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Líbano quebra tabu em protestos contra Hezbollah e líder xiita

Analistas apontam que os libaneses xiitas não seguem mais líderes políticos e religiosos "cegamente"

Hezbollah: manifestantes acusam o partido de corrupção e de empobrecer o país (Alkis Konstantinidis/Reuters)

Hezbollah: manifestantes acusam o partido de corrupção e de empobrecer o país (Alkis Konstantinidis/Reuters)

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AFP

Publicado em 22 de outubro de 2019 às 17h18.

Um tabu foi quebrado nas últimas manifestações realizadas no Líbano, onde multidões marcharam nos territórios do Hezbollah, pró-iraniano, para protestar contra o partido xiita e seu líder religioso, Hassan Nasrallah, intocáveis até o momento.

Tanto nas redes sociais quanto nos locais dos protestos, os manifestantes de todas as confissões, que ocupam as ruas do Líbano desde 17 de outubro, não esqueceram o Hezbollah, acusando-o de corrupção e de empobrecer o país.

"A novidade é que encontramos seus apoiadores entre os manifestantes. Eles apoiam o Hezbollah, mas estão sufocados", disse uma mulher de 32 anos que preferiu não revelar sua identidade, em uma manifestação na cidade de Nabatiye (sul), de maioria xiita.

"Ninguém jamais pensaria que um dia ouviríamos qualquer coisa pequena contra Nasrallah. É incrível!", acrescentou.

"Todo mundo significa todo mundo, e Nasrallah é um deles", era a frase ouvida em Beirute, cuja periferia sul também é reduto do partido xiita, com ruas enfeitadas com várias fotos do líder político, elogiado por seus seguidores.

Também foram realizadas manifestações para exigir a renúncia de toda a classe dominante, acusada de incompetência, em outras cidades controladas pelo Hezbollah e seu aliado político Amal, grupo liderado pelo presidente do Parlamento, Nabih Berri.

No entanto, elas não eram tão importantes quanto as realizadas em outros lugares, com a exceção de Tiro, uma grande cidade costeira do sul.

"Tudo igual"

Elemento de peso no tabuleiro político libanês, o partido, aliado do Irã, é o único que continua a ter um braço armado desde o fim da guerra civil, em 1990.

Inesperadamente, a rede de televisão Al Amanar, controlada pelo Hezbollah, transmitiu ao vivo na segunda-feira as declarações de um manifestante que pedia a Nasrallah que "cuidasse do seu povo no Líbano", em clara alusão ao envolvimento militar do grupo na Síria ou em sua luta contra Israel.

"A mensagem que seus próprios apoiadores enviam a Nasrallah é que a resistência não se limita à luta contra Israel e os terroristas", disse Hasem Gharbel, outro manifestante, entrevistado em Nabatiye.

No sábado, Hasan Nasrallah comentou as críticas feitas contra ele em um discurso transmitido pela televisão. "Podem me amaldiçoar, eu não ligo!", falou de forma desafiadora.

No entanto, as críticas contra o líder xiita não são tão virulentas quanto as dirigidas contra outros líderes políticos como Nabih Berri, a quem os manifestantes chamam de "ladrão".

Mas, para Hatem Gharbeel, um tabu foi quebrado. "A barreira do medo caiu", afirmou. "As pessoas não seguem mais cegamente seu líder político ou religioso", acrescentou.

Lokman Slim, um ativista político xiita conhecido por suas opiniões firmes sobre o Hezbollah, enfatizou que a revolta está presente há algum tempo.

"(A ira) Está sendo fermentada há vários anos por causa da crise econômica, que não apenas enfraquece o Estado libanês, mas também o mini-Estado do Hezbollah", afirmou. Diante da crescente miséria, "os xiitas não têm nada a perder", concluiu.

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