Otoniel: traficante colombiano Antonio Úsuga David no tribunal do Brooklyn, ouvindo seu caso após sua extradição da Colômbia, em 5 de maio de 2022 (Agence France-Presse/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 8 de agosto de 2023 às 17h24.
Última atualização em 8 de agosto de 2023 às 17h45.
A Justiça dos Estados Unidos condenou, nesta terça-feira, 8, o traficante de drogas colombiano Dairo Antonio Úsuga David, conhecido como "Otoniel", a 45 anos de prisão por cada uma das três acusações de tráfico de drogas das quais se declarou culpado, embora sejam cumpridas simultaneamente.
A juíza Dora Irizarry, do Tribunal do Distrito Leste de Nova York, no Brooklyn, o sentenciou à pena solicitada pelo Ministério Público alegando que este é "sem dúvida, um dos casos mais graves em termos de atividade de tráfico de drogas" já julgados pelo tribunal.Fique por dentro das últimas notícias no Telegram da Exame. Inscreva-se gratuitamente
Aquele que foi líder supremo do Clã do Golfo (CDG) de 2012 a 2021, uma organização terrorista, paramilitar e de narcotráfico acusada de ser "um dos maiores distribuidores de cocaína do mundo", reconheceu, em janeiro, ter enviado 96,8 toneladas de cocaína para os Estados Unidos pela América Central e México. No entanto, a juíza "acredita" que a quantidade real é muito superior.
Após a sentença, o promotor-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland, disse em uma nota que "o Departamento de Justiça encontrará e responsabilizará os líderes das letais organizações narcotraficantes que causam danos ao povo americano, sem importar onde elas se encontrem e sem importar quanto tempo leve".
De pouco valeu para Otoniel, de barba e visivelmente mais magro do que quando chegou extraditado a Nova York em 4 de maio de 2022, pedir "desculpas ao governo dos Estados Unidos, da Colômbia e às vítimas dos crimes" que cometeu e fazer um apelo a favor do fim do conflito armado e de uma paz negociada em seu país, para abrandar a juíza, que disse, olhando-o nos olhos: "Duvido que se eles não o tivessem parado, ele teria colocado um fim no que estava fazendo".
A condenação inclui pagar US$ 216 milhões (pouco mais de R$ 1 bilhão) em indenização. Também terá de ficar cinco anos em liberdade vigiada. A condenação de Otoniel, de 51 anos, põe fim a uma era de poderosos traficantes que lideraram o tráfico de cocaína da Colômbia, produtora de 90% da cocaína que chega aos Estados Unidos.Antes dele, sentaram no mesmo banco da corte do Brooklyn traficantes como o mexicano Joaquin "Chapo" Guzmán, condenado à prisão perpétua, e Daniel Rendón Herrera, que foi chefe de Úsuga e fundador do CDG, sentenciado a 35 anos de prisão.
Além disso, está previsto que em fevereiro se inicie o julgamento do ex-presidente de Honduras Juan Orlando Hernández, também por tráfico de drogas.
Durante seu "brutal reinado" como líder supremo do CDG, conhecido também como "Los Urabeños", Otoniel recorreu à violência para proteger os membros do clã — que chegaram a ser aproximadamente 6 mil —, silenciar as eventuais testemunhas e atacar as forças de segurança com a ajuda de um "exército de sicários" que "sequestravam, torturavam e matavam os concorrentes e aqueles que consideravam traidores da organização e suas famílias", segundo a Justiça americana.
O promotor Francisco Navarro disse que Otoniel é sem dúvida "o terrorista mais perigoso da Colômbia deste século" e tão perigoso quanto Pablo Escobar, uma das lendas colombianas do tráfico de drogas.
"O acusado", disse Navarro, "não começou com a violência, mas a assumiu e a expandiu", disse.
Já da prisão nos Estados Unidos, após sua extradição, o traficante mostrou seu poder ao iniciar uma represália sangrenta em 11 dos 32 departamentos da Colômbia, na qual morreram cinco pessoas, entre elas dois policiais e um soldado, em ataques a delegacias, bloqueios de estradas e sabotagem do sistema de transporte público.
Após anos fugindo da prisão, Otoniel foi preso em 23 de outubro de 2021 na província de Antioquia, perto da fronteira com o Panamá.
Três diferentes tribunais nos Estados Unidos estavam em seu encalço desde 2009. Quase analfabeto, o colombiano começou sua vida no crime como membro das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), uma organização paramilitar que os Estados Unidos incluíram na lista de organizações terroristas em 2001.
Segundo o DEA, a agência antidrogas americana, o CDG colaborou com os cartéis mexicanos de Sinaloa e Jalisco Nova Geração para introduzir a droga nos Estados Unidos.
A Justiça colombiana também o acusa de homicídio, terrorismo, recrutamento de menores, sequestro e crimes sexuais, entre outros delitos que cometeu quando foi guerrilheiro e paramilitar, antes de se converter no traficante mais procurado da Colômbia.
Nascido em uma família de agricultores do noroeste da Colômbia, Úsuga é acusado de abusar de meninas e adolescentes em suas áreas de influência.
Sua irmã Nini Johana Úsuga, conhecida como "La Negra", também foi extraditada para os Estados Unidos para responder por crimes de tráfico de drogas.