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Liberdade não dá direito de insultar fé do próximo, diz Papa

O papa entrou no debate sobre liberdade de expressão após ataque ao jornal Charlie Hebdo, dizendo que este direito não autoriza o insulto ou deboche da religião


	Papa Francisco: "não podemos provocar, não podemos insultar a fé dos outros"
 (Giampiero Sposito/Reuters)

Papa Francisco: "não podemos provocar, não podemos insultar a fé dos outros" (Giampiero Sposito/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 15 de janeiro de 2015 às 15h22.

Manila - O papa Francisco entrou nesta quinta-feira no debate sobre a liberdade de expressão que tem se intensificado desde o ataque contra a revista satírica francesa Charlie Hebdo, considerando que este "direito fundamental" não autoriza insultar ou debochar da religião de outras pessoas.

Os comentários do papa foram feitos a bordo do avião que o levava de Sri Lanka às Filipinas e se referiam aos ataques jihadistas contra a Charlie Hebdo, quando 12 pessoas foram mortas.

Sobre o ataque, Francisco disse que "matar em nome de Deus" é uma "aberração". Mas a liberdade de expressão não autoriza tudo e deve ser exercida "sem ofender", insistiu.

Porque "se um grande amigo fala mal da minha mãe, ele pode esperar um soco, e isso é normal. Não podemos provocar, não podemos insultar a fé dos outros, não podemos ridicularizar", ressaltou.

"Há tantas pessoas que falam mal de outras religiões, que as ridiculariza, fazem da religião dos outros um brinquedo: são pessoas que provocam", falou o pontífice.

A revista Charlie Hebdo, ameaçada há vários anos por grupos jihadistas por publicar caricaturas de Maomé, sempre reivindicou sua laicidade e até mesmo seu anti-clericalismo, sem hesitar ridicularizar bispos e papas.

"O que acontece atualmente (com os atentados jihadistas) nos assusta, mas pensem em nossa Igreja! Quantas guerras movidas pela religião nós vivemos, pensem na noite de São Bartolomeu (massacre iniciado pelos católicos contra protestantes franceses e que marcou o início do século XVI das guerras religiosas). Nós também fomos pecadores", lembrou.

Seis milhões de fieis esperados

O papa Francisco chegou nesta quinta-feira às Filipinas, apaixonado reduto do catolicismo na Ásia, iniciando uma visita de cinco dias na qual deve reunir imensas multidões de fiéis.

Os sinos das igrejas começaram a dobrar nas Filipinas quando o pontífice aterrissou em Manila procedente do Sri Lanka, país de maioria budista, onde Francisco lançou apelos à harmonia entre as religiões e onde um milhão de pessoas acompanharam a missa de canonização do primeiro santo do país, Joseph Vaz.

Através da janela do avião era possível ver um papa sorridente, enquanto centenas de crianças cantavam na pista do aeroporto internacional de Manila uma música de boas-vindas para Francisco.

Esta segunda viagem do papa argentino pela Ásia, após sua visita à Coreia do Sul, está destinada a estimular uma região encarada como "terra do futuro" para o catolicismo.

Embora os católicos representem apenas 3% da população asiática, 80% dos 100 milhões de habitantes das Filipinas - antiga colônia espanhola - praticam um catolicismo fervoroso.

Esta visita às Filipinas deve atrair enormes multidões. Centenas de milhares de pessoas se reuniram ao longo da estrada por onde Francisco passará ao sair do aeroporto.

"Cada um de seus passos, cada um de seus deslocamentos, cada momento passado conosco são preciosos", afirmou o arcebispo Socrates Villegas, presidente da Conferência Episcopal das Filipinas.

Na apertada agenda nas Filipinas deste papa de 78 anos que no Sri Lanka mostrou sinais de cansaço há dois momentos especiais.

No sábado visitará Tacloban, na ilha de Leyte, a 650 km de Manila, vítima em 2013 do tufão Haiyan, que deixou mais de 10.000 mortos, dezenas de milhares de desabrigados e destruiu muitas infraestruturas.

A visita corre o risco de ser caótica, já que o aeroporto acaba de ser consertado, e são esperadas centenas de milhares de pessoas, por terra e por mar. O papa respondeu ao desejo dos bispos filipinos para que manifeste a solidariedade da Igreja diante deste desastre natural.

Francisco, que prepara para a primavera no hemisfério norte uma encíclica sobre o meio ambiente, pode denunciar os prejuízos que a corrupção e o enriquecimento excessivo de uma minoria provocam sobre o entorno natural.

As Filipinas, novo "dragão" da Ásia com forte crescimento econômico, são um dos países com maiores desigualdades e mais corruptos da Ásia.

O outro grande evento será realizado no domingo: a missa final no Rizal Park de Manila, onde são esperados até 6 milhões de fiéis. Nesse caso superariam os cinco milhões reunidos por João Paulo II durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 1995.

Tudo isso cria um quebra-cabeças e preocupações para os serviços de segurança: risco de avalanches humanas e de eventuais atentados islamitas.

Mais de 40.000 soldados e policiais foram mobilizados a partir desta quinta-feira e durante cinco dias para garantir a segurança do papa neste arquipélago, no qual dois Sumos Pontífices, Paulo VI e João Paulo II, foram alvos de tentativas de assassinato.

"Neste ano, isso representará nosso maior pesadelo", comentou o comandante-em-chefe do exército filipino, general Gregorio Catapang, enquanto preparava suas tropas.

Para as autoridades, o controle das multidões representa a maior preocupação.

O presidente Benigno Aquino suplicou aos filipinos que mantenham a calma e evitem criar tumultos que possam colocar em perigo a segurança do papa.

"Pergunto a vocês, vocês querem que uma tragédia que envolva o papa ocorra nas Filipinas e entre para a história?", lançou.

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