Líderes da oposição voltaram a exigir a renúncia do vice (©AFP / Daniel Garcia)
Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2014 às 09h54.
Buenos Aires - Amado Boudou se tornará em 15 de julho o primeiro vice-presidente argentino a entrar num tribunal para responder a um inquérito. A decisão de convocar o vice da presidente Cristina Kirchner foi anunciada ontem pelo juiz federal Ariel Lijo, que o investiga pela suposta aquisição irregular da empresa gráfica Ciccone.
A empresa depois ganharia o nome de Companhia Sul-americana de Valores, em conjunto com um grupo de sócios que teriam agido como testas de ferro de Boudou.
No dia da declaração à Justiça, o vice estará exercendo funções de presidente em exercício, já que Cristina estará fora do país, no Brasil, como convidada especial da reunião dos Brics.
Líderes da oposição voltaram a exigir a renúncia do vice, que se tornou o integrante mais impopular do governo Kirchner. No entanto, ontem, antes de partir para El Salvador, em viagem oficial, Boudou declarou que não renunciará ao cargo. "Sou inocente", afirmou.
Setores do kirchnerismo admitem - discretamente - que o vice se tornou um peso morto para a presidente.
O "Caso Ciccone" transformou-se no maior escândalo de corrupção do governo Kirchner, provocando, segundo diversas pesquisas, uma queda persistente da popularidade de Cristina desde que veio à tona semanas após a reeleição presidencial de 2011. Nos últimos três anos, Boudou - além de tráfico de influências - também se tornou suspeito de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro.
A lei argentina determina que o delito de negociações incompatíveis com a função pública sujeita o autor a condenação de 2 a 6 anos de prisão, além do impedimento total de exercer cargos públicos por entre três e dez anos. Na hipótese de levar o vice ao banco dos réus, o juiz Lijo poderá pedir o fim da imunidade de Boudou. Mas para isso será necessário que o Parlamento remova o privilégio.
O escândalo Ciccone veio à tona em dezembro de 2011, quando investigações revelaram pistas que indicavam que Boudou teria favorecido o empresário Alejandro Vanderbroele, diretor do fundo holandês "The Old Fund", na compra da gráfica, que estava a ponto de falir. Boudou também teria intercedido por intermédio da Receita Federal para salvar a Ciccone do pagamento de pesadas dívidas tributárias.
Depois, Boudou teria favorecido a empresa ao conseguir o contrato para a impressão de notas de 100 pesos, já que a Casa da Moeda não estava conseguindo abastecer a demanda de cédulas. Simultaneamente, Boudou cancelou os planos para modernizar a Casa da Moeda. A companhia foi estatizada em 2012.
Vanderbroele é apontado como testa de ferro do vice. No entanto, Boudou nega qualquer vínculo com o empresário e afirma que nunca o viu. Paradoxalmente, o vice aluga seu apartamento no bairro de Puerto Madero para um sócio de Vanderbroele. O misterioso empresário também pagava o condomínio e a TV a cabo do apartamento de propriedade do vice. A ex-mulher de Vanderbroele diz que ele e Boudou "são amigos desde a juventude". O vice afirma que as acusações são um "ataque mafioso" dos jornais Clarín e La Nación.