Mikhail Kalashnikov: "se meu rifle terminou com a vida de tantas pessoas, pode ser que eu... seja culpado por estas mortes, ainda que fossem inimigos?", disse em carta (Natalia Kolesnikova/AFP)
Da Redação
Publicado em 13 de janeiro de 2014 às 08h48.
Moscou - Mikhail Kalashnikov, criador do lendário fuzil de assalto, escreveu uma carta ao chefe da Igreja ortodoxa russa antes de sua morte manifestando o temor de ser culpado pessoalmente pela perda de tantas vidas.
Em abril passado, Mikhail Kalashnikov, que faleceu em dezembro aos 94 anos, escreveu uma longa e emotiva carta ao patriarca da Igreja Ortodoxa russa Kirill, indicou nesta segunda-feira o Izvestia, um jornal partidário do Kremlin.
"Minha dor espiritual é insuportável. De vez em quando me faço a mesma pergunta que não posso responder: 'Se meu rifle terminou com a vida de tantas pessoas, pode ser que eu... seja culpado por estas mortes, ainda que fossem inimigos?'".
A carta datilografada no papel pessoal de Kalashnikov e reproduzida pelo Izvestia foi assinada pelas mãos trêmulas do homem que se descreveu como "um servo de Deus, o designer Mikhail Kalashnikov".
Kalashnikov, cujo funeral contou com a presença do presidente Vladimir Putin, criou este fuzil de desenho simples após a grave carência de armas do Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial.
Atualmente, o fuzil de assalto AK-47 é fabricado massivamente sem licença em todo o mundo e se converteu na arma preferida dos movimentos insurgentes. Também é utilizado pelas crianças-soldados.
O secretário de imprensa do Patriarca, Alexander Volkov, declarou ao Izvestia que o chefe da Igreja ortodoxa russa recebeu esta carta e escreveu uma resposta pessoal.
"A Igreja tem uma posição muito clara: quando as armas servem para proteger a pátria, a Igreja apoia tanto seus criadores quanto os soldados que as utilizam", disse Volkov.
"Ele desenhou este fuzil para defender seu país, não para que os terroristas pudessem utilizá-lo na Arábia Saudita", acrescentou.