (Cellou Binani/AFP)
Não há um remédio específico para a doença. Os sintomas costumam ser tratados separadamente. Por exemplo, o soro intravenoso pode evitar a desidratação, enquanto um antitérmico diminui a febre. Já os analgésicos podem diminuir as dores. Aqueles que têm a doença identificada e recebem tratamento mais cedo têm mais chances de sobreviver à infecção. Infelizmente, como os sintomas são genéricos e parecidos com de outras doenças, o diagnóstico pode demorar.
-
7. Como se proteger
zoom_out_map
7/13 (AFP)
A melhor forma de se proteger da doença é evitar os locais onde há surto de ebola. Entre as recomendações do ministro da Saúde, Arthur Chioro, para quem tiver de viajar para estes países estão, por exemplo, seguir recomendações que serão dadas pelas autoridades sanitárias locais. Chioro aconselha os viajantes a não entrar em contato com secreções, vômitos e sangue das pessoas que são vítimas das doenças, que devem estar em isolamento e tratamento médico.
-
8. Epidemia global
zoom_out_map
8/13 (Tommy Trenchard / Reuters)
O risco de o vírus ser disseminado da África para a Europa, Ásia ou para as Américas é extremamente baixo, de acordo com especialistas em doenças infecciosas. O professor belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus ebola, descartou uma epidemia fora do continente africano, em entrevista à AFP. Mesmo que um portador do ebola viaje até Europa, Estados Unidos ou outra região da África, o cientista não acredita que isto possa causar uma epidemia importante, pois a infecção requer um contato muito próximo. Mas Piot pediu que as vacinas e os tratamentos, promissores nos animais, sejam testados em humanos.
-
9. Vacina experimental
zoom_out_map
9/13 (sxc.hu)
Pesquisadores americanos planejam testar, em breve, uma vacina experimental contra o ebola. Se bem sucedida, poderá imunizar até 2015 trabalhadores de saúde, que estão na linha de fogo da epidemia. No próximo mês, os Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos começarão os testes em humanos da vacina, que já é promissora nas experiências em macacos.
-
10. Fronteiras fechadas
zoom_out_map
10/13 (Gary Cameron/Reuters)
Guiné, Libéria e Serra Leoa anunciaram na sexta-feira (2) que vão colocar em quarentena a região fronteiriça comum, onde surgiu o último surto do vírus ebola. O anúncio foi feito durante uma reunião de emergência para discutir a epidemia e depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar que o ebola pode provocar uma perda catastrófica de vidas e prejuízos econômicos, caso a epidemia não seja controlada.
-
11. Não há mercado para a vacina
zoom_out_map
11/13 (AFP)
Segundo a AFP, até agora não se conseguiu convencer as companhias farmacêuticas a investir em uma vacina contra o ebola. Andrea Marzi e Heinz Feldmann, do instituto de virologia NIAID, disseram em artigo publicado em abril que, com surtos esporádicos que costumam afetar um pequeno número de pessoas na África, não existe um mercado comercial para uma vacina contra a doença.
-
12. Medicação
zoom_out_map
12/13 (Samaritans Purse/Divulgação via Reuters)
Herve Raoul, especialista em patógenos e pesquisador do Instituto Médico Francês de Saúde, disse à AFP que o ideal é desenvolver um antiviral que ajude os doentes a superar a fase mais aguda da doença. No entanto, essa medicação não existe hoje. Atualmente, os especialistas só podem aconselhar medidas preventivas, como isolar os infectados, tomar precauções para evitar o contato com fluidos corporais e enterrar os mortos com rapidez.
-
13. Agora veja 10 países onde respirar faz mal à saúde
zoom_out_map
13/13 (Reuters)