Catalunha: a investigação está relacionada com as manifestações realizadas em Barcelona nos dias 20 e 21 de setembro (Jon Nazca/Reuters)
AFP
Publicado em 4 de outubro de 2017 às 09h58.
A Justiça espanhola convocou a prestar depoimento por suspeita de sedição o comandante da polícia e dois líderes separatistas da Catalunha, cujo governo, decidido a declarar a independência, foi acusado de "deslealdade" pelo rei Felipe VI em um discurso no qual o mesmo pediu ao Estado que defenda a ordem.
O comandante dos Mossos d'Esquadra, Josep Lluís Trapero, uma subalterna, a intendente Teresa Laplana, e os líderes independentistas Jordi Sánchez e Jordi Cuixart, dirigentes de duas associações independentistas - Assembleia Nacional Catalã e Omnium Cultural, respectivamente - devem prestar depoimento na na sexta-feira na Audiência Nacional, a principal instância penal espanhola.
A investigação está relacionada com as manifestações realizadas diante de uma dependência do governo catalão em Barcelona nos dias 20 e 21 de setembro, quando a Guarda Civil realizava uma operação no local.
Os manifestantes danificaram veículos da Guarda Civil estacionados diante do prédio e impediram saída dos agentes até a madrugada.
O delito de sedição pode resultar em uma pena máxima de prisão de 10 anos para cidadãos comuns e 15 anos no caso de autoridades.
Em Barcelona, os independentistas catalãs, liderados pelo presidente do governo regional Carles Puigdemont, definirão nesta quarta-feira os próximos passos na disputa com o governo espanhol.
Puigdemont deve revelar em um discurso o que seu governo fará após o referendo de independência de domingo, considerado inconstitucional pela justiça e reprimido com violência pela polícia espanhola.
Além disso, representantes dos partidos devem se reunir no Parlamento regional para decidir a data em que poderia ser declarada a independência, o que deve ocorre após a apuração de todos os votos do plebiscito, do qual já foi anunciado que o "Sim" venceu com mais de 90% dos votos.
O Parlamento Europeu, em meio a pedidos de mediação internacional e defesa da Espanha como uma democracia estável, também debate nesta quarta-feira a situação na Catalunha.
Tudo isto apenas um dia depois do discurso do rei Felipe VI da Espanha, que pediu a defesa da "ordem constitucional da deslealdade" dos independentistas, em uma mensagem sem concessões.
O porta-voz do governo catalão, Jordi Turull, afirmou na televisão pública regional TV3 que o monarca "jogou gasolina na fogueira".
"Foi espantoso e um erro de todos os pontos de vista", disse o porta-voz, que acusou o monarca de esquecer dos catalães.
No primeiro discurso institucional de seu reinado, Felipe VI recordou que "é responsabilidade dos legítimos poderes do Estado assegurar a ordem constitucional e o normal funcionamento das instituições".
"Determinadas autoridades da Catalunha, de maneira reiterada, consciente e deliberada, vieram descumprindo a Constituição e seu Estatuto de Autonomia", disse.
"Com suas decisões, vulnerabilizaram de maneira sistemática as normas aprovadas legal e legitimamente, demonstrando uma deslealdade inadmissível", completou o rei, sem mencionar em nenhum momento a violência registrada durante odomingo.
O presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, disse à rede britânica BBC que o governo regional deve declarar a independência da Espanha "em questão de dias", após a apuração total dos votos do referendo proibido realizado no domingo.
"Vamos declarar a independência 48 horas após a apuração oficial de toda a votação. Provavelmente isto vai acabar quando tivermos os votos do exterior. Nos movemos entre o final de semana e o início da semana que vem", disse Puigdemont.
O governo de Puigdemont já havia informado que a independência seria declarada 48 horas após a divulgação dos resultados.