Para o catalão, a posse de Kim Jong-un é um 'desejo da população da Coreia', isso depois de 63 anos que Kim Il-sung iniciasse a dinastia (AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de dezembro de 2011 às 12h03.
Seul - O espanhol Alejandro Cao de Benós, único funcionário estrangeiro da Coreia do Norte, acredita que após a morte do líder norte-coreano, Kim Jong-il, seu filho mais novo, Kim Jong-un, deverá percorrer um longo caminho até consolidar sua posição de sucessor.
'Só o tempo dirá se Kim Jong-un possui capacidade e o apoio da população para se transformar no líder do país', afirma em entrevista à Agência Efe Cao de Benós, delegado especial do Comitê de Relações Culturais com o Estrangeiro da Coreia do Norte.
Fiel defensor do comunismo 'juche' idealizado por Kim Il-sung, fundador da Coreia do Norte, este espanhol é um dos ocidentais que melhor conhece os segredos da maquinaria do regime e, por esta razão, seu telefone não para de tocar desde a morte de Kim Jong-il.
Nascido em Tarragona em 1974, Alejandro Cao de Benós teve contato com os ideais comunistas na adolescência, mas conheceu essa 'linha mais ortodoxa' somente na Coreia do Norte, cujo Governo depositou confiança no espanhol até nomeá-lo com o cargo que ocupa atualmente.
Este catalão de raízes aristocratas, cujo nome coreano é Cho Son-il, considera que a posse de Kim Jong-un é um 'desejo da população da Coreia', isso depois de 63 anos que Kim Il-sung iniciasse a dinastia. Segundo Cao de Benós, o jovem Jong-un possui respaldo do povo para herdar o poder e guiar a massa rumo à felicidade, mas este fator não é o mais importante.
'É como na Espanha, onde o rei é uma figura que representa o Estado, mas a capacidade de decisão está nas mãos de outros órgãos, como a Assembleia Popular Suprema, em nosso caso', declarou Cao de Benós, que considera as definições de 'ditadura' e 'sistema totalitário', que frequentemente são atribuídas ao país, como uma 'propaganda capitalista'.
Seu discurso, no entanto, contrasta com milhares de testemunhos de desertores, que denunciam que o regime norte-coreano restringe a maioria das liberdades básicas dos cidadãos, que são submetidos a uma constante vigilância ideológica.
Além disso, um relatório divulgado em novembro pela Assembleia Geral da ONU acusa Pyongyang de violar os direitos humanos e praticar 'tortura, execuções públicas e detenções arbitrárias, entre outras irregularidades'.
Em relação à economia da Coreia do Norte, país que desde a década de 90 depende da ajuda humanitária para alimentar sua população, Cao de Benós se mostra otimista ao afirmar que 'a crise internacional não está afetando a Coreia do Norte, que possui um sistema fechado e auto-suficiente'.
'Entre 1990 e 2000 tivemos problemas econômicos terríveis por vários fatores, como a queda do socialismo (na Rússia), desastres naturais e nosso pouco território de cultivo. Porém, a economia está melhorando muito', afirma.
No entanto, os dados de organizações internacionais mostram outra perspectiva econômica sobre Coreia do Norte. Segundo o último relatório da Unicef, divulgado em novembro, uma em cada cinco crianças sofre de desnutrição moderada e uma em cada três sofre de déficit de crescimento, fator que se agrava nas zonas rurais.
Convencido de que a Coreia do Norte está no caminho da prosperidade, Cao de Benós descarta a possibilidade de que o país aproveite essa fase de transição para se afastar um só centímetro da ortodoxia comunista que, assegura, é a base da felicidade do povo coreano.
'Não vai ocorrer como na China ou no Vietnã. Nosso Governo vai manter a linha socialista firme, baseada na propriedade estatal, que é a propriedade do povo', afirma.
No entanto, os negócios com empresas capitalistas pode ser o novo motor de crescimento para impulsionar a Coreia do Norte, segundo Cao de Benós, que cita projetos 'já preparados', como o gasoduto da Rússia a Coreia do Sul, que passará por território norte-coreano, e a fusão dos trens transiberianos e transcoreanos.
'Desde as telas Samsung da Coreia do Sul até os produtos japoneses da Sony serão enviados via trem com esta nova linha e, por isso, os países da região vão ter que contar com Coreia do Norte', que em 2012 deverá se unir ao grupo das prósperas economias orientais: os 'dragões asiáticos'.