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Lemann, Gisele e o Brasil em Harvard

De boné, camiseta e calça jeans, Gisele Bündchen era uma figura discreta no canto de um dos auditórios da Harvard Law School, a faculdade de direito de Harvard. A modelo chamou a atenção apenas quando foi chamada ao palco por um dos palestrantes, o empresário Jorge Paulo Lemann, que a convidou para dividir com a […]

GISELE E LEMANN: na edição do ano passado, a modelo e o investidor falaram em evento que reuniu 400 brasileiros em Harvard e no MIT  / Brazil Conference

GISELE E LEMANN: na edição do ano passado, a modelo e o investidor falaram em evento que reuniu 400 brasileiros em Harvard e no MIT / Brazil Conference

DR

Da Redação

Publicado em 25 de abril de 2016 às 13h27.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h31.

De boné, camiseta e calça jeans, Gisele Bündchen era uma figura discreta no canto de um dos auditórios da Harvard Law School, a faculdade de direito de Harvard. A modelo chamou a atenção apenas quando foi chamada ao palco por um dos palestrantes, o empresário Jorge Paulo Lemann, que a convidou para dividir com a plateia a sua história.

Gisele era uma das mais de 400 pessoas que passaram pela Brazil Conference, evento de dois dias realizado no último final de semana em Boston, nos Estados Unidos. Organizada por alunos de Harvard e do MIT (Massachusetts Institute of Technology), a conferência reuniu empresários, políticos, membros do terceiro setor e empreendedores para dois dias de debate sobre o futuro do Brasil.

“A ideia é discutir problemas que estão por vir e pensar em ações práticas”, diz Bruno Santos, um dos organizadores e aluno das duas instituições. Santos e a equipe organizadora conseguiram reunir um time estrelado de palestrantes entre dos dias 22 e 23 de abril. Além de Lemann, o procurador geral da república Rodrigo Janot, o empresário Abilio Diniz e o ex-ministro Ciro Gomes foram alguns dos presentes.

A Brazil Conference se destacou pelo clima de informalidade. Nos modernos corredores do Media Lab, laboratório do MIT onde foi realizado o primeiro dia do evento, ou nas tradicionais salas de madeira da escola de direito de Harvard, durante o segundo dia, o que se viu foram grandes figuras do cenário político e econômico nacional assistindo às palestras umas das outras – algo raro em eventos do tipo.

Abrindo o primeiro dia de debates, o procurado geral da república Rodrigo Janot falou sobre os números da operação Lava-Jato, que já expediu mais de 600 mandatos de busca e apreensão e conseguiu recuperar ou bloquear mais de 830 milhões de dólares. “O que estamos vendo é só a ponta do iceberg”, disse Janot, sobre os indícios de que o esquema de corrupção investigado na Lava-Jato possa ir além dos setores de óleo e gás. Na plateia, Claudio Haddad, ex-diretor do Banco Central e atual presidente da faculdade Insper, puxou a fila quando a sessão de perguntas e respostas da palestra foi aberta. Janot, por sua vez, também ficou para a palestra seguinte, de Abilio Diniz, que falou sobre sua trajetória pessoal e deu um conselho aos presentes: “Nunca misturem negócios com família”.

Dividido em dois grandes temas, Foundations, para debater economia, instituições e infra-estrutura, e People, focado na parte social, o primeiro dia da Brazil Conference contou ainda com uma conversa entre Carlos Ayres Britto, ex-ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, e do jurista Joaquim Falcão, ex-conselheiro do Conselho Nacional de Justiça. Ambos defenderam a legalidade do processo de impeachment, porém ressaltaram a importância de seguir procedimentos definidos por lei. “Não consigo conceber uma organização para perseguir um partido político”, disse Britto.

No segundo dia, Jorge Paulo Lemann foi um dos que assistiu atentamente às apresentações de José Olympio Pereira, presidente do banco Credit-Suisse Brasil, e Marconi Perillo, governador de Goiás “O setor público não tem capacidade e nem dinheiro para lidar com todos os problemas de infraestrutura”, disse Olympio. Perillo destacou a estabilidade de carreira como um impedimento ao avanço de diversos setores. “Por que um mau funcionário não pode ser demitido?”, questionou.

Na sala ao lado, Romero Rodrigues, fundador do comparador de buscas Buscapé, foi um dos nomes convidados para falar sobre empreendedorismo. Na sequência, ele também estava na plateia durante o debate sobre inovação que contou com nomes como Carlos Sassaki, fundador da Geekie, empresa que usa a tecnologia para ensino personalizado nas escolas, e Andre Barrence, diretor do Google Campus São Paulo, iniciativa da gigante tecnológica para incentivar o empreendedorismo.

Lemann encerrou o evento concedendo uma entrevista ao consultor americano Jim Collins. Collins leu perguntas enviadas por estudantes brasileiros. Uma delas questionava quais seriam as primeiras medidas de Lemann se o seu fundo, 3G Capital, hipoteticamente adquirisse o Brasil. Sob os risos da plateia, o empresário ressaltou que não tem pretensões políticas, mas afirmou que “algumas das coisas que fazemos na 3G poderiam ser feitas no Brasil”. Seguindo a cartilha que costuma aplicar às empresas na qual investe, ele falou sobre a importância de colocar bons times motivados com um ideal comum e dispostos a correr alguns riscos. “O risco que eu correria no Brasil seria trazer um bando de jovens com ideias diferentes”, disse. Lemann ressaltou ainda qual é, na sua opinião, o grande desafio do país: “Temos que trabalhar para reduzir a desigualdade. Nunca teremos estabilidade com desigualdade”, afirmou, sob aplausos da plateia.

Ao final do evento, Bruno Santos, da organização, subiu ao palco e pediu que aqueles presentes que pretendessem seguir carreira política levantassem as mãos. Todos os que se identificaram foram chamados para uma foto. No registro, há mais de 100 jovens brasileiros, em sua maioria alunos das melhores escolas dos Estados Unidos. Se uma parcela deles de fato voltar para tentar mudar o serviço público brasileiro, já é uma grande notícia.

(Paula Rothman, de Boston)

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