Pessoas caminham em frente a anúncio da Letônia como presidente da UE em Riga (Ilmars Znotins/AFP)
Da Redação
Publicado em 29 de dezembro de 2014 às 13h11.
Riga - A Letônia assume na quinta-feira, 1º de janeiro, a presidência semestral da União Europeia, e deverá lidar com a Rússia de Vladimir Putin, desestabilizada pela queda do preço do petróleo, em questões como a crise ucraniana.
Mas a política russa da União Europeia não é o único desafio para esta ex-república soviética.
Na agenda figuram outros temas de grande importância, como a ameaça jihadista, a crise política grega, a segurança energética e o acesso dos europeus, especialmente aqueles dos países do Leste, ao mercado de trabalho britânico.
Mas os países bálticos não perdem de vista o ocorrido na península da Crimeia, que passou em março da Ucrânia à Rússia, e o papel de Moscou na guerra ucraniana.
E tudo isso apesar das garantias da Otan, à qual pertencem há 10 anos, e da presença de caças ocidentais, que interceptam os aviões russos perto de suas fronteiras.
A Letônia, país de dois milhões de habitantes com uma importante minoria russófona partidária, em grande parte, do Kremlin, ressalta que sua presidência não será antirrussa.
"Se há uma coisa que não faremos, é desenvolver uma presidência antirrussa ou pró-russa", disse à AFP o chefe da diplomacia letã, Edgars Rinkevics, em 23 de dezembro, um dia depois de receber simbolicamente o bastão de seu colega italiano, Paolo Gentiloni.
No entanto, seu papel não será fácil. Riga deve acolher nos dias 21 e 22 de maio uma cúpula da Associação Oriental com Belarus, Ucrânia, Moldávia, Geórgia, Armênia e Azerbaijão, que buscam se aproximar da UE. Rinkevics espera poder enviar nesta ocasião "uma mensagem forte sobre a liberalização do regime de vistos" na União Europeia.
A diplomacia letã também poderá contar em Bruxelas com um interlocutor bem ciente da situação russa-ucraniana, o ex-primeiro-ministro polonês e, há poucas semanas, presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.
A linguagem de Tusk, embora siga a linha dos letões, parece mais firme. Após sua primeira cúpula europeia, o presidente do Conselho estimou no dia 19 de dezembro que a Ucrânia era "vítima de uma espécie de invasão" e afirmou que os "europeus deveriam ir além de uma resposta reativa e defensiva".
Aproximação com Belarus
Em relação ao leste da Ucrânia, o chanceler da Letônia disse querer "fazer todo o possível para apoiar a ação diplomática e o diálogo político", mas descarta com firmeza reconhecer a incorporação da Crimeia à Rússia.
A Letônia pode prudentemente estender a mão a Belarus, aliada da Rússia, mas cujo presidente, Alexandre Lukashenko, viajou no dia 21 de dezembro a Kiev para desgosto de Moscou. A comunidade internacional acusa o chefe de Estado bielorrusso de violações dos direitos humanos.
Os letões não mostram um grande interesse na presidência semestral europeia da Letônia, embora 72% deles estejam informados sobre isso.
Embora indiferentes, mostram-se favoráveis. "Isso melhora a imagem do país", afirma um estudante, Kaspars Riekstins.
"Dizem que os hotéis estarão lotados. Isso é bom, ainda mais quando os turistas russos são escassos", acrescenta Inga, uma aposentada que prefere não fornecer o sobrenome.
Mas os usuários da Biblioteca Nacional, que deve acolher a maioria das conferências europeias e cujo acesso principal foi fechado ao público, não encaram da mesma forma.
"É um pouco humilhante ter que entrar na nossa própria biblioteca pela porta de trás", afirma à AFP Arnolds Zarins.
Os meios de comunicação também se perguntam pelo balanço financeiro. Riga deverá investir 70 milhões de euros nas diferentes reuniões enquanto, segundo um estudo encomendado pelas autoridades, a Letônia contará com 64,5 milhões de euros de receitas adicionais graças ao aumento das atividades hoteleiras e das receitas fiscais.