Com a decisão judicial, Liliane Bettencourt perderá o cargo no conselho de administração da gigante dos cosméticos L'Oreal e a presidência da holding controlada pela família no grupo (Francois Guillot/AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de outubro de 2011 às 11h26.
Corbevoie - Liliane Bettencourt, herdeira da gigante dos cosméticos L'Oréal e dona da terceira maior fortuna da França, sofre de uma "demência mista" e mal de Alzheimer, segundo boletim médico, e por isso será colocada sob tutela.
Os advogados da bilionária apelaram da decisão, mas o recurso não deve ser aceito.
Esta decisão tira o poder de Liliane Bettencourt de administrar a empresa L'Oréal. O juiz decidiu nesta segunda-feira confiar todos os poderes de tutela a seus familiares.
O neto mais velho de Bettencourt terá a guarda da avó, enquanto os bens e patrimônio ficarão sob a tutela da filha Françoise Bettencourt-Meyers e de seus dois netos, afirmaram os advogados dos familiares depois da audiência diante do juiz de tutelas de Coubevoie.
Os três tutores designados asseguraram que a tutela não terá consequências sobre a direção e "o equilíbrio acionário" da L'Oréal. Eles insistiram no "apego profundo de toda a família" com a gigante de cosméticos.
"Neste momento, nós não faremos mais comentários", declarou à AFP um porta-voz do grupo L'Oréal.
Antes da audiência, um boletim médico de Liliane Bettencourt foi revelado pelo site do jornal Le Monde. Segundo o documento, Bettencourt sofre de "uma demência mista" e de "Alzheimer em estágio moderado para severo" com um "processo degenerativo cerebral lento".
Pessoas próximas à bilionária afirmaram que o boletim assinado por médicos, que acompanharam um juiz em junho à residência de Liliane Bettencourt, foi contestado pela defesa da herdeira. A anulação do documento foi pedida, e a justiça deve examinar o pedido até o dia 10 de novembro.
Em uma entrevista para o semanário Le Journal du Dimanche (JDD), Liliane Bettencourt ameaçou partir "para o exterior" caso o juiz decidir coloca-lá sob a tutela de sua filha Françoise.
"Se acontecer isso, eu parto para o exterior. Se minha filha tomar conta de mim, eu vou sufocar", declarou a herdeira.
Questionado sobre a eventual partida da terceira fortuna da França, o ministro do Interior Claude Guéant disse não ter "nenhum conselho a dar à senhora, mas o que está em questão é o cárater francês de um enorme grupo".
O patrimônio de Bettencourt é minuciosamente analisado pelo poder político, que está preocupado com uma possível aquisição estrangeira da L'Oreal pela gigante suíça Nestlé, que já possui 30% do capital, sendo o segundo maior acionista.
Durante o verão de 2010, Bettencourt esteve no centro de um caso político-fiscal, que nasceu com um conflito familiar entre a mãe e sua única filha.
Essa disputa teve origem após Françoise Bettencourt-Meyers acusar o escritor e fotógrafo François-Marie Banier de se aproveitar da fraqueza da mãe para tirar aproximadamente um bilhão de euros em doações entre 1990 e 2000.
O caso repercutiu na política e provocou à saída do ministro do Trabalho, Eric Woerth, sob suspeita de conflito de interesses e de financiamento ilegal.
No início de setembro, um livro escrito por dois jornalistas do jornal Le Monde reabriu o caso: um magistrado acusa o poder de pressionar testemunhas que teriam visto o presidente Nicolas Sarkozy receber dinheiro do caixa da família Bettencourt para financiar sua campanha na eleição presidencial de 2007. Acusações que a presidência nega.