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Kavanaugh se defende e diz que não retirará sua indicação ao Supremo

O juiz é acusado pela professora Christine Blasey Ford de tentativa de estupro; o crime teria ocorrido quando os dois estavam no ensino médio em 1982

Kavanaugh: o juiz enfrenta três acusações de tentativa de estupro (Win McNamee/Reuters)

Kavanaugh: o juiz enfrenta três acusações de tentativa de estupro (Win McNamee/Reuters)

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AFP

Publicado em 27 de setembro de 2018 às 17h14.

Última atualização em 28 de setembro de 2018 às 11h06.

Foi a palavra dele contra a dela. O indicado do presidente americano à Suprema Corte, Brett Kavanaugh, reiterou a sua inocência em uma audiência na qual disse, ultrajado, que não retirará a sua candidatura, após o depoimento de Christine Blasey Ford, que o acusou de tentar estuprá-la em 1982.

"Eu não vou me deixar intimidar e renunciar a este processo", disse o juiz em uma declaração à Comissão Judicial do Senado, que analisa a sua candidatura à Suprema Corte, e que ouviu os depoimentos das duas partes.

"Minha família e meu nome foram destruído de forma total e permanente por essas acusações falsas e sem sentido", declarou o juiz conservador em um depoimento no qual tentava se segurar para não chorar.

Também disse na audiência que o processo de confirmação havia se tornado uma "vergonha nacional".

Diante da mesma comissão que o interrogou, Blasey Ford assegurou que Kavanaugh tentou estuprá-la em uma festa de estudantes.

"Eu achei que ele ia me estuprar", disse, enumerando os detalhes daquela noite em uma declaração já preparada e lida enquanto tentava conter as lágrimas.

Ao ser questionada sobre como poderia ter tanta certeza de que o juiz foi o agressor, respondeu sem hesitar: "Do mesmo jeito que tenho certeza de que estou falando com o senhor agora".

"Estão indelevelmente no hipocampo a risada, as barulhentas risadas deles dois, se divertindo às minhas custas", relatou Blasey Ford em um dos momentos cruciais da audiência, no qual reiterou que estava "100% segura" de que foi Kavanaugh quem a agrediu.

Entre as grandes expectativas do dia estava ver o rosto de Blasey Ford, de quem apenas eram conhecidas fotos antigas.

Esta acadêmica especializada em trauma compareceu na comissão usando um terninho azul marinho e óculos, através dos quais eram possível ver seu nervosismo aumentando à medida que o interrogatório avançava.

O depoimento da mulher, com duração de quatro horas e transmitido ao vivo pela televisão, foi, inclusive, acompanhado pelo presidente, no Air Force One, em sua volta a Washington de Nova York, segundo a porta-voz Sarah Sanders. O depoimento do juiz também foi televisionado.

Nesta quinta-feira mais tarde, o presidente Trump reiterou o seu apoio a Kavanaugh: "O juiz Kavanaugh mostrou aos Estados Unidos exatamente o porquê eu o indiquei. Seu depoimento foi potente, honesto e cativante", declarou no Twitter.

"Achei que fosse me matar por acidente"

Há duas semanas, Kavanaugh parecia prestes a ganhar sua aprovação do Senado para entrar na Suprema Corte, uma jurisdição que trata de questões fundamentais da sociedade, como direito ao aborto, porte e posse de armas de fogo e direitos das minorias.

Para Trump, colocar um juiz conservador em um cargo vitalício na alta corte selaria seu objetivo de deixar em minoria os juízes progressistas, ou moderados, durante anos.

"Era difícil respirar e achei que Brett fosse me matar por acidente", contou a professora, que diz que as lembranças das risadas de seus agressores a "atormentaram em momentos" de sua vida adulta.

A atriz Alyssa Milano, uma das estrelas de Hollywood que denunciou os abusos que deflagraram o movimento #MeToo, viajou para Washington a fim de dar seu apoio a Blasey Ford, somando-se às manifestações de apoio para a acadêmica.

"Quis vir para mostrar meu apoio à doutora Ford, para expressar minha solidariedade com outras mulheres, com outras sobreviventes que tiveram experiências parecidas", disse a atriz à AFP.

Do lado de fora do Capitólio, os partidários de Kavanaugh também compareceram para expressar o seu apoio ao juiz.

"Potente e crível"

O senador democrata Richard Blumenthal disse a Blasey Ford que considerava que seu depoimento era "potente e crível". "Eu acredito em você", afirmou.

Pela bancada republicana, o senador Lindsey Graham assegurou que isto não parecia um interrogatório, mas um inferno.

"Digo aos meus correligionários republicanos: se vocês votarem não, estarão legitimando a coisa mais desprezível que vi em toda a minha vida na política", acrescentou.

Desde que Blasey Ford contou a sua experiência, outras duas mulheres a acompanharam.

Deborah Ramirez, uma colega de Kavanaugh na Universidade de Yale, o acusa de esfregar os seus genitais em seu rosto, e Julie Swetnick disse que foi testemunha de abusos cometidos pelo juiz em sua juventude.

"Vi Brett Kavanaugh beber excessivamente em muitas dessas festas e ter condutas de abuso e comportamentos agressivos com as meninas, incluindo toques indesejados e tentativas de tirar a roupa, ou agarrar as garotas para mostrar as suas partes íntimas", declarou Swetnick no comunicado divulgado por seu advogado, Michael Avenatti, que também defendeu a atriz pornô Stormy Daniels em seu litígio com Trump.

A mulher também denunciou que foi vítima de um estupro coletivo em 1982 em uma festa na qual o juiz estava.

Até agora, apesar das novas denúncias contra Kavanaugh por supostos abusos, Trump manteve seu apoio ao juiz. Mas, na quarta-feira, pela primeira vez, surgiu uma sombra de dúvida e o presidente disse que poderia "mudar de opinião".

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