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Kadafi extorquiu dinheiro para pagar por Lockerbie

Regime ameaçou companhias norte-americanas para conseguir o dinheiro para indenizações do atentado

Kadafi, líder da Líbia: valor conseguido do comércio com EUA mantém regime (Getty Images)

Kadafi, líder da Líbia: valor conseguido do comércio com EUA mantém regime (Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 24 de março de 2011 às 14h49.

Washington - Os assessores do líder líbio Muammar Kadafi exigiram de empresas americanas enormes quantias para ajudar Trípoli a arcar com as despesas das indenizações (1,5 bilhão de dólares) às vítimas do atentado líbio em Lockerbie, sob a ameaça de fazer com que perdessem contratos lucrativos no país árabe, informou o New York Times nesta quinta-feira.

Em 2009, oficiais líbios alertaram os executivos americanos que se suas companhias - a maioria multinacionais de energia - não cedessem a essa cobrança, haveria sérias consequências sobre seus negócios, de acordo com o departamento de Estado americano citado pelo jornal.

A atitude do regime Kadafi, segundo a matéria do New York Times, evidencia o clientelismo político e a cultura de corrupção endêmica na Líbia e que se acentuaram em 2004, quando os Estados Unidos retomaram suas relações comerciais com Trípoli.

Esta reabertura comercial fez com que as multinacionais se lançassem avidamente à exploração das reservas petrolíferas líbias.

Os empresários americanos, ansiosos por fazer negócios nesta região do norte da África, foram manipulados por Kadafi e seus filhos, que, segundo a matéria, obtiveram uma quantia que totaliza vários milhares de milhões.

É esta soma que permite a Kadafi manter-se no poder, apesar da rebelião do povo líbio contra o regime e os ataques aéreos da coalizão ocidental contra as forças fieis ao líder líbio.


"A Líbia é uma cleptocracia, na qual o regime (seja a família de Kadafi ou seus aliados) tem interesses diretos em tudo que possua valor", afirma o departamento de Estado, citado pelo jornal americano.

Os interesses empresariais também ganharam um novo fôlego na Líbia em 2008, quando Trípoli admitiu sua responsabilidade no atentado de Lockerbie.

O New York Times afirma que uma dúzia de empresas americanas, entre as quais Boeing, Raytheon, ConocoPhilips, Occidental, Caterpillar e Halliburton, procuraram imediatamente se estabelecer na Líbia.

Algumas companhias relacionadas neste método de extorsão pagaram uma verdadeira fortuna. A Occidental Petroleum repassou um bilhão de dólares à Líbia como parte de um contrato de 30 anos.

Juan Zarate, ex-alto assessor da Casa Branca na administração de George W. Bush, afirmou que Washington fez "um acordo com o demônio" quando retomou o comércio com a Líbia.

"A esperança era de que, com a normalização, Kadafi agisse menos como o cão louco do Oriente Médio e fosse mais parceiro", afirmou ao Times.

Em 21 de dezembro de 1988, foi realizado um atentado terrorista contra o voo da Pan Am que explodiu sobre a cidade escocesa de Lockerbie, matando 270 pessoas.

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