Ucranianos protestam em praça de Kiev: presidente interino declarou que autoridades "estão a favor da via pacífica, da cooperação, das negociações e do diálogo" (Sergei Supinsky/AFP)
Da Redação
Publicado em 15 de maio de 2014 às 15h59.
Kiev - O governo da Ucrânia não deu ouvidos ao ultimato dos insurgentes e manteve sua ofensiva contra redutos pró-Rússia na região de Donetsk, epicentro do levante contra as autoridades de Kiev desde o começo de abril.
O presidente interino do país, Alexander Turchinov, afirmou que Kiev só vai suspender sua "operação antiterrorista" em Donetsk se os rebeldes entregarem as armas e libertarem reféns.
"Insisto: a operação antiterrorista é realizada para defender os cidadãos ucranianos. Contra aqueles que, com armas nas mãos, combatem contra a Ucrânia", ressaltou.
Turchinov declarou que as autoridades "estão a favor da via pacífica, da cooperação, das negociações e do diálogo", em alusão a um debate de união nacional que terá sua segunda parte neste sábado em Donetsk.
Os deputados do Partido das Regiões (PR), o mais votado no leste da Ucrânia e que foi liderado no passado pelo presidente deposto Viktor Yanukovich, abandonou hoje a sessão da Rada em protesto pela ofensiva militar contra os insurgentes.
"Hoje, no leste da Ucrânia, matam gente. Pedimos que suspendam a operação antiterrorista. Os senhores se comportam como se não ocorresse nada. O PR considera que, nesta situação, trabalhar nesta câmara é o ápice da hipocrisia. Por isso, abandonamos a sala", afirmou o deputado Alexei Yefremov.
Por sua vez, o chefe do PR, Nikolai Levchenko, considera impossível compaginar as negociações de paz com os insurgentes com a operação no leste da Ucrânia, e exigiu a desarticulação da Guarda Nacional.
Levchenko criticou o fato de que as autoridades prosseguissem sua ofensiva militar após realizarem ontem a primeira parte desse debate de união nacional em Kiev e propor a realização da segunda etapa em Donetsk.
"Depois da mesa-redonda, foi feita uma incursão militar contra seu próprio povo, e de novo foi derramado sangue. Isso é inaceitável. Durante as negociações de paz, não deve ser derramado sangue", assinalou.
Turchinov declarou hoje que as tropas governamentais realizaram várias incursões militares bem-sucedidas junto às cidades de Slaviansk e Kramatorsk, redutos irredutíveis dos rebeldes.
As forças de segurança "limparam completamente, em um raio de cinco quilômetros, a área em torno da torre de televisão que retransmite o sinal dos canais ucranianos para as cidades de Kramatorsk, Slaviansk e outras localidades", destacou.
Além disso, Turchinov informou aos deputados que as tropas ucranianas também "destruíram um acampamento militar camuflado dos terroristas".
Estas informações foram refutadas pelos rebeldes, que relataram 11 mortes entre membros das forças governamentais, além de 24 feridos, contra um miliciano morto, nos combates travados durante a madrugada.
As milícias pró-Rússia deram prazo até as 21h locais (15h de Brasília) de hoje às tropas ucranianas para que se retirem das regiões de Donetsk e Lugansk, que proclamaram na segunda-feira sua independência.
"Nossos militares deram ontem, às 21h, um ultimato à Ucrânia para que retire suas tropas (...) em um prazo de 24 horas. Se isso não ocorrer, nossos militares podem obrigá-los a se retirar pela força", declarou hoje o copresidente da autoproclamada "república popular de Donetsk", Miroslav Rudenko.
Os paramilitares pró-Rússia bloqueiam desde ontem duas unidades militares ucranianas lotadas nas capitais das duas regiões rebeldes, a cujos comandantes exigem que jurem lealdade às novas autoridades separatistas.
Esta foi a primeira ocasião na qual os milicianos pró-Rússia bloquearam uma unidade militar de forma semelhante à feita pelas chamadas "forças de autodefesa" em março na península da Crimeia, agora anexada pela Rússia.
Os líderes pró-Rússia considerarão "ilegal" a presença em seu território das forças de segurança ucranianas, que serão classificadas a partir de agora como "forças ocupantes".
A Guarda Nacional da Ucrânia confirmou nesta quinta o sequestro do coronel Yuri Lebed, comandante da União Operacional Territorial do Leste, que agrupa sob seu comando oito unidades militares nas regiões de Donetsk, Lugansk, Kharkiv e Sumy, no leste do país.
Já a ex-primeira-ministra ucraniana Yulia Tymoshenko propôs hoje a convocação de um referendo sobre a integridade territorial do país e sua adesão à União Europeia e à Otan, coincidindo com as eleições presidenciais de 25 de maio.
"O povo no sul e no leste vive com a ideia de realizar um referendo" sobre sua independência, disse a candidata presidencial, que considera que essa consulta popular acalmaria os ânimos no leste russófono.