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Justiça dos EUA concede liberdade condicional a Trump sobre caso de documentos secretos

Trump era acusado de ter ficado com documentos confidenciais após deixar a Casa Branca

O republicano, que já anunciou sua pré-candidatura para as eleições de 2024, é alvo de ainda 37 acusações (Jeff J Mitchell/Getty Images)

O republicano, que já anunciou sua pré-candidatura para as eleições de 2024, é alvo de ainda 37 acusações (Jeff J Mitchell/Getty Images)

Publicado em 13 de junho de 2023 às 17h30.

Última atualização em 13 de junho de 2023 às 17h54.

A Justiça dos EUA concedeu nesta terça-feira, 13, liberdade condicional ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele se entregou as autoridades federais de Miami, nesta terça-feira, 13, onde prestou depoimento sobre as acusações de ter ficado com documentos confidenciais após deixar a Casa Branca.

O republicano, que já anunciou sua pré-candidatura para as eleições de 2024, é alvo de ainda 37 acusações, entre elas "retenção ilegal de informação relacionada com a segurança nacional", "obstrução da Justiça" e "falso testemunho"

Documentos secretos na casa de Trump

A residência do ex-presidente americano em Palm Beach, na Florida, é o epicentro do terremoto que atingiu o mundo político e judicial dos Estados Unidos. A mansão em estilo mediterrâneo com 126 quartos é o principal cenário por trás da denúncia dos documentos sigilosos da Casa Branca. Ao que tudo indica, eles estavam mantidos na propriedade de Mar-a-Lago sem autorização.

Nos papéis guardados em Mar-A-Lago há informações sobre capacidades defensivas dos Estados Unidos e de outros países, detalhes sobre programas nucleares e sobre potenciais vulnerabilidades em caso de ataque estrangeiro, assim como planos de resposta a um cenário como esse. Apesar de não constar que as pessoas que tiveram acesso não autorizado ao material tivessem a intenção de espionar, a acusação concluiu que apenas a possibilidade botou em “risco a política externa e a segurança nacional e das Forças Armadas e de suas fontes de informação"

Ainda que a linguagem jurídica seja indigesta, a leitura da denúncia — cuidadosamente elaborada para não deixar arestas — revela uma novela intrigante sobre os segredos e mentiras que envolvem a vida extravagante em Mar-a-Lago.

A mansão de Palm Beach foi palco de mais de 150 eventos, como casamentos ou reuniões de arrecadação de fundos, com dezenas de milhares de convidados, entre janeiro de 2021 e 8 de agosto do ano passado — dia em que o FBI fez buscas no local para apreender os documentos que haviam sido solicitados inúmeras vezes ao ex-presidente. Por lei, o material é propriedade dos Arquivos Nacionais e nenhum presidente pode considerá-lo seu. Nem mesmo o atual presidente Joe Biden, que também está no centro de uma investigação sobre documentos da época em que era vice-presidente e que foram encontrados anos depois em um escritório particular em sua casa em Delaware.

A denúncia de Smith — a quem Trump chamou na sexta de um “psicopata transtornado” — é ainda uma novela ilustrada. As 49 páginas contêm fotos dos lugares em que estiveram as caixas e o texto que as acompanha detalha os deslocamentos a que foram submetidos os documentos.

A princípio uma parte esteve dois meses sobre o palco no salão de baile “Ouro e Branco”, o menor deles na residência e que fica no edifício principal do clube exclusivo que tem centenas de associados e mais de 150 funcionários. Depois, moveram algumas caixas para a zona de escritórios da ala oeste do complexo, que inclui um spa, uma loja, espaços esportivos, jardim e uma piscina ao ar livre. Quando um empregado pediu para esvaziar um cômodo para poder usar como escritório, uma dezena de caixas acabaram no banheiro do “quarto do lago”, que fica perto da torre, o elemento arquitetônico mais característico do resort.

Logo depois, Trump mandou esvaziar um depósito no térreo para abrigar 80 caixas. O relatório diz que a porta desse local costumava estar aberta.

Documentos sigilosos no banheiro

A foto do banheiro, com os documentos sigilosos impedindo o acesso ao chuveiro disputou as atenções da opinião pública com uma outra, feita por Nauta em dezembro de 2021. A imagem registrada pelo assessor mostra uma caixa aberta, com documentos espalhados pelo chão. Nauta enviou a foto a um colega que respondeu “Oh no Oh no”(“Ah não, ah não”). Em torno dessa data, algumas caixas foram levadas para a parte do complexo em que vive a família Trump quando está em Mar-a-Lago. Quando o FBI entrou na propriedade encontrou 75 caixas no armazém e 27 na área do dormitório — todas com material classificado como “confidencial”, “secreto” ou “altamente secreto”

A denúncia também contém diálogos entre funcionários do complexo — embora apenas Nauta, que mentiu em depoimento ao FBI ao dizer que não sabia das movimentações dos documentos dentro da propriedade, seja citado nominalmente — incluindo transcrições de conversas. “Não seria melhor dizer que não temos nada aqui?”, perguntou supostamente Trump a seus advogados quando foi informado, em maio de 2022, que o grande júri estava exigindo a devolução de qualquer documento classificado como sigiloso.

Para o historiador Russel L. Riley, codiretor do centro Miller de história oral sobre presidentes da Universidade da Virginia em Charlottesville, Trump não apenas se comportou de modo “terrivelmente imprudente”, como “também tolo”.

"Como alguém que se dedica a estudar nossos líderes sem víeis partidário, não posso deixar de me sentir frustrado pelos seis anos em que estamos tendo que lidar com ele. Na minha opinião, a denúncia mostra que (Trump) sempre viveu convencido de que, não importa o que faça, vai se safar", disse o historiador em entrevista por telefone

Riley não acredita que os últimos acontecimentos mudem muito a opinião pública americana, já que, para alguns, o episódio mostra que ninguém está acima da lei e, para outros, que o sistema judiciário é politizado. Trump vai disputar novamente a vaga republicana para as eleições presidenciais de 2024 e é o favorito com mais de 50% do apoio do eleitorado do partido. Tudo indica que será uma campanha entre comícios e tribunais. Entre os republicanos, foi quase unânime o movimento para defender o ex-presidente e criticar o que chamaram de “instrumentalização política” das agências federais.

O historiador prefere pensar que as declarações de políticos republicanos foram feitas por falta de leitura da denúncia ou por ausência de vontade de conhecer o conteúdo das acusações.

"Espero realmente que vejam essa situação como oportunidade de virar de vez a página de Trump", defende o especialista, que ainda lembra que —como presidente, Trump não podia levar essas caixas, independentemente do conteúdo. É como se tivesse retirado móveis ou computadores da Casa Branca. A lei não comtempla punição para esses atos porque quem escreveu a legislação não pode prever a existência de um presidente com um comportamento tão indecoroso.

(Com Agência o Globo)

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