O secretário de Estado americano, John Kerry: os EUA tentaram promover conversas unilateralmente, no início de 2012, mediante encontros no Catar, mas os talibãs colocaram fim a este diálogo após alguns meses. (AFP/ Jewel Samad)
Da Redação
Publicado em 25 de março de 2013 às 16h18.
Cabul - O secretário de Estado americano, John Kerry, disse nesta segunda-feira que Washington apoia o diálogo entre Cabul e os talibãs no Catar, e o presidente afegão, Hamid Karzai, ressaltou que a colaboração do Paquistão é "chave" para o êxito do mesmo.
"A iniciativa do escritório do Catar (no emirado islâmico) é boa para o processo de paz", afirmou Kerry em entrevista coletiva junto a Karzai no palácio presidencial de Cabul, horas após chegar em visita supresa ao país asiático.
Kerry afirmou que o presidente afegão "só está interessado no processo de paz" e que "não há acordo com os talibãs", em referência a um hipotético pacto secreto sobre uma eventual repartição de poder após a saída definitiva das tropas aliadas em 2014.
Karzai, que deve viajar esta semana para Doha para se reunir com alguns membros da insurgência, precisou que o escritório do Catar está destinado aos "talibãs que queiram negociar com o Governo afegão e o Conselho de Paz".
"As conversas entre o Conselho de Paz e os talibãs estão em andamento e também entre os Governos do Afeganistão e Paquistão", detalhou o líder, que ressaltou que o "apoio do Paquistão é chave" para o bom desenvolvimento do processo.
Nos últimos anos foram produzidas diversas iniciativas de diálogo entre o movimento fundamentalista talibã, a comunidade internacional e as autoridades afegãs para encontrar uma saída ao conflito, embora todas elas tenham fracassado.
Um processo liderado por Cabul foi seriamente afetado no final de 2011 com o assassinato em um atentato suicida do ex-presidente Burhanudín Rabbani, que dirigia o Conselho de Paz afegão encarregado de comandar as negociações.
Os EUA tentaram promover conversas unilateralmente, no início de 2012, mediante encontros no Catar, mas os talibãs colocaram fim a este diálogo após alguns meses alegando que Washington não mostrava um compromisso sério.
E nos últimos meses, o Governo afegão interage com o Afeganistão, país vizinho cujos órgãos de segurança são acusados de encobrir várias facções insurgentes que operam no Afeganistão.
Paralelamente, Karzai anunciou em uma conferência tripartida em fevereiro entre Afeganistão, Paquistão e o Reino Unido que abriria uma nova via de diálogo com os talibãs no Catar e no domingo, seu Governo informou que nesta semana acontecerão conversas nesse emirado islâmico.
A reativação da opção negociadora chega no meio da enésima rixa dialética entre Cabul e Washington em torno do papel das tropas estrangeiras no país.
O presidente afegão tinha dito no início do mês que a missão aliada (Isaf) coopera com os talibãs como estratégia para promover a presença internacional além de 2014, e dias depois a Otan qualificou a ideia de "ridícula".
Karzai, em um tom mais conciliador, disse que sua ideia foi "mal interpretada" e defendeu que quando critica os EUA não se deve tomar "como um insulto, mas como um esforço para corrigir coisas".
O chefe de Estado afegão reiterou, além disso, sua frase habitual de que "a guerra contra o terrorismo não se livra nas casas e povos do Afeganistão", em alusão às fortificações que a insurgência tem nas áreas tribais paquistaneses.
Karzai também agradeceu Kerry pela transferência do controle total da prisão de Bagram, próxima a Cabul, por parte das forças dos EUA às autoridades afegãs, e assegurou que "os afegãos podem cuidar da segurança do país".
Kerry, por sua vez, disse que o "Afeganistão não estará só quando se levante sobre seus próprios pés" e garantiu o apoio de Washington à missão aliada que permaneça no território além de 2014 para tarefas de "treino, conselho e assistência".