Imprensa na Rússia: publicação conseguiu arrecadar em apenas quatro dias mais do que o suficiente para pagar a multa (macky_ch/Thinkstock)
EFE
Publicado em 14 de novembro de 2018 às 15h02.
Moscou - A Justiça da Rússia impôs uma multa de 22,2 milhões de rublos (327 mil dólares) à revista opositora "The New Times", uma das publicações mais críticas ao poder, no que representa a maior sanção econômica a um meio de comunicação na história do país, segundo a União de Jornalistas da Rússia.
Um tribunal de Moscou ditou a multa pela suposta infração por parte da revista de uma lei que obriga aos veículos de imprensa informar às autoridades sobre seu financiamento estrangeiro.
Segundo os juízes, o "The New Times" não cumpriu com a norma ao não prestar contas dos 22,2 milhões de rublos que tinha recebido em 2017 da ONG "Fundo de apoio à imprensa livre", declarada "agente estrangeiro" pelo Ministério de Justiça.
A publicação conseguiu arrecadar em apenas quatro dias mais do que os fundos suficientes para pagar a multa, segundo o meio.
"Conseguimos: 25.443.090 rublos (378.848 dólares). Obrigada a todos", escreveu a diretora do meio de comunicação Evguenia Albats em sua conta da rede social Twitter.
Segundo os advogados da publicação, a multa equivaleria ao orçamento anual da revista e se não conseguisse obter fundos para fazer frente à mesma, a revista teria que fechar. A "The New Times", que escreve sobre temas "que outros não cobrem", segundo a sua diretora, deixou de ser publicada em 2017 e desde então existe só na sua versão digital.
Albats tinha relacionado a multa previamente com uma entrevista que ela fez com o líder opositor russo, Alexei Navalny, em seu programa na emissora o "Eco de Moscou".
Ao mesmo tempo, sugeriu que o "ataque" das autoridades à publicação começou realmente em março, após a publicação de uma série de artigos sobre os resultados dos 18 anos de Vladimir Putin no Governo da Rússia.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, reconheceu hoje que a multa é elevada, mas se negou a qualificá-la de "absurda". "É verdade que (o montante) é enorme, mas foi calculado em estrita concordância com a legislação vigente após uma violação da lei por parte da publicação", disse em entrevista coletiva. Além disso, chamou a "deixar de lado as emoções" e "se guiar só pelos fatos".
Ao mesmo tempo, Peskov felicitou o "The New Times" por arrecadar a soma da multa com ajuda de seus leitores no mundo todo porque, disse, "isso significa que tem um público fiel, disposto a mexer no bolso" para que a revista possa seguir sua caminhada.